Pedro Alves a colocar câmara de foto-armadilhagem. Foto: Palombar

Visão-americano detectado em cinco rios do Parque Nacional da Peneda-Gerês

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Desde o Verão que uma equipa de conservacionistas está a monitorizar o visão-americano nos rios do Parque Nacional da Peneda-Gerês. O biólogo responsável pelo projecto STOP| VISON disse à Wilder que esta espécie exótica invasora está em expansão e a ameaçar espécies nativas como a lontra ou a toupeira-de-água e o toirão.

 

Graças a mais de 30 câmaras de foto-armadilhagem instaladas em cinco rios do Parque Nacional da Peneda-Gerês – Vez, Froufe, Peneda, Adrão e Castro Laboreiro – e noutros cursos de água e afluentes das imediações, como o rio Mouro e a ribeira de Varziela, sabe-se agora, pela primeira vez, que o visão-americano (Neovison vison) está em expansão nesta região de Portugal.

 

Visão-americano registado no Rio Froufe. Foto: Paul Burton

 

“Até agora não era conhecida a presença desta espécie nestes rios, tão a montante”, comentou hoje à Wilder Pedro Alves, biólogo da Palombar, responsável pelo projecto. O projecto está a completar o mapa da distribuição do visão-americano em Portugal, tendo já concluído que “a área de distribuição é bem maior” do que se pensava e que “a expansão está em curso de Norte para Sul”.

O STOP| VISON, que deverá durar até ao Verão de 2025 e que tem financiamento do Fundo Ambiental, permitiu instalar entre 30 a 35 câmaras de foto-armadilhagem no troço todo dos rios Froufe, Peneda, Adrão e Castro Laboreiro. Apenas no rio Vez as câmaras foram instaladas em 30% da extensão total, no troço inicial, explicou Pedro Alves.

Ao todo, a monitorização está a decorrer em 39,5 quilómetros de rios.

A juntar aos dados fornecidos pelas câmaras de foto-armadilhagem estão os registos “fundamentais” da população local. Nas seis sessões de esclarecimento e sensibilização já realizadas, alguns locais partilharam os seus registos de visão-americano, alguns uma novidade. “Quem ali mora é fundamental para conseguimos identificar este animal em locais que ainda não sabíamos já estarem colonizados”, acrescentou. Tal foi o caso de um morador local que partilhou um vídeo de um visão-americano no rio Adrão e de um outro que partilhou fotografias da espécie a partir da sua casa.

 

Visão-americano registado no Rio Peneda. Foto: Alberto Gil/Palombar

 

“O visão-americano é um animal incrível, mas está no sítio errado”, comentou Pedro Alves. “O visão compete com o toirão por espaço e alimento e preda a toupeira-de-água – espécie que tem visto a sua área de distribuição regredir exponencialmente -, o musaranho-de-água e a rata-de-água, espécies com elevado estatuto de ameaça”, acrescentou.

O visão-americano, espécie nativa dos Estados Unidos e Canadá, foi introduzida em Portugal e é considerada invasora e uma ameaça para a biodiversidade e equilíbrio dos ecossistemas. “O visão-americano exerce atividade predatória sobre espécies nativas e compete com predadores autóctones, como o toirão (Mustela putorius) e a lontra (Lutra lutra). O seu impacto predatório é mais nocivo sobre várias espécies autóctones de mamíferos e aves, alguns com estatuto de ameaça elevado, como a toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus), o musaranho-de-água (Neomys anomalus) e a rata-de-água (Arvicola sapidus). Também preda espécies de peixes ameaçadas, como a enguia-europeia (Anguilla anguilla), a lampreia-marinha (Petromyzon marinus) e o salmão-do-atlântico (Salmo salar)”, segundo a Palombar.

Para 2025 está prevista a utilização de uma ferramenta “que dará uma grande ajuda à monitorização, o DNA Ambiental”, adiantou Pedro Alves. “Através da filtração da água dos rios vamos tentar identificar espécies de peixes, invertebrados, aves, mamíferos e talvez de répteis. Mas o nosso foco será nos mamíferos.”

Por enquanto, com os dados disponíveis ainda não é possível avançar com uma estimativa da densidade de visão-americano nesta área protegida.

Mas já se tornou mais evidente a “necessidade urgente em desenvolver um plano de controlo do visão-americano no único Parque Nacional existente em Portugal”, salientou a Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural, organização que está a desenvolver o projecto.

 

Toirão no rio Castro Laboreiro. Foto: Pedro Alves/Palombar

 

A ameaça das espécies exóticas invasoras, como o visão-americano, é apenas mais uma a juntar a um grupo de ameaças aos rios e ribeiras do país em geral, que vão desde a poluição às alterações climáticas. Em Portugal Continental, a extensão de massas de água doce que não atinge o bom estado ecológico é de 69%, de acordo com o Sistema Nacional de Informação de Ambiente, relativo a 2023. “Olhamos para os rios e sentimos que deve ser feita alguma coisa urgentemente.”

Quanto à Peneda-Gerês, “há uma necessidade urgente de termos um plano para o nosso único Parque Nacional”.

O STOP| VISON insere-se num projecto maior, o projecto Rios e Ribeiras, que está no terreno desde 2022 a restaurar estes habitats na Peneda-Gerês (Alto Minho) e nos rios Sabor e Maçãs (Trás-os-Montes). É um projecto promovido pela Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino, em parceria com a Palombar e com o Instituto Politécnico de Bragança. “O nosso objectivo é restaurar os habitats ripícolas, remover barreiras obsoletas e reduzir os focos de poluição industrial, doméstica e agrícola”, explicou Pedro Alves.

 

Saiba mais aqui sobre o visão-americano com Luís Miguel Rosalino, professor auxiliar na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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