O amieiro (Alnus glutinosa) é uma espécie que encontrou outras estratégias para suportar as temperaturas baixas. É uma árvore de folha caduca cujas flores, formadas no outono, surgem ainda antes da formação das folhas, precisamente na estação mais fria.
Os últimos dias têm sido muito frios, o que pode influenciar o crescimento e o desenvolvimento de muitas plantas. A germinação, floração e frutificação são dos processos mais influenciados pela temperatura ambiente. Contudo, a influência da temperatura em cada um destes processos, varia de espécie para espécie.
As plantas continuam a surpreender-nos. Algumas são mais resistentes às temperaturas baixas do que outras. As suas estratégias para superarem condições adversas são únicas.
Daí existirem plantas menos resistentes ao frio que optam por se manter “adormecidas” durante o inverno, armazenando substâncias de reserva nos seus órgãos subterrâneos – rizomas, bolbos, tubérculos ou sementes para, assim que as condições meteorológicas sejam mais favoráveis, iniciarem o processo de formação de novas folhas, flores e frutos.
As mais resistentes mantêm a sua estrutura durante todo o ano, ainda que algumas possam perder as folhas durante os meses mais frios, reduzindo a sua atividade e evitando desperdício de energia. Estas são as espécies de folha caduca, espécies que ficam em estado latente durante o inverno e que, quando a temperatura sobe, começam a desabrochar novas folhas ou flores.
Já as espécies de folha persistente, cujas folhas se mantém na árvore durante todo o ano, geralmente apresentam uma forma cónica. Esta forma da copa serve para que a neve possa escorregar sobre a planta sem partir os seus ramos, já que muitas destas espécies coabitam em regiões que neva.
O amieiro (Alnus glutinosa) é uma espécie que encontrou outras estratégias para suportar as temperaturas baixas. É uma árvore de folha caduca cujas flores, formadas no outono, surgem ainda antes da formação das folhas, precisamente na estação mais fria.
O amieiro
O amieiro é uma espécie nativa da família das Betulaceae, a mesma a que pertence a bétula e a aveleira, outras espécies espontâneas em Portugal.
É uma árvore de médio porte, que raramente ultrapassa os 25 metros de altura, de copa ampla e arredondada. O tronco destas árvores é bastante característico, sobretudo nos exemplares mais jovens. A casca é lisa e acinzentada mas vai ficando castanho-escura e formando gretas longitudinais com o passar do tempo.
As folhas são simples, ligeiramente arredondadas e com o vértice chanfrado – apresenta um pequeno entalhe. São viscosas e de cor verde-escuro brilhante na página superior e verde mais claro na página inferior, onde também são visíveis pelos amarelos nas axilas das nervuras.
É uma espécie monóica, com flores masculinas e femininas na mesma planta e agrupadas em inflorescências. As flores masculinas formam amentilhos – género de espiga alongada, com uma forma cilíndrica, compridos e de cor púrpura durante o inverno e verde na primavera. As flores femininas são agrupadas em amentilhos ovóides, lenhificados, que fazem lembrar pequenas pinhas, de cor vermelho-púrpura, que se tornam verdes na primavera e castanhas depois de ocorrer a fecundação. A formação das inflorescências inicia-se no outono e a floração é regular, abundante e ocorre entre janeiro e março, antes do surgimento das folhas.
Os frutos são pequenos, ovóides, de cor castanho-avermelhado e muito viscosos. A maturação dos frutos ocorre no outono, altura em que dispersam inúmeras sementes, que são facilmente transportadas ao longo dos cursos de água.
Espécie ripícola
O amieiro ocorre naturalmente na Europa, noroeste de África e oeste da Ásia. Em Portugal encontra-se em quase todo o território, sendo mais raro a sul e nas zonas de alta montanha.
Classificado como uma espécie ribeirinha ou ripícola, o amieiro tem como habitat preferencial as margens dos cursos de água permanente – rios, ribeiras, lagos e locais inundados ou bastante húmidos.
Cresce bem em zonas de clima temperado húmido, preferencialmente de baixas altitudes. É uma espécie de luz plena, tolerante às grandes variações de temperatura e aos ventos. Prefere solos ácidos ou neutros, pobres em calcário, ligeiramente pesados, desde que com humidade constante.
Algumas características muito particulares do amieiro são responsáveis pela sua designação científica. O nome do género Alnus é o nome clássico, em latim, dado ao Amieiro, mas que deriva do céltico “al” e “han” que significa “próximo da água”. A designação glutinosa provém do latim glutinosus-a-um, que significa “pegajoso” ou “viscoso”, devido à viscosidade presente nos ramos, gomos, frutos, etc.
Simbioses
O amieiro é uma espécie colonizadora, ocupando áreas onde muitas outras espécies não se conseguem estabelecer e tem um papel muito importante na fixação e consolidação das margens das linhas de água, protegendo-as contra a erosão. Isto ocorre devido às suas raízes poderem permanecer submersas por longos períodos, sem que isso afete o seu desenvolvimento.
Uma outra razão para que isto aconteça, deve-se ao facto de a partir das suas raízes, o amieiro estabelecer uma relação de simbiose, ou seja, de benefício mútuo com uma bactéria filamentosa do Frankia existente no solo que tem a capacidade de captar o azoto atmosférico. Esta relação ocorre pela formação, nas raízes, de nódulos dessas bactérias, o que origina, na envolvência da árvore, um solo rico em azoto, possibilitando-lhe a fixação direta de azoto atmosférico e assim crescer em solos pobres, quase sem matéria orgânica.
Esta espécie, resistente à poluição atmosférica, tem um crescimento rápido mas uma curta longevidade, raramente atinge os 120 anos. Tem interesse ornamental, preferencialmente ao longo das linhas de água, em terrenos húmidos e encharcados. É muito utilizada para formar barreiras corta-vento e como barreira natural contra a erosão. Serve de abrigo à fauna terrestre e aquática, além de ser uma importante fonte de alimento de inúmeras espécies de insectos e pequenas aves.
Além da elevada importância ecológica, o amieiro apresenta outras aplicações interessantes. As folhas jovens e viscosas e a casca da árvore possuem várias propriedades farmacológicas, sendo utilizadas em diversos tratamentos. Devido à sua resistência à água, a madeira é utilizada no fabrico de móveis, tamancos, brinquedos e diversos utensílios domésticos (colheres, vasos, etc.).
Deixo-vos esta sugestão, no vosso próximo passeio junto às margens de um rio, ribeiro, ou outro curso de água com árvores em volta, procurem esta espécie muito particular, que apesar de estar “meio adormecida” continua a ter um papel muito importante do ponto de vista ecológico. Já agora, se encontrarem uma galeria ou bosque ripícola, com várias exemplares desta espécie, estarão num ameal.
Todas as semanas, Carine Azevedo dá-lhe a conhecer uma nova planta para descobrir em Portugal. Encontre aqui os outros artigos desta autora.
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