Todas as árvores que possuem importância estética são consideradas árvores ornamentais, além de terem um valor funcional. Isso significa que com a presença delas, um ambiente pode ficar mais bonito.
Estas árvores são usadas não só em jardins, mas principalmente em áreas públicas como parques, ruas, clubes e outras.
A aveleira (Corylus avellana), cultivada em Portugal pela semente comestível – a avelã – não é normalmente vista em jardins e espaços verdes; no entanto, os seus ramos retorcidos com pelos avermelhados, a folhagem e os amentilhos coloridos tornam-na numa espécie ornamental singular.
A aveleira
A aveleira é uma árvore de pequeno porte, de 4 a 5 metros, que pode atingir até 8 metros. Tem uma copa irregular e geralmente bastante ramificada desde a base.
A sua casca é avermelhada, brilhante e lisa quando jovem, tornando-se ao longo do tempo acinzentada, gretada e com lentículas castanho-claras – zonas onde a casca é mais porosa e através das quais penetra o ar, permitindo as trocas gasosas com o exterior nos exemplares mais velhos.
Esta árvore, de folha caduca, pertence à família das Betulaceae. As folhas são simples, suborbiculares e cuspidadas, ou seja, apresentam uma forma quase esférica e a extremidade é bastante resistente e aguçada. São verde-amareladas e pubescentes nas duas faces, quando jovens, perdendo o indumento na página superior com o passar do tempo.
A aveleira floresce entre janeiro e março. É uma espécie monóica – as flores masculinas e femininas surgem na mesma planta, agrupadas em inflorescências. As flores masculinas formam amentilhos compridos, suspensos, verde-amarelados, e as flores femininas são agrupadas em glomérulos – inflorescências em que as flores, de pedúnculos curtos, formam um aglomerado globoso com crescimento limitado, e nas quais em cada ramo florífero se forma uma flor. As flores femininas são facilmente reconhecidas no momento da floração, porque formam tufos de estigmas de cor vermelho-vivo.
O fruto da aveleira é uma glande, envolvida por um invólucro foliáceo duro, formado por brácteas soldadas e peludas, que quase oculta e protege a semente – a avelã. As avelãs têm forma esférica a ovada e cor verde quando jovens e castanho-amarelado quando maduras. Amadurecem no outono e surgem dispostas de 1 a 5 na extremidade dos raminhos.
A aveleira frutifica a partir dos 8 a 10 anos, sendo apenas a partir dos 15 anos que o faz com regularidade. Tem uma reduzida longevidade, pois raramente ultrapassa os 50 anos.
Elevada amplitude ecológica
Esta espécie ocorre espontaneamente em quase toda a Europa e Ásia Ocidental. Em Portugal é comum nas zonas montanhosas do Norte e Centro, podendo encontrar-se raramente a sul do rio Tejo.
Com uma elevada amplitude ecológica, a aveleira desenvolve-se bem tanto em zonas de vale como em bosques húmidos e sombrios, margens de cursos de água, planícies e montanhas. É uma espécie de meia-luz, embora também se desenvolva em zonas de luz plena. Adapta-se bem a diversos tipos de solos, desde que sejam frescos, profundos e ricos em nutrientes. Não é muito exigente em relação ao pH do solo e necessita de humidade atmosférica constante. É geralmente cultivada isoladamente no sub-bosque de carvalhais das zonas húmidas. Tem uma grande resistência ao frio, no entanto é muito sensível à seca.
Esta espécie é muito valorizada pela semente comestível crua ou tostada, usada na culinária, sobretudo no fabrico de doces. As avelãs são muito energéticas, possuem um alto teor de gorduras, proteínas e vitaminas B1 e C, sendo usadas no fabrico de leite, manteigas, pastas, chocolates, entre outros.
A avelã também apresenta algumas propriedades medicinais interessantes. Alguns registos indicam que a ingestão de duas a três avelãs por dia ajuda a baixar o nível de colesterol no sangue. Ajudam à manutenção de músculos saudáveis e a diminuir o peso.
As folhas da aveleira, utilizadas em infusões, têm propriedades antipiréticas e depurativas, sendo também utilizadas externamente em compressas, como cicatrizante. As folhas também terão sido utilizadas na medicina popular pelas suas propriedades de tónico circulatório. O óleo de avelã também é muito usado como cosmético no cuidado da pele e do cabelo.
As avelãs silvestres, mais pequenas e em menor quantidade que as cultivadas, são mais saborosas e são parte importante na dieta de muitos roedores, o esquilo, por exemplo. As folhas são uma boa fonte de alimento para as larvas de alguns insectos.
A madeira da aveleira é bastante dura, pesada e de diâmetro reduzido, sendo utilizada para o fabrico de cabos de ferramentas e bengalas. É também, juntamente com as suas raízes, um bom combustível, servindo como carvão vegetal. Devido à flexibilidade dos ramos mais finos, também é usada em cestaria e tanoaria.
Árvores ornamentais
A sua designação científica é curiosa. O género Corylus provém do antigo termo grego Kóris, que significa “capacete” em referência ao invólucro membranoso que protege a avelã. O restritivo específico avellana deriva do nome da cidade de Avella, perto de Nápoles (Itália). Esta região é conhecida desde o tempo dos romanos pela grande produção de avelãs.
Muitos são os mitos associados à aveleira. Os povos nórdicos e germânicos atribuem-lhe o dom da fertilidade, sendo usados raminhos de aveleira nos rituais de casamento. Os celtas consideram-na fonte de sabedoria. Segundo a lenda, quem bebesse água do “Poço de Segais” ou das suas correntes de água, que se encontravam rodeadas por aveleiras sagradas, adquiria o conhecimento pleno de todas as artes e ofícios.
Na Europa foi usada como símbolo de Justiça. Usava-se um ramo de aveleira, em forma de Y, para determinar se uma pessoa era culpada ou inocente de um roubo ou de um homicídio. Seguravam-se as duas pontas curtas do ramo com as mãos e apontava-se com o extremo mais longo para o acusado. O sentido da oscilação do ramo determinava a sentença. Este ramo era considerado mágico, sendo também utilizado para procurar ouro e água no solo.
Os gregos consideravam-na a árvore da reconciliação. Também havia quem acreditasse que era símbolo de proteção e de orientação. Era comum os caminhantes usarem a sua madeira como bastão, nas suas viagens, uma vez que ficavam protegidos contra assaltantes e eram orientados nos cruzamentos.
Mitologia à parte, a aveleira pode ser empregue como elemento decorativo de um jardim.
A sua copa irregular e a sua grande ramificação fazem dela uma árvore ornamental, ideal para dar sombra. Além disso é uma árvore que se transforma ao longo das estações. No outono, as suas folhas mudam de verde a avermelhadas-amarelas antes de caírem. Os seus ramos contorcidos ficam visualmente deslumbrantes no inverno e são uma autêntica obra de arte natural.
No final do inverno e ao longo da primavera, os ramos nus enchem-se de flores singulares pela forma e de cores verde-amareladas a avermelhadas, seguidas das folhas e dos frutos que os compõem na estação seguinte.
A aveleira pode não ser uma árvore comum nos nossos espaços públicos, mas esta espécie nativa tem uma beleza ímpar que a torna merecedora de um lugar em qualquer espaço verde de uma cidade ou de um jardim. Conhecem alguma perto de vocês?
Todas as semanas, Carine Azevedo dá-lhe a conhecer uma nova planta para descobrir em Portugal. Encontre aqui os outros artigos desta autora.
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