O que andam a fazer as vespas asiáticas nesta altura do ano? A Wilder falou com Maria João Verdasca, bióloga que está a investigar esta espécie invasora em Portugal.
É no Outono, entre os meses de Setembro e Novembro, que surgem os adultos reprodutores da vespa asiática – tanto os machos como as fêmeas. “É nesta época do ano que ocorrem os acasalamentos”, descreve Maria João Verdasca, do cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
A vespa asiática (Vespa velutina) é, das espécies invasoras de insectos, a mais conhecida em Portugal. Terá chegado ao país em 2011 pela região de Viana do Castelo. Hoje, “já está estabelecida ao longo de uma faixa contínua desde o Norte até à região de Lisboa”, tal como noutros países da Europa.
É por estes meses que “as fêmeas que são fecundadas, futuras rainhas fundadoras, acabam por dispersar e procurar um local abrigado”. Encontram refúgio em “buraquinhos de árvores, debaixo de pedras, no solo, para hibernarem durante os meses de Inverno, para que na Primavera seguinte cada uma possa dar início a uma nova colónia”, explica a investigadora.
A vespa asiática é um insecto social e as colónias organizam-se em classes diferentes: rainha, machos e obreiras, estas últimas estéreis. E a rainha de um só ninho “pode produzir centenas de vespas fundadoras [futuras rainhas] para o ano seguinte”. “Uma média entre as 200 e as 400!”, nota Maria João Verdasca.
É verdade que algumas vespas não conseguem acasalar ou não sobrevivem aos rigores do Inverno, admite, “mas com números desta grandeza o potencial de expansão da espécie em zonas climaticamente favoráveis é enorme.”
Fim de ciclo, início de um novo
As obreiras, os machos e a rainha desse ano acabam por morrer com a chegada dos dias mais frios. Ao longo dos próximos meses, o ninho que foi construído em pasta de papel acabará também por desintegrar-se devido à chuva.
“Só as vespas fecundadas irão hibernar e sobreviver ao Inverno”, indica esta investigadora. “Por volta de Fevereiro ou Março, com a chegada do tempo mais ameno, as vespas saem da hibernação. Nesta fase a actual rainha está completamente sozinha a desempenhar as suas tarefas de construção do ninho primário, a colocação dos seus primeiros ovos e a alimentação das primeiras obreiras do ano que eclodirem.”
Serão estas primeiras obreiras que ajudam depois a capturar as presas para alimentar as larvas que estão dentro do ninho. São também “responsáveis pela construção do ninho secundário que irá permitir o alargamento da colónia”, enquanto “a rainha passa a dedicar-se a apenas a pôr os ovos”.
Machos e fêmeas são praticamente iguais em tamanho e na cor, mas os primeiros têm antenas mais grossas e não têm ferrão. E entre a rainha e as obreiras? “É difícil fazer a distinção, sendo que as obreiras são geralmente mais pequenas. Dentro da colónia a rainha pode ser reconhecida por ter o abdómen mais distendido, e no final da época por poder apresentar as asas danificadas.”
E a Vespa crabro?
De patas amarelas, tórax negro aveludado e um abdómen com uma faixa laranja característica – descreve também Maria João Verdasca – a vespa asiática é “um pouco mais pequena que a Vespa crabro“. Esta última, que é uma espécie nativa, é “mais amarelada e com patas pretas” e muitas vezes injustamente confundida com a primeira.
Curiosamente, para ambas “todo o ciclo de vida é semelhante” – enquanto noutras espécies de vespas, “o padrão mantém-se com um ciclo de vida tipicamente anual.”
Ainda assim, apesar de algumas semelhanças, “a vespa asiática é muito mais efectiva na predação que exerce sobre os apiários, com o consequente impacto na atividade apícola”, sublinha a bióloga do cE3c.
E na verdade não é mais agressiva do que a Vespa crabro, mas “como constrói ninhos que abrigam um número muito maior de indivíduos, acaba por constituir um perigo para a saúde pública.” Cada ninho pode chegar a ter “entre 80 centímetros a um metro de diâmetro, com milhares de vespas no seu interior!”, nota a investigadora, que lembra que as vespas asiáticas “reagem em grande número sempre que sentem o seu ninho ameaçado”.
Descubra mais artigos sobre o Outono já publicados na Wilder, aqui.