A Wilder falou com Ana Sá, bióloga na Tapada Nacional de Mafra, que descreve o que fazem estas grandes águias por estes dias, em Novembro.
Desde há muitos anos que a bióloga Ana Sá, que trabalha nos serviços educativos da Tapada Nacional de Mafra, observa o casal de águias-de-bonelli (Aquila fasciata) que ali faz ninho. Este é um dos cerca de 16 casais hoje conhecidos na Grande Lisboa desta espécie classificada Em Perigo de extinção, em Portugal, e que até 2025 estão a ser acompanhados pelo projecto LIFE LxAquila.
Por esta altura estas águias de grande porte, também conhecidas como águias-perdigueiras, estão a dar os primeiros passos para a época mais importante do ano, a época de reprodução. Tratando-se de uma espécie monogâmica, macho e fêmea costumam ficar juntos para a vida, a não ser que aconteça algum percalço.
Na Tapada de Mafra, durante estas semanas “o casal começa a frequentar mais intensamente a área envolvente ao ninho, depositando alguma vegetação no seu interior, embora ainda pontual”, relata Ana Sá. As aves desta espécie costumam ter mais do que um ninho, escolhendo a cada ano qual será aquele onde vão ter as crias.
Quanto a isso, este casal de águias não é diferente. Existem para já dois ninhos de águia-de-bonelli dentro dos mais de 800 hectares murados da Tapada de Mafra, ambos assentes sobre pinheiros-mansos de grande porte, árvores que “já terão 50 ou 60 anos de idade”, descreve a bióloga. Esta espécie também constrói os seus ninhos em escarpas – como acontece por exemplo no Douro Internacional, junto à fronteira com Espanha – mas a sul do Tejo costuma nidificar em árvores. E é agora, entre Outubro e Novembro, que os casais tratam de reconstruir o ninho que escolheram para a próxima época de reprodução.
“Vão depositando umas folhinhas, uns raminhos, tanto de pinheiros como de eucaliptos e de carvalhos”, indica Ana Sá, que explica que o ninho está colocado sobre a zona onde as copas dos pinheiros-mansos se bifurcam. E um facto curioso: como ali vão sendo depositados mais restos de vegetação a cada ano que passa, os ninhos acabam por ficar enormes.
Foi o que constataram os técnicos que há cerca de dois anos instalaram por cima de um dos ninhos uma pequena câmara escondida, chamada de ‘nest cam’ (câmara de ninho em português) e que calcularam que aquele terá agora “uma altura de três a quatro metros”. “Todos os trabalhos deste género costumam ser realizados fora da época de reprodução, para não haver efeitos negativos”, nota Ana Sá, até porque é muito importante não haver pessoas a perturbarem as aves quando chegar essa altura do ano.
Voos acrobáticos e nupciais
Mas os sinais de que a fase de acasalamento das águias-de-bonelli se está a aproximar vêem-se também de outra forma. Nos locais onde a espécie nidifica, podemos ter sorte se vigiarmos atentamente o céu, pois é agora que os casais realizam as paradas nupciais.
“São voos acrobáticos que duram algumas semanas. As duas águias empurram-se, tocam com as asas uma na outra, fazem círculos e acrobacias”, detalha Ana Sá. “Parece que se estão a atacar uma à outra.” Mas não, na verdade estão em fase de namoro.
Depois de macho e fêmea finalmente acasalarem, dentro de algumas semanas, “começam a reconstruir o ninho mais a sério” e a ficar mais tempo nessa área. “Na altura, já estarão a dormir em árvores vizinhas.” E se tudo correr bem, a postura dos ovos – um ou dois, habitualmente – costuma acontecer em Fevereiro.
Saiba mais.
Saiba o que os investigadores ficaram a saber recentemente sobre a águia-de-bonelli, graças à câmara escondida montada junto ao ninho da Tapada de Mafra, no âmbito do projecto LIFE LxAquila. E recorde também sete curiosidades sobre esta espécie, que foi a Ave do Ano 2018 para Portugal.
E finalmente, prepare-se para começar a seguir online essas filmagens dentro de algumas semanas, aqui, quando a nova época de reprodução já estiver mais adiantada.