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Parque Icnológico de Penha Garcia

Na Rota dos Fósseis em Penha Garcia

06.06.2018

A leitora da Wilder Fernanda Gamito ficou impressionada com a paisagem da Rota dos Fósseis, em Penha Garcia. Aqui fica a sua experiência do passeio para o inspirar a pôr pés ao caminho. 

 

Lá nas alturas está Penha Garcia. A esta hora, as ruas estão quase desertas. São seis da tarde e “Big”, um dos dois cães da aldeia, segue feliz e diligente à nossa frente. Leva-nos ao castelo, ou ao que resta dele, a torre arruinada da antiga fortaleza que cercava o burgo, de onde se avista quase tudo: a Sul, o monte-ilha de Monsanto e planícies até à linha do horizonte, onde estará Idanha-a-Velha; a Norte, a barragem e as escarpas da Serra de Penha Garcia.

 

Castelo de Penha Garcia

 

Do lado da Serra da Estrela corre um ventinho nada convidativo a passeios. “Big” começa a descer pelo caminho que passa ao lado do castelo, entusiasmado. Sabe ao que viemos e fica decepcionado quando hesitamos. A “Rota dos Fósseis” terá de ficar para amanhã, “Big”.

A manhã chega luminosa e nas mesmas ruas quase desertas há mais sinais de vida: uma obra aqui, um carro que passa ali, uma família espanhola que veio mirar o castelo. Vamos descendo o caminho indicado na véspera.

 

Parque Icnológico de Penha Garcia

 

No início, os protagonistas do passeio são os musgos, os líquenes verde fluorescentes, as flores primaveris e as curiosas folhas dos conchelos (Umbilicus rupestris). Mas logo a imponência das rochas verticais domina a paisagem: as camadas quartzíticas levantadas a pique que foram fundos oceânicos na noite dos tempos.

 

Parque Icnológico de Penha Garcia

 

Já se avista o Rio Pônsul que se escondia até agora, encaixado no vale. E cá estão as “cobras pintadas”, como são popularmente conhecidas as Cruziana, os fósseis que afinal não são fósseis. Ou melhor, não são só fósseis, mas sim icnofósseis, rastos das trilobites e de outros seres marinhos, deixados nos fundos quando os revolviam, à procura de alimento.

 

Icnofósseis Cruziana. Ilustração: Joana Martins, filha de Fernanda Gamito que a acompanhou no passeio

 

Quase nos sentimos no Parque Jurássico, não fosse o caso destes bicharocos aparentados com os crustáceos terem vivido 240 milhões de anos antes dos dinossauros.

Voltamos aos rastos dos homens. Aqui estamos nós, 480 milhões de anos depois, saltando de pedra em pedra, de xisto em xisto, do passado para o presente, quando, de baixo, alguém nos chama. É Domingos, o guarda dos moinhos de rodízio, que nos indica o caminho: “Se vierem agora, que não há mais ninguém, vêem tudo melhor.”

E vimos tudo. Os quatro moinhos recuperados dos mais de vinte que existiram neste vale, as casas de moleiro mesmo ao lado, os objectos do quotidiano deixados para trás, as paredes de pedra com estampas do sagrado coração de Jesus, vigiando. “Dormiam aqui, por vezes, junto das mós”, conta Domingos que é da terra e sabe da vida de antigamente. Num dos moinhos, está a “Casa dos Fósseis”, uma pequena exposição pedagógica sobre a Era Paleozoica e os seres mais ilustres desses tempos, as trilobites.

 

Complexo moageiro de Penha Garcia- Vale do Pônsul

 

Domingos já tem outros visitantes para guiar e nós vamos seguindo o caminho. Cascata, piscina natural, mais moinhos, alguns arruinados, o som constante da água a correr, o cheiro da hortelã-brava esmagada debaixo dos pés e agora a subida, já que primeiro houve descida.

No carreiro antigo de pedras gastas, outra vez nas alturas, emergimos de uma viagem no tempo. Daqui, mal se vislumbram os moinhos, tão pequenos, lá em baixo. Os visitantes já não se distinguem e os caminhos cruzados das trilobites desvaneceram-se há muito.

Vista de Penha Garcia, a Terra é uma imensidão.

 

Para saber mais sobre a “Rota dos Fósseis”:

A Rota dos Fósseis é um percurso pedestre de pequena rota (3 Km) por caminhos tradicionais, atravessando o Parque Icnológico de Penha Garcia e o Complexo Moageiro de Penha Garcia (núcleo museológico do Município de Idanha a Nova). Toda a área está ainda classificada como Biótipo CORINE (o Biótipo da Serra de Penha Garcia).

O Parque Icnológico faz parte do Geoparque Naturtejo da Meseta Meridional, o primeiro geoparque português a integrar a rede UNESCO.

Os exemplares de Penha Garcia de Cruziana Rugosa são fósseis raros e, segundo o paleontólogo Adolf Seilacher, dos melhores do mundo: “Em nenhum outro local, estes icnofósseis se encontram tão bem expostos, tão bem preservados e são tão diversificados como em Penha Garcia”.

  

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Se, durante um passeio ou no caminho para o emprego, encontrar algo do mundo natural que o tenha marcado ou chamado a atenção, envie-nos o seu testemunho ([email protected]) – um breve texto com fotografias – para inspirar outras pessoas.

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