Foto: Pixabay CCommons

Mosquito-tigre-asiático: Ajude os cientistas a saberem em que locais se encontra

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Carla Sousa, investigadora ligada ao projecto de ciência cidadã MosquitoWeb, explicou à Wilder que é importante detectar os locais onde este mosquito chegou antes que aumente o frio, pois dessa forma será possível ter atenção ao seu reaparecimento e tomar medidas atempadas.

Em Setembro, o anúncio da chegada a Lisboa do mosquito-tigre-asiático (Aedes albopictus) surgiu de surpresa, comunicado pela Direcção-Geral-de-Saúde. Este insecto nativo de regiões do Sudeste Asiático e do Pacífico Ocidental tem sido fonte de grandes preocupações em vários países da Europa, pois pode transportar organismos que transmitem doenças como chikungunya, dengue, febre-amarela e Zika.

O aumento de observações deste mosquito razoavelmente pequeno, com menos de um centímetro, já era previsto pela comunidade científica. Hoje em dia conhecido em mais de 20 países europeus, incluindo Itália, França e Espanha, há seis anos que o mosquito-tigre-asiático foi registado pela primeira vez em Portugal continental. Primeiro em Penafiel, no Norte, e em Loulé, no Algarve; mais recentemente em Mértola; finalmente, em Setembro passado, em Lisboa.

Ainda assim, quanto à presença de vírus nestes mosquitos e à possível transmissão dessas doenças, para já isso não foi detectado em Portugal. Carla Sousa, investigadora ligada ao Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova, explica que são necessários vários factores conjugados para que tal aconteça. “O conjunto de condições necessárias para a transmissão de doenças como a dengue ou a chikungunya é relativamente complexo”, descreveu, num artigo publicado em 2022 na Wilder

Desde logo, é necessário que no mesmo local e ao mesmo tempo estejam presentes três condições:

– em primeiro lugar, a presença de um mosquito-tigre-asiático, nomeadamente a fêmea, pois é ela que pica os humanos;

– é igualmente essencial “um hospedeiro humano portador do vírus em estado de ser transmitido ao mosquito”, que poderá ser “por exemplo um viajante proveniente de um local com um surto da doença”;

– em terceiro lugar, são necessárias também “condições ambientais que permitam o vírus desenvolver-se no mosquito”. 

“De qualquer modo, a picada desta espécie é por si só bastante desagradável, mais do que a da maioria dos outros mosquitos, e o melhor mesmo é não arriscar”, salienta a mesma responsável.

Viu um mosquito-tigre-asiático? O que fazer

Apesar de não terem sido encontrados mosquitos portadores de vírus preocupantes em Portugal, isso já tem acontecido noutros países europeus, onde foram detectados casos de pessoas que contraíram essas doenças nas zonas onde moram.

Em países como Croácia, Espanha, França e Itália, houve casos de dengue associados à presença do mosquito-tigre-asiático; em França e Itália houve também situações de chikungunya, uma doença viral caracterizada por febre altas e dores nas articulações. Este mosquito é também considerado um vetor potencial do vírus Zika. 

E por isso, todos os cuidados são poucos. Carla Sousa apela a que as observações sejam comunicadas tão depressa quanto possível ao projecto de ciência cidadã MosquitoWeb.pt, pois é uma forma de detectar a chegada deste insecto a novos locais. “Mosquitos mortos ou registos fotográficos passíveis de serem relevantes podem ser submetidos para estudo através da plataforma MosquitoWeb.pt“, sublinha a investigadora.

“Se o tempo arrefecer a densidade do mosquito ativos irá baixar. Daí a necessidade da maior cobertura possível de território para identificar possíveis novas localizações do mosquito antes da chegada do frio”, sublinha esta cientista. Depois das temperaturas baixarem, só se voltará a registar a “presença inequívoca” desta espécie “na próxima Primavera” ou “num período razoavelmente longo de temperaturas agradáveis”.

Estes mosquitos relativamente pequenos caracterizam-se por apresentarem patas com bandas de duas cores, pretas e brancas, e uma lista branca que se evidencia no dorso, prolongando-se até à cabeça. 

Pneus usados e plantas ornamentais

Mas será que o mosquito-tigre-asiático chegou a Lisboa a voar? Na verdade, ninguém sabe ainda, mas é mais provável que tenha chegado à capital portuguesa à boleia de produtos importados de outros países. Ou então, “de viajantes que visitaram as zonas de Portugal onde estes mosquitos já estão bem instalados, como por exemplo o Algarve ou diversas regiões de Espanha”, explica a investigadora do Instituto de Higiene e Medicina Tropical. 

Estando este mosquito presente em todos os continentes do mundo excepto a Antártida, acredita-se que “o sucesso desta dispersão deriva largamente da ação das redes de comércio global, onde os seus ovos são frequentemente transportados de forma passiva em pneus usados e plantas ornamentais”.

No Norte do país, por exemplo, os cientistas identificaram a espécie junto a uma fábrica de recauchutagem na zona de Penafiel, pelo que a sua chegada estará relacionada com a importação de pneus vindos de outros países europeus onde este mosquito já marca presença. Quanto a outros pontos de Portugal, não se sabe como aconteceu.

Cuidados a ter

Para já, além do registo na plataforma MosquitoWeb.pt, qualquer pessoa pode ajudar no controlo de populações de mosquito-tigre-asiático (e de outros mosquitos) com algumas precauções bem simples. 

Desde logo, “evitar ter recipientes domésticos e peridomésticos (à volta das habitações) que acumulem água estagnada, como os pratos que se colocam debaixo dos vasos para flores, bebedouros de animais, recipientes de plástico ou qualquer outro material que possa acumular água”, sublinha Carla Sousa.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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