A 24 e 25 de Janeiro, mais de 500.000 pessoas vão contar as aves que virem nos seus jardins, varandas e beirais. Este é um dos maiores censos mundiais de vida selvagem, o “Big Garden Birdwatch”, organizado há 36 anos pela Royal Society for Protection of Birds (RSPB) no Reino Unido.
Uma semana antes do grande evento, os moradores e funcionários do lar para séniores Perry Manor, na cidade inglesa de Worcester, receberam binóculos e guias de identificação e instalaram alimentadores para aves, noticia o jornal local “Worcester News”. “Estar sentado a ver o rodopio das aves no jardim depressa se torna um interesse partilhado pelos residentes e ajudar a limpar e encher os alimentadores pode ser muito gratificante”, disse ao jornal Mike Dearn, o gestor do lar.
Um pouco por todo o país ultimam-se os preparativos para a observação da vida selvagem.
Os cidadãos registam-se no site da RSPB antes do evento, escolhem uma hora naquele fim-de-semana para observar e registar as aves no seu jardim ou num espaço verde próximo e depois submetem os resultados pela Internet ou por correio.
No ano passado, foram registadas 7.274.159 aves, sendo o pardal a espécie mais observada. Fazem ainda parte do “top ten” o chapim-azul, estorninho, melro, pombo-torcaz, tentilhão, pintassilgo, chapim-real, rola-turca e o pisco-de-peito-ruivo.
“As populações de aves são um óptimo indicador da saúde do nosso campo”, diz-nos Harry Bellew, da RSPB, a partir da sede da organização na reserva natural The Lodge, em Bedfordshire. “Ao participar em censos como este, as pessoas estão a ajudar-nos a estar a par dos altos e baixos da vida selvagem onde vivemos”.
“É graças a estas pessoas que conseguimos monitorizar tendências, compreender de que forma as aves estão a aguentar-se e a tomar medidas para melhorar as coisas”, conta Bellew. “Quanto mais pessoas se envolverem no Birdwatch, mais a RSPB pode aprender. Isto vai-nos permitir ter uma imagem melhor do estado da natureza em todo o país e a encontrar formas de ajudar a dar uma casa à natureza que precisa de mais ajuda”.
Desde 2014 que não se contam só as aves
No ano passado, e pela primeira vez, a RSPB pediu aos participantes para procurarem outras espécies selvagens: esquilos-vermelhos, esquilos-cinzentos, texugos, ouriços-cacheiros, raposas e corços. Este ano foram acrescentados à lista os licranços e as cobras-de-água.
O Big Garden Birdwatch faz parte do projecto-bandeira da RSPB, “Giving Nature a Home”, para combater as ameaças à vida selvagem naquele país. “Pedimos às pessoas para providenciarem um local nos seus jardins para a vida selvagem, seja ao plantar espécies ricas em pólen para atrair abelhas e borboletas, ou instalar uma caixa-ninho para um pardal ou ainda criar um charco para inúmeras espécies”, acrescenta a organização em comunicado.
“Este censo mostra como são importantes os nossos jardins para uma variedade fantástica de vida selvagem”, explica Daniel Hayhow, cientista a trabalhar na RSPB. “Acrescentar os licranços e as cobras-de-água à lista é um grande passo para recolher mais informação que nos ajude a identificar as mudanças na distribuição das espécies ao longo do tempo”, disse ainda.
Alguns dados com o que se descobriu até agora:
Pardal-doméstico: apesar de ter ficado em 1º lugar em 2014, a espécie está listada como ameaçada no Reino Unido; a sua população caiu 62% desde 1979.
Estorninho-comum: os seus números caíram 84% desde 1979 e a RSPB está a tentar encontrar as razões deste declínio.
Tordo: a espécie registou um decréscimo de 81%.
Sapos: apesar de serem mais comum nas zonas rurais, 57% dos participantes do censo de 2014 viram estes animais nas cidades.
Ouriço-cacheiro: 67% dos participantes em 2014 observaram esta espécie nos seus jardins, apesar do grave declínio das populações no país.
[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.
Se o “Big Garden Birdwatch” é só para quem vive no Reino Unido, não faltam em Portugal oportunidades para fazer a sua parte no registo da vida selvagem. Aqui ficam algumas contagens onde você faz falta:
Dia da Águia-pesqueira: 24 de Janeiro
Registo de musgos e líquenes: até ao final de Janeiro
Contagens de Aves no Natal e Ano Novo: de 15 Dezembro a 31 de Janeiro
Projeto Arenaria – Distribuição e Abundância de Aves nas Praias e Costas de Portugal: de 1 de Dezembro a 31 de Janeiro
Noctua-Portugal (Monitorização de Aves Noturnas): de 1 de Dezembro a 15 de Junho
Registos de esquilo-vermelho em Portugal: este projecto decorre todo o ano
Projecto 12 meses, 12 plantas: a espécie a cartografar em Janeiro é o alecrim