O leitor Jim O’Connell contactou a Wilder para saber se o ouriço que os visita quase todas as noites num parque de campismo do Algarve não deveria estar a hibernar nesta estação do ano. Vera Marques e Ricardo Brandão respondem.
“Estamos num parque de campismo no Algarve. Um ouriço-cacheiro vem aqui perto de nós quase todas as noites. Temos-lhe deixado alguma comida de gato. Mas não deveria estar a hibernar nesta altura do ano? Quaisquer dicas serão bem-vindas”, escreveu o leitor à Wilder.
Segundo Ricardo Brandão, director veterinário do CERVAS – Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens, instalado em Gouveia, “é normal” haver ouriços que não estão a hibernar no Algarve. “As temperaturas são suficientemente confortáveis nessa região para os ouriços não terem que hibernar.”
Vera Marques, do RIAS – Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens, centro localizado na Quinta de Marim, em Olhão, confirma. “Desde que haja disponibilidade de alimento, estes animais podem manter a sua actividade normal. E no Algarve isto acontece regularmente. No RIAS recebemos ouriços em qualquer época do ano”.
Quanto à alimentação, a responsável salienta que “é proibido alimentar fauna selvagem. Sabemos que apesar de termos esse instinto de ajudar, não deverá ser feito. Estes animais terão que procurar o seu próprio alimento (que inclui maioritariamente insetos, mas também caracóis, minhocas, aranhas e fruta) como qualquer animal selvagem”.
Ricardo Brandão acrescenta que, “de uma forma geral, dar alimentação de forma artificial a animais selvagens não é correcto e pode até colocar os animais em risco. Deve-se privilegiar sempre a criação de fontes de alimentação natural, como sebes e zonas arbustivas com espécies autóctones que produzam bagas, pequenos bosques e, claro, pequenos pomares e hortas ecológicas”.
O ouriço-cacheiro (Erinaceus europaeus) é um mamífero da Ordem Insectivora bastante comum e nativo na Europa (e Península Ibérica).
Segundo o Atlas dos Mamíferos de Portugal, esta espécie “tem uma distribuição ampla em Portugal continental, com maior incidência de registos nas quadrículas da metade sul”.
Ocorre em paisagens com arbustos e sebes, frequentemente em habitats rurais ou semi-urbanos.