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Ilustração: cinco perguntas a Fernando Correia

16.06.2023

Este biólogo e ilustrador, director do Laboratório de Ilustração Científica da Universidade de Aveiro, começou por querer ser como os naturalistas do século XVIII para escrever e desenhar as suas descobertas. Hoje, Fernando Correia promove o mundo natural e alerta para as ameaças que enfrenta através da ilustração.

WILDER: O que faz?

Fernando Correia: Sou biólogo, licenciado e mestre formado em Coimbra, que se especializou em Comunicação de Ciência, na vertente da Ilustração Científica. Sou docente no Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro desde 2011 e, paralelamente, sou profissional independente operando no mercando de trabalho nacional e internacional.

W: Onde e quando começou?

Fernando Correia: Comecei a trabalhar em 1988, antes de terminar a licenciatura, quando fui contratado para fazer os meus primeiros trabalhos de desenho científico, pelo Prof. Jorge Paiva, na botânica, e Isabel Abrantes, na zoologia (Nematologia). 

W: Como aprendeu a fazer o seu trabalho?

Fernando Correia: Sempre fui autodidata em técnicas de expressão plástica, ou procedimentos artísticos, o que me levou a aprender segundo a máxima da velha escola da vida, com muito estudo auto-imposto e prática sem esmorecer, em loops ciclícos de ensaio/erro-sucesso. Nunca consegui memorizar nada que não compreendesse, pelo que fiz muito trabalho de engenharia inversa procurando cartografar os processos e técnicas dos mestres, procurando decifrar soluções aplicadas e nunca tendo receio de responder positivamente a novos desafios. Acredito piamente na evolução das competências, primeiramente à custa do trabalho e insistência do próprio, depois pelos desafios que implica a responsabilidade de também ter de ensinar algo, no papel de formador em cursos e nas disciplinas de que sou regente. Penso que é esta fórmula binominal, escrita na dialética que se esgrime entre o aprender e o ensinar, que nos pode fazer crescer e dar o salto quântico, em termos profissionais.

W: Quando começou, o que pensava que queria fazer?

Fernando Correia: Queria ser um naturalista do séc. XVIII, porque muitos deles escreviam e desenhavam os seus próprios tratados e descobertas. Já na Universidade, percebi, desde cedo, que a tendência é a especialização e que aquela minha meta seria algo difícil de atingir e que, mais tarde ou mais cedo, iria sentir-me frustrado. Comecei pela investigação fundamental na área dos nemátodos fitoparasitas e, paralelamente, continuei a evoluir no universo de ilustração científica, com episódios de incursão na banda desenhada e também na pintura, mais figurativa do que fantasiosa ou abstrata. Mais tarde sacrifiquei esse percurso, fiz marcha atrás e construí o meu próprio caminho na senda da ilustração da ciência, remando muitas vezes contra a maré. Mas a verdade é que a ciência sempre exerceu o seu chamado vocacional e o melhor que fiz foi casá-la com a arte, permitindo aceder ao melhor dos dois mundos através da Ilustração científica/IC. Como gosto tanto de escrever como de desenhar, sinto que a profissão que escolhi e tenho vindo a construir praticamente do zero (como outros colegas também o têm feito), tem-me permitido ser um “autor” mais completo nos meus artigos e livros, bem como criar a minha própria “escola” no que toca ao ensino da IC, e ainda participar em projetos que me tiram da minha zona de conforto e me permitem continuar a pensar fora da caixa. 

W: O que ainda lhe falta fazer?

Fernando Correia: Viver mais e continuar a deixar-me maravilhar pela Natureza. Cada ilustração que faço é literalmente uma aprendizagem que acaba por me fascinar em algum detalhe e, quase sempre, resulta também numa história de vida e em novos amigos. Sou quem sou e serei o que for, porque sou a sumula de todas essas vivencias e amizades. Por isso não posso ser conclusivo em relação a esta pergunta, sendo que é certo que já não me falta fazer tudo e de tudo : )


Conheça a exposição “Selos Postais – 55 anos de alertas contra a extinção e a perda da biodiversidade”, iniciativa de Fernando Correia, na Biblioteca da Universidade de Aveiro até 30 de Junho.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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