Periquito-de-colar. Foto: Daniel Raposo

Estamos todos convidados a procurar periquitos-de-colar na “selva urbana”

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Esta nova iniciativa de ciência cidadã, organizada pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, tem como objectivo preparar o primeiro censo de Inverno desta ave exótica.

Os periquitos-de-colar (Psittacula krameri) chegaram a Portugal no final da década de 1970 e desde então tornaram-se uma presença habitual em várias cidades – incluindo Lisboa, Porto, Coimbra, Caldas da Rainha e ainda várias localidades nos Açores. Os seus gritos estridentes e cores vivas dificilmente passam despercebidos.

“Populares como animais de estimação, os periquitos que hoje se encontram à solta em várias cidades portuguesas são provavelmente animais que fugiram do cativeiro, ou seus descendentes”, explica a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), que realiza esta acção durante o mês de Novembro.

“O que pedimos é que as pessoas dêem um passeio depois das 16h30, e que depois registem os periquitos que observarem, indo a periquitos.spea.pt“, diz Hany Alonso, técnico da organização não governamental de ambiente e responsável por esta acção. “Pedimos que tentem também anotar se estão a alimentar-se ou a juntar-se numa árvore para descansar.” 

O objectivo é perceber se as populações destes periquitos, também conhecidos por periquitos-rabijuncos, estão em crescimento e expansão. Esta espécie originária da África Subsahariana e do Sul da Ásia é gregária, vivendo em comunidade, e reune-se em dormitórios que podem chegar a centenas de aves.

“Este periquito verde com um colar preto distingue-se de outras espécies pela parte superior do seu bico, que é vermelha, e pela cauda mais comprida, que se nota sobretudo nas penas centrais azuladas”, descreve também a SPEA. “Em voo, o periquito-de-colar destaca-se também pelas penas de voo, mais escuras do que o resto do corpo.”

Periquito-de-colar. Foto: Nicolas Renac (CCBYNC20)

Em 2008, estimava-se que havia 270 periquitos-de-colar no país. Desde então, o número aumentou: uma estimativa mais recente aponta para 650 aves desta espécie apenas em Lisboa, onde a Quinta das Conchas e o Jardim da Estrela são bons locais para observar a espécie. Na verdade, estes periquitos podem ser vistos “durante todo o ano nos parques e jardins da Área Metropolitana”.

“Graças ao clima ameno e ao alimento disponível, têm-se adaptado à ‘selva urbana’, de tal modo que em caso de expansão significativa podem vir a tornar-se numa ameaça para algumas espécies nativas do nosso país”, alerta também a SPEA.

Sabe-se que estas aves se alimentam de frutos, grãos, sementes, bagas e flores. Em Portugal, por exemplo, há registos de periquitos-de-colar a alimentarem-se de citrinos, romãs, figos, nêsperas e azeitonas, assim como de frutos do lodão-bastardo e da catalpa.   

Apesar de não existirem ainda dados sobre o impacto do periquito-de-colar na biodiversidade nativa do nosso país, em Espanha existem algumas evidências de impactos negativos sobre espécies nativas em locais restritos, recorda a associação ambientalista: “O periquito-de-colar compete com morcegos e mochos pelas cavidades das árvores, onde nidifica, e compete com aves frugívoras pelo alimento.”

Este desafio decorre no âmbito do projeto “Ciência Cidadã – envolver voluntários na monitorização das populações de aves”, financiado pelo Programa Cidadãos Ativos/Active Citizens Fund (EEAGrants), um fundo constituído por recursos públicos da Islândia, Liechtenstein e Noruega e gerido em Portugal pela Fundação Calouste Gulbenkian em consórcio com a Fundação Bissaya Barreto. O projecto tem como parceiros a Wilder – Rewilding your days e o Norwegian Institute for Nature Research (NINA). 


Saiba mais.

Leia a entrevista a Camila Rodrigues, voluntária ligada a esta acção. E encontre informação sobre o periquito-de-colar e outros quatro periquitos que podem ser vistos em Portugal, aqui.


Conte as Aves que Contam Consigo

A série Conte as Aves que Contam Consigo insere-se no projeto “Ciência Cidadã – envolver voluntários na monitorização das populações de aves”, dinamizado pela SPEA em parceria com a Wilder – Rewilding your days e o Norwegian Institute for Nature Research (NINA) e financiado pelo Programa Cidadãos Ativos/Active Citizens Fund (EEAGrants), um fundo constituído por recursos públicos da Islândia, Liechtenstein e Noruega e gerido em Portugal pela Fundação Calouste Gulbenkian, em consórcio com a Fundação Bissaya Barreto.

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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