Na série “Abra espaço para a natureza”, Carine Azevedo responde às dúvidas que temos quando pensamos em tornar um espaço mais amigo do mundo natural.
As plantas, sejam elas quais forem, são bonitas e frondosas, algumas são mais delicadas e outras estão muitas vezes acompanhadas de flores exuberantes que facilmente nos atraem. No entanto, nenhuma traz consigo um aviso de segurança. É por isso importante conhecer as plantas que queremos ter nos nossos jardins ou dentro de casa, uma vez que algumas podem ser tóxicas e causar danos à saúde humana e animal.
O que são plantas tóxicas?
Na maioria das vezes, as plantas só são vistas do ponto de vista do seu interesse ornamental, pela sua beleza, aroma, cores, etc., ou pela da sua utilidade (produção de frutos, fibras, madeira, entre outros).
É comum o desconhecimento sobre o perigo de algumas plantas. A ingestão, a inalação ou mesmo o contacto com algumas espécies vegetais pode causar graves problemas de saúde, desde irritação na pele, irritação ocular, náuseas, vómitos, distúrbios digestivos, arritmia, convulsões e até mesmo a morte. As crianças e os idosos são os principais grupos de risco, seja por descuido ou por desconhecimento.
Os animais domésticos são outras das vítimas das plantas tóxicas, pois, por curiosidade ou por brincadeira, gostam de explorar as plantas que temos nos nossos jardins ou que estão no interior das nossas casas.
Os cães e os gatos adoram esconder-se entre a folhagem, escavar o solo e até mordiscar algumas folhinhas. No entanto, deve evitar-se que tal aconteça, pois algumas plantas podem causar vómitos, diarreia, tremores, falta de coordenação, salivação excessiva, entre outros problemas mais graves, como a cegueira, por exemplo.
As plantas tóxicas contêm substâncias químicas como alcalóides, heterósidos, taninos, ácido oxálico, óleos essenciais, prótidos e venenos minerais, que podem causar inúmeras reações adversas nos seres vivos.
Quais as plantas tóxicas mais comuns?
De entre as espécies ornamentais mais utilizadas no interior das nossas casas e nos nossos jardins, sejam elas nativas ou exóticas, as seguintes destacam-se pela sua toxicidade:
- Loendro (Nerium oleander)
- Teixo (Taxus baccata)
- Lírio-dos-vales (Convallaria majalis)
- Trombeta-dos-anjos (Brugmansia arborea)
- Amargoseira (Melia azedarach)
- Dama-da-noite (Cestrum nocturnum)
- Hortense (Hydrangea spp.)
- Lantana (Lantana camara)
- Pervinca (Vinca difformis)
- Rododendro (Rhododendron spp.)
- Tremoço (Lupinus spp.)
- Louro-cerejo (Prunus laurocerasus)
- Cerejeira-brava (Prunus avium)
- Fisális (Physalis spp.)
- Trovisco (Daphne gnidium)
- Dedaleira (Digitalis purpurea)
- Sabugueiro (Sambucus nigra)
- Delfínio (Delphinium spp.)
- Agapanto (Agapanthus spp.)
- Agave (Agave spp.)
- Murta (Myrtus communis)
- Estrela-de-natal (Euphorbia pulcherrima)
- Cica (Cycas revoluta)
- Espada-de-são-jorge (Sansevieria trifasciata)
- Glicínia (Wisteria spp.)
- Jarro (Zantedeschia aethiopica)
- Antúrio (Anthurium spp.)
- Costela-de-adão (Monstera deliciosa)
- Comigo-ninguém-pode (Dieffenbachia spp.)
- Lírio-da-paz (Spathiphyllum spp.)
- Filodendro (Philodendron spp.)
- Aloé (Aloe vera)
- Avenca (Adiantum capillus-veneris)
- Loureiro (Laurus nobilis)
A maioria das espécies bulbosas que plantamos nos nossos jardins, e que se mantêm durante uma grande parte do ano “escondidas” no solo, contêm substâncias tóxicas que podem causar problemas de saúde a pessoas e animais. Algumas das plantas bulbosas tóxicas mais utilizadas em Portugal são:
- Muscaris (Muscari neglectum)
- Narciso (Narcissus spp.)
- Narciso-bravo (Narcissus serotinus)
- Campainha-amarela (Narcissus bulbocodium)
- Alho-porro-bravo (Allium ampeloprasum)
- Cebola (Allium cepa)
- Alho-comum (Allium sativum)
- Campainha-de-outono (Acis autumnalis)
- Bordões-de-são-josé (Amaryllis belladonna)
- Tulipa (Tulipa spp.)
- Lírio-amarelo (Iris pseudacorus)
- Lírio (Iris germanica)
Outras espécies menos frequentes em jardins, mas que também são potencialmente perigosas, são:
- Cicuta (Conium maculatum)
- Jarro-dos-campos (Arum italicum subsp. italicum)
- Arruda (Ruta graveolens)
- Cebola-albarrã (Drimia maritima)
- Hipericão (Hypericum perforatum)
- Erva-do diabo (Datura stramonium)
- Rícino (Ricinus communis)
- Lírio-das-areias (Pancratium maritimum)
- Pepino-de-são-gregório (Ecballium elaterium)
- Morganheira-das-praias (Euphorbia paralias)
Os venenos não são para todos
A lista apresentada não é exaustiva, podendo existir muitas outras espécies. Cerca de um terço das espécies vegetais do mundo produzem substâncias tóxicas, mas nem todas são perigosas.
Os níveis de toxicidade são diferentes de planta para planta e podem variar. A toxicidade de uma determinada planta pode ser afetada por diversos fatores. Algumas espécies produzem níveis de toxicidade ao longo de todo o seu ciclo de vida, enquanto outras apenas o fazem quando frutificam, ou quando são muito novas, por exemplo.
Há também uma grande variação na quantidade de substâncias tóxicas nas diferentes partes de uma planta. Geralmente, as sementes concentram a maior quantidade de substâncias tóxicas; no entanto, a maioria das intoxicações ocorre pela ingestão de folhas.
As substâncias tóxicas das plantas não atuam da mesma forma em todos os animais e nos humanos. Os efeitos adversos da toxicidade de uma determinada espécie também dependem do tipo e da concentração do veneno, e ainda da condição física da vítima. Muitas das espécies podem ser nocivas para os animais e não serem nocivas para os humanos, e vice-versa.
Tenho algumas destas plantas em casa/no meu jardim! E agora?
Se tem qualquer uma destas plantas em casa ou no seu jardim não precisa de as eliminar. Deve, sim, saber identificá-las para estar informado sobre como agir em caso de acidente. Além disso, convém ter alguns cuidados particulares, como:
- Usar luvas e roupas de proteção para evitar o contacto com a pele, sempre que as manusear, até porque determinadas plantas tóxicas não precisam de ser ingeridas para causar efeitos nocivos. Algumas espécies libertam uma substância leitosa – látex – em resposta ao corte de um raminho ou de uma folha, por exemplo. O contacto com a pele ou a ingestão dessa substância podem provocar irritações cutâneas e oculares, queimaduras, tonturas, diarreia, entre outros.
- Posicionar as plantas de forma a ficarem fora do alcance dos animais. No caso de não puder reposicioná-las, sobretudo no exterior, pode aplicar repelentes na proximidade destas, de forma a afastar os seus animais de estimação.
- Sinalizar as plantas “problemáticas” e informar todos os que possam ter contacto com elas, sobretudo as crianças. É fundamental ensinar os mais pequenos que não devem utilizar as plantas do jardim, ou dos vasos do interior, como alimento ou brinquedo.
- Não comer frutos, raízes ou folhas de plantas que não conhece. Embora muitas plantas sejam comestíveis, a verdade é que também há muitas outras que não o são, sobretudo para os humanos.
Se por outro lado está a pensar instalar um jardim, ou comprar uma planta para colocar dentro de casa, e se quer garantir a segurança dos seus animais domésticos e das pessoas que partilham o espaço, pode sempre evitar qualquer uma das plantas acima referidas.
Num próximo texto apresentarei algumas espécies botânicas que são seguras para os animais domésticos e para os humanos em geral, para que se possa garantir que todos desfrutam da beleza que a natureza proporciona em segurança e com bem-estar.
No entanto, é importante lembrar o que Paracelsus (médico, alquimista, teólogo e filósofo) escreveu, ainda no seu tempo (século XVI), ‘What is there that is not poison? All things are poison and nothing is without poison. Solely the dose determines that a thing is not a poison‘. Ou seja, tudo na Natureza é veneno e nada há que não o seja. Apenas a dose é que determina o que é veneno ou não.
Na série Abra espaço para a natureza, encontrará mais alguma informação que o ajudará na escolha das espécies e nos cuidados a ter com as suas plantas. E se explorar a série O que procurar: espécies botânicas, irá encontrará um vasto leque de espécies nativas que se poderão adequar às diferentes condições do seu jardim.
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Ao longo de mais de dois anos Carine Azevedo deu-nos a conhecer, todas as semanas, novas plantas para descobrirmos em Portugal. Encontre aqui todos os artigos desta autora.
Carine Azevedo é Mestre em Biodiversidade e Biotecnologia Vegetal, com Licenciatura em Engenharia dos Recursos Florestais. Faz consultoria na gestão de património vegetal ao nível da reabilitação, conservação e segurança de espécies vegetais e de avaliação fitossanitária e de risco. Dedica-se também à comunicação de ciência para partilhar os pormenores fantásticos da vida das plantas.
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