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um pisco de peito ruivo no ramo de uma árvore
Pisco-de-peito-ruivo. Foto: Wolfgang Vogt/Pixabay

Como se distingue o canto do chamamento nas aves?

20.05.2019

O som feito pelas aves é uma das mais impressionantes bandas sonoras do mundo natural. Para a aproveitarmos ao máximo, é importante saber mais.

As aves têm dois tipos de vocalizações: o canto e o chamamento. O canto “tem um carácter mais ou menos ritual”, em vez de espontâneo e reativo, explica Magnus Robb, ornitólogo britânico especializado na gravação do canto de aves.

“O que se nota é uma repetição regular, que parece ‘ser de propósito’, acrescenta.

Tanto os machos como as fêmeas podem cantar.

“Há espécies onde as fêmeas cantam mais, como por exemplo o pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubella) e a ferreirinha-comum (Prunella modularis). E há outras onde o ‘canto’ costuma ser um dueto, como por exemplo o mergulhão-pequeno (Tachybaptus ruficollis).”

Um canto não precisa de ser complexo. Na verdade, há cantos muito simples como o da fuinha-dos-juncos (Cisticola juncidis).

Além disso, um canto também pode ser “instrumental” como é o caso dos pica-paus.

E um chamamento? Podemos dizer que “é qualquer vocalização que não é um canto”.

Magnus Robb conta que as aves cantam para atrair um parceiro, para defender um território, para criarem ou para se alimentarem durante a migração ou no Inverno.

Também há espécies que cantam para mostrar a sua vitalidade a um predador. “Por exemplo, a laverca (Alauda arvensis) costuma cantar ao fugir de esmerilhões (Falco columbarius)!”

E há quem apenas queira chatear o vizinho. “Quanto mais tempo ele tiver que responder, menos tempo tem para comer, por exemplo.”

Algo curioso é que há aves que parecem não ter um canto, como a gralha, o corvo e o chapim-rabilongo (Aegithalos caudatos). Mas na verdade têm cantos, pois! Acontece que são mais difíceis de ouvir. Os das gralhas são baixinhos e complexos e o chapim-rabilongo tem um canto “muito delicado que é muito raro de ouvir, principalmente por ser tão baixinho. Creio que é só para a fêmea ouvir e não tem carácter territorial”.

E os pombos também cantam? Cantam, assim como as gaivotas e as limícolas. Nos pica-paus o canto é o ‘drumming’.

Pisco-de-peito-ruivo. Foto: Diogo Oliveira
Pica-pau-malhado-grande. Foto: Diogo Oliveira

E o que querem as aves comunicar?

“Existem muitas ideias sobre isso!” Mas, segundo este especialista, pode resumir-se a sexo, acasalamento, presença ou ausência de uma ave num território, a vitalidade e tamanho da ave, a origem geográfica e a idade (entre adulto ou juvenil/subadulto).


Uma curiosidade é que quem conheça bem os sons das aves pode perceber no canto de certas espécies onde as aves passaram o Inverno. “Um picanço-barreiteiro (Lanius senator), por exemplo, costuma imitar muitas espécies que ouviu durante o Inverno no Senegal ou pode imitar um tentilhão-africano que ouviu no dia anterior em Marrocos!”

Por outro lado, “existem espécies que não costumam viajar muito, mas conhecem os viajantes. As cotovias-montesinas (Galerida thekla) de Sagres incluem no seu canto sons de migradores, espécies que passaram ali durante o Outono. Acho muito interessante ouvir imitações de petinha-de-Richard (Anthus richardi) em Sagres, uma espécie que vem da Ásia-central e pode passar o inverno aqui ou em Marrocos!”

Exemplo de um chamamento de pisco-de-peito-ruivo.

Exemplo de um canto de pisco-de-peito-ruivo.


Um naturalista no Jardim Gulbenkian – Como e porquê

O Jardim Gulbenkian é um refúgio para inúmeros animais e plantas mesmo no coração de Lisboa. Ali, podemos aprender mais sobre como vivem as espécies e porque fazem o que fazem.  

A partir da biodiversidade do jardim, e com a ajuda de especialistas, vamos responder a 12 “como e porquê” de aves, insetos, mamíferos, anfíbios e plantas. 

Com esta segunda série “Um Naturalista no Jardim Gulbenkian” poderá ficar a saber porque têm as libélulas olhos tão grandes, como é que os morcegos caçam à noite, como se reproduzem os cogumelos e outras curiosidades que provam o quão fantástica é a natureza.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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