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Foto: Joana Bourgard

Como criar um jardim em solos pobres: plantas e dicas para melhorar o solo

26.07.2024

Neste novo artigo da série “Abra espaço para a natureza”, Carine Azevedo sugere plantas e dicas para conseguirmos melhorar solos pobres e assim fazer crescer um belo jardim.

 

O solo desempenha um papel importante no desenvolvimento das plantas e é um dos elementos mais importantes na concepção de um jardim. Ele é responsável por fornecer às plantas os nutrientes, a água e o suporte físico de que necessitam para crescer fortes e vigorosas. A textura, a estrutura e a composição do solo influenciam diretamente a capacidade de retenção de água e a disponibilidade de nutrientes, factores fundamentais para a saúde das plantas.

No entanto, nem todos os solos são ideais para a construção de um jardim. Um dos maiores desafios que podemos enfrentar é lidar com solos pobres, que apresentam diversas limitações ao crescimento das plantas.

O que são solos pobres

Os solos pobres são caracterizados pela falta de nutrientes essenciais, reduzida matéria orgânica e, muitas vezes, uma estrutura inadequada que pode comprometer a retenção de água e arejamento. Estas condições dificultam o desenvolvimento das raízes e limitam a capacidade das plantas de absorverem os elementos necessários para o seu crescimento, resultando, frequentemente, em plantas mal desenvolvidas e mais suscetíveis a pragas e a doenças.

Rosmaninho. Foto: Xemenendura / Wiki Commons

Os solos pobres podem ser classificados em quatro tipos principais:

– Solos arenosos – drenam rapidamente a água e os nutrientes;

– Solos argilosos – são compactos e retêm muita água, dificultando a drenagem e o desenvolvimento das raízes;

– Solos ácidos – apresentam um pH baixo que limita a disponibilidade de nutrientes essenciais ao bom desenvolvimento das plantas;

– Solos alcalinos – têm um pH elevado e também dificultam a absorção de nutrientes.

Os solos pobres apresentam vários problemas comuns que afetam o crescimento saudável das plantas. A baixa fertilidade é um dos principais desafios, pois resulta numa nutrição inadequada das plantas, limitando o seu desenvolvimento. Além disso, a má drenagem pode levar ao encharcamento e até à asfixia das raízes. A falta de matéria orgânica compromete a estrutura do solo e a sua capacidade de manter a água e os nutrientes. Estes factores combinados tornam os solos pobres mais difíceis de trabalhar e podem levar a plantas menos saudáveis e produtivas.

Plantas que crescem em solos pobres

Felizmente, existem muitas plantas que se adaptam bem a solos pobres e condições adversas. Estas plantas são resistentes e desempenham um papel fundamental na melhoria da qualidade do solo.

Muitas plantas nativas estão adaptadas a crescer em solos pobres. Além disso, as plantas nativas são de particular importância devido à sua adaptação natural às condições locais e ao seu papel na promoção da biodiversidade. Algumas das plantas nativas que se destacam pela sua capacidade de adaptação a solos pobres incluem:

Rosmaninho (Lavandula stoechas)

Esteva (Cistus ladanifer)

Tomilho (Thymus spp.)

Medronheiro (Arbutus unedo)

Urze (Calluna vulgaris)

Alecrim (Salvia rosmarinus)

Camarinha (Corema album)

Estevinha (Cistus salviifolius)

Perpétua-das-areias (Helichrysum italicum)

Sanguinho-das-sebes (Rhamnus alaternus)

Urze-roxa (Erica cinerea)

Giesta (Cytisus scoparius)

Oliveira-brava (Olea europaea subsp. europaea var. sylvestris)

Morganheira-das-praias (Euphorbia paralias)

Cardo-marítimo (Eryngium maritimum)

Zimbro (Juniperus communis)

Lírio-das-areias (Pancratium maritimum)

Murta (Myrtus communis)

Amieiro (Alnus glutinosa)

Plantas bioindicadoras de solos pobres

Além de escolher plantas que prosperam bem em solos pobres, é útil conhecer plantas bioindicadoras, que ajudam a identificar problemas específicos no solo pela sua presença. Algumas plantas nativas que servem como bioindicadoras e que podem fornecer informações valiosas sobre as condições do solo incluem:

– Trevo (Trifolium spp.): Indica solo compactado e pobre em nutrientes. Além disso, o trevo é uma planta fixadora de azoto, o que pode ajudar a melhorar a fertilidade do solo.

– Feto-comum (Pteridium aquilinum): Indica solos ácidos e pobres. A presença deste feto sugere que o solo pode precisar de correção de pH para melhorar as condições de crescimento das plantas.

– Cavalinha (Equisetum arvense): Indica solos compactados e húmidos. A presença desta planta pode sinalizar a necessidade de melhorar a drenagem do solo para evitar o encharcamento.

– Silene (Silene latifolia): Indica solos arenosos e pobres em nutrientes. A sua presença pode sugerir a necessidade de adicionar matéria orgânica para enriquecer o solo.

– Azedas-bravas (Rumex acetosa): Indica solos ácidos. É um bom indicador de que o solo pode precisar de correção de pH para fornecer os nutrientes essenciais às plantas.

– Trevo-de-cinco-folhas (Dorycnium pentaphyllum): Indica solos secos e pobres. Assim como outros trevos, também pode indicar compactação do solo e a necessidade de adicionar matéria orgânica.

– Suspiros (Scabiosa atropurpurea): Indica solos arenosos e pobres. A sua presença pode sinalizar a necessidade de enriquecer o solo com nutrientes e matéria orgânica.

Medronheiro. Foto: sara150578/Pixabay

Técnicas para melhorar a qualidade do solo

Para além da seleção de plantas resistentes e do conhecimento de plantas bioindicadoras, existem várias técnicas que podem ser aplicadas para melhorar a qualidade dos solos pobres:

– A adição de matéria orgânica, como composto e estrume, contribui para enriquecer o solo, aumentando a sua fertilidade e a capacidade de retenção de água.

– O uso de adubos verdes, como plantas leguminosas e outras plantas fixadoras de azoto (nitrogénio), pode ajudar a melhorar a estrutura do solo e a aumentar os nutrientes disponíveis.

– A cobertura morta – mulching – com materiais como palha, folhas e aparas de madeira protege o solo e aumenta a sua fertilidade.

– A rotação de culturas, alternando diferentes tipos de plantas, pode evitar a exaustão do solo e reduzir a incidência de pragas e doenças.

– A correção do pH do solo com a adição de calcário para solos ácidos ou de enxofre em solos alcalinos pode ajustar os níveis de pH para valores ideais.

Dicas práticas

Para garantir o sucesso de um jardim em solos pobres, é fundamental iniciar com uma análise detalhada do solo. Realizar análises ao solo ajuda a compreender a sua composição, pH e nutrientes disponíveis. Além disso, estas análises também fornecem informações valiosas sobre as necessidades específicas do solo e permitem tomar decisões informadas sobre as melhores práticas para o melhorar.

flores amarelas num fundo preto

O planeamento cuidadoso do jardim é igualmente importante. Considerar as características do solo e escolher plantas adequadas para as condições existentes é fundamental para o sucesso de qualquer jardim. Optar por espécies que se adaptam bem a solos pobres e que são resistentes a condições adversas pode facilitar o cultivo e reduzir a necessidade de correções frequentes.

A melhoria do solo é um processo contínuo e gradual. Adotar práticas como a adição de matéria orgânica, o uso de adubos verdes e a cobertura do solo com materiais orgânicos ajuda a criar um ambiente mais saudável para as plantas e a manter um equilíbrio no solo.

Transformar solos pobres em terrenos férteis e produtivos exige paciência e dedicação. Com as técnicas adequadas e a escolha certa de plantas, é possível criar um jardim vibrante e bem-sucedido, mesmo nas condições mais desafiantes.

Então, mãos à obra! Vamos abrir espaço para a natureza para transformar solos pobres em jardins vibrantes, onde cada planta possa prosperar e contribuir para um ambiente mais saudável e harmonioso.

Na série “Abra espaço para a natureza” encontrará mais alguma informação que ajudará na escolha das espécies e nos cuidados a ter com as suas plantas. E se explorar a série “O que procurar: espécies botânicas”, irá encontrar um vasto leque de espécies nativas que se poderão adequar às diferentes condições do seu jardim.

Aproveite para partilhar as fotos do seu jardim nas redes sociais com #jardimtemático e no Instagram, comigo (@biodiversityinportuguese) e com a Wilder (@wilder_mag).

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