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Cidadãos vão encher a cidade do Porto de árvores

24.02.2016

Criar pequenos bosques urbanos nunca pareceu tão fácil. A cidade do Porto é o palco de uma campanha para ajudar os cidadãos a enriquecer os seus jardins e logradouros com árvores e arbustos típicos portugueses. O desafio foi lançado e os portuenses já estão preparados.

 

A campanha Se tem um jardim, temos uma árvore para si foi lançada a 18 de Fevereiro, numa parceria entre a Câmara Municipal do Porto e o FUTURO – o projecto das 100.000 Árvores.

A ideia é simples. Quem viver naquela cidade e tiver um terreno, pequeno ou grande, pode receber até 10 árvores para plantar. “O objectivo é tornar o Porto mais verde e dar a conhecer as espécies nativas portuguesas”, explicou hoje Marta Pinto, coordenadora do projecto das 100.000 Árvores, à Wilder.

Nos próximos cinco anos, os portuenses terão à sua disposição um total de 10.000 árvores para plantar na cidade. Este ano serão distribuídas 1.750 árvores e arbustos de 11 espécies diferentes, como o medronheiro, sobreiro, pilriteiro, teixo, buxo e vários carvalhos. Para o ano, talvez hajam espécies diferentes.

“No espaço de uma semana já recebemos mais de 150 inscrições. Este é um sinal de que os portuenses estavam preparados para isto”, acrescentou Marta Pinto. E até já há pessoas de Matosinhos, Gondomar, Valongo, Paços de Ferreira que perguntam se o seu caso não pode ser atendido.

As árvores a oferecer têm entre um e dois anos de idade e medem entre 10 e 50 centímetros. “São mesmo pequeninas.” A maioria vem do viveiro do 100.000 Árvores, instalado no viveiro municipal do Porto (em Campanhã), e as outras do Programa Floresta Comum, com o qual há uma parceria.

Marta Pinto explicou que as 11 espécies “foram escolhidas de acordo com a disponibilidade do stock de plantas em viveiro e com critérios de diversidade”. Assim, há árvores mas também há arbustos – uma vez que os terrenos têm características diferentes – e há espécies de folha caduca e outras de folha perene. Cada pessoa escolhe de acordo com a sua preferência.

 

Foto: M. Almeida/CRE
Foto: M. Almeida/CRE

 

As árvores serão entregues a 1 e 2 de Abril no Parque da Cidade e no Parque do Covelo. A equipa do projecto organiza três sessões de formação em cada dia para ajudar a tirar dúvidas quanto à sua manutenção. “Regra geral, as árvores adaptam-se bem. Mas é preciso que sejam muito bem plantadas, bem regadas e que tenham alguma vigilância.” Acima de tudo, acrescentou, “requerem mimo”.

Os cidadãos são a peça central deste projecto, inserido numa iniciativa mais alargada do município para aumentar a infraestrutura verde da cidade e dar a conhecer as árvores nativas.

“A cidade do Porto tem quarteirões muito grandes e por detrás dos edifícios e das ruas há uma rede de jardins e logradouros que quase nunca vemos. Por outro lado, o Porto é uma cidade muito compacta e são poucas as áreas disponíveis para intervencionar do ponto de vista público. Por isso, se quisermos tornar o Porto mais verde, temos de apostar na importância dos cidadãos a intervir nos seus próprios espaços”, explicou a responsável. Os organizadores da iniciativa acreditam que “a cidade ainda tem muitos terrenos permeáveis, com solos, que podem ser densificados com árvores nativas”.

Além de melhorar a biodiversidade do Porto, a campanha quer envolver as pessoas e dar-lhes a conhecer espécies que têm vindo a desaparecer do nosso dia-a-dia.

“A maior parte das pessoas não conhece as árvores portuguesas. Talvez isto faça parte do fenómeno comum de desvalorizarmos o que é nosso em detrimento do que vem de fora.” E porque não convivemos com elas, deixamos de as conhecer pelo nome e já não as conseguimos identificar. “Acontece que não temos oportunidade de conviver com árvores de muitas espécies e algumas estão confinadas a zonas recônditas. Estão no fim do mundo. Como quando estamos a aprender uma língua estrangeira, também neste caso é preciso praticar.”

“Actualmente, o Porto é a cidade das camélias. Mas seria bom que os cidadãos também se pudessem identificar com outras espécies típicas da nossa flora.” Marta Pinto lembrou ainda que estas árvores “são o nosso património”.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Explore estas sugestões de Marta Pinto para procurar vida selvagem na Área Metropolitana do Porto.

Pode ainda tornar-se um perito a identificar as árvores no Inverno.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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