O correspondente da Wilder, António Heitor, aproveitou as férias de Verão para estar de olho nas aves. Desta vez ficou curioso com os jogos das gaivotas numa praia algarvia.
Bem cedo logo pela manhã, os barcos regressam da faina a esta praia algarvia. Os pescadores são recebidos por um grande bando de gaivotas, aves matreiras que aguardam por algum resto de peixe. Tornou-se rotina observar estes ajuntamentos de aves, de binóculos e máquina fotográfica.
São momentos empolgantes, autênticas batalhas campais que se desenrolam ao ritmo de encontrões, bicadas e perseguições a alta velocidade. Os charrocos são a “prenda” mais comum oferecida pelos pescadores. Ainda o peixe não tocou no chão e a algazarra começa, dando início à primeira parte do jogo. Enquanto umas puxam, outras lançam gritos estridentes, tentando chegar mais perto do centro da confusão.
Depois de alguns minutos de impasse, há uma ave que consegue o pitéu só para si e começa a segunda parte do jogo: a perseguição atrás de quem leva o peixe.
O objectivo é obrigar a largá-lo. E quando o charroco cai na areia, recomeça o jogo do empurra.
Puxa daqui, empurra dali, depois de mais uns voos picados o vencedor está encontrado. É tempo de saborear o pitéu, de uma só vez e rapidamente, pois de contrário pode sempre aparecer alguém com vontade de “ir a prolongamento”.
No meio da confusão, um pequeno pilrito-das-praias tenta passar despercebido. Estas pequenas aves andam freneticamente de um lado para o outro perto da rebentação à procura de alimento, mesmo que sejam as sobras deixadas por uma gaivota.
Esta em particular parecia estar a limpar a areia da refeição numa poça de água. As gaivotas aproveitam estas poças para limpar as penas e “aparentemente” por razões gastronómicas.
Eis que começa nova algazarra ali ao lado. Desta vez a guerra não é por um peixe, mas por algo diferente: um “valioso” pedaço de esferovite de cor laranja que é disputado energicamente por um grupo de gaivotas juvenis. Não posso deixar de pensar que aos olhos de uma gaivota aquele brinquedo é ideal para treinar para o jogo do “quem fica com o peixe” que presenciei anteriormente.
De facto estas aves são bem resistentes e muito curiosas. Por vezes essa curiosidade coloca-as em risco. O resultado é muitas vezes doloroso e fica espelhado nas várias gaivotas com apenas uma pata que ali estão por perto. Em duas delas ainda eram visíveis as causas do ferimento, um pedaço de corda (ou rede) que ainda estava preso na outra pata e no outro caso ainda estavam as duas patas presas.
Uma ave adulta confirma a resistência das gaivotas que usam a esperteza e a curiosidade para encontrar alimento e ultrapassar as limitações. De facto procuram alimento em qualquer lado. Por onde terá andado esta gaivota para ficar com uma cor diferente? É frequente ver gaivotas a enfiar-se dentro de sacos do lixo para procurar alimento e por certo que esta ganhou uma coloração diferente numa dessas situações.
Nunca devemos esquecer o quão importante é não deitarmos lixo para o chão ou para o mar, pois uma simples garrafa de plástico pode ir parar ao bico de uma gaivota ou de qualquer outra ave marinha.
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