Uma fêmea de quebra-ossos (Gypaetus barbatus barbatus), um dos maiores abutres do Velho Mundo, entrou em Portugal vinda de Espanha, revela o programa que está a tentar trazer de volta esta grande ave para a Andaluzia. O registo de quebra-ossos em Portugal é coisa muito rara, desde que se extinguiram por aqui há mais de 100 anos.
A fêmea Bujaraiza “adentrou-se muito pela zona Norte de Portugal”, escreveu ontem a Fundação espanhola Gypaetus na sua página do Facebook. Já em 2011 houve registo da presença de três aves na Beira Interior e no Nordeste transmontano, pela primeira vez no século XXI. Agora foi a vez de Bujaraiza.
Esta fêmea nasceu em 2014 num centro de reprodução para a espécie e a 31 de Maio desse ano foi libertada, juntamente com os machos Miguel e Rayo, no Parque Natural das Serras de Cazorla, Segura e Las Villas (na província de Jaén), no âmbito do Projecto de Reintrodução do Quebra-ossos na Andaluzia. Aquela área protegida foi escolhida para o projecto porque foi lá que se registou a última nidificação da espécie, em 1983.
Este programa foi criado depois de investigadores espanhóis e de a Junta de Andaluzia terem concluído que o último quebra-ossos desapareceu da região em 1987.
O objectivo do programa de reintrodução do quebra-ossos na Andaluzia é uma população autónoma e estável da espécie na região, através da libertação de animais. Graças à técnica chamada “hacking” consegue-se que o animal assuma a zona de libertação como o seu lugar de nascimento e que regresse a ela para se reproduzir. As áreas prioritárias para a reintrodução são o Parque Natural das Serras de Cazorla, Segura e Las Villas (Jaén), o Parque Natural da Serra de Castril (Granada) e o Espaço Natural da Serra Nevada.
Desde as primeiras libertações em 2006 já são 31 os quebra-ossos devolvidos à natureza. Todos têm GPS e assim se soube que dos 31 animais nove morreram e que os transmissores deixaram de emitir sinal em outros sete. Apenas 15 continuam vivos e a serem seguidos.
A 10 de Abril deste ano, as autoridades espanholas confirmaram o nascimento da primeira cria de quebra-ossos em liberdade, aos cuidados de Tono, um macho de 2006, e Blimunda, fêmea de 2010, que formaram um casal em 2013.
Em Portugal, a espécie está dada como extinta. Não se conhecem registos da sua ocorrência desde o final do século XIX, segundo o livro “Aves de Portugal” (2010). O registo mais preciso é de 1888 quando duas aves foram abatidas no rio Guadiana. Os exemplares estão hoje no Museu de Zoologia da Universidade de Coimbra.
Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), a espécie tem um estatuto de Quase Ameaça. Em 2010, a população total da Europa seria de 175 casais.