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Quebra-ossos estará no Norte de Portugal vindo de Espanha

12.06.2015

Uma fêmea de quebra-ossos (Gypaetus barbatus barbatus), um dos maiores abutres do Velho Mundo, entrou em Portugal vinda de Espanha, revela o programa que está a tentar trazer de volta esta grande ave para a Andaluzia. O registo de quebra-ossos em Portugal é coisa muito rara, desde que se extinguiram por aqui há mais de 100 anos.

 

A fêmea Bujaraiza “adentrou-se muito pela zona Norte de Portugal”, escreveu ontem a Fundação espanhola Gypaetus na sua página do Facebook. Já em 2011 houve registo da presença de três aves na Beira Interior e no Nordeste transmontano, pela primeira vez no século XXI. Agora foi a vez de Bujaraiza.

Esta fêmea nasceu em 2014 num centro de reprodução para a espécie e a 31 de Maio desse ano foi libertada, juntamente com os machos Miguel e Rayo, no Parque Natural das Serras de Cazorla, Segura e Las Villas (na província de Jaén), no âmbito do Projecto de Reintrodução do Quebra-ossos na Andaluzia. Aquela área protegida foi escolhida para o projecto porque foi lá que se registou a última nidificação da espécie, em 1983.

Este programa foi criado depois de investigadores espanhóis e de a Junta de Andaluzia terem concluído que o último quebra-ossos desapareceu da região em 1987.

O objectivo do programa de reintrodução do quebra-ossos na Andaluzia é uma população autónoma e estável da espécie na região, através da libertação de animais. Graças à técnica chamada “hacking” consegue-se que o animal assuma a zona de libertação como o seu lugar de nascimento e que regresse a ela para se reproduzir. As áreas prioritárias para a reintrodução são o Parque Natural das Serras de Cazorla, Segura e Las Villas (Jaén), o Parque Natural da Serra de Castril (Granada) e o Espaço Natural da Serra Nevada.

Desde as primeiras libertações em 2006 já são 31 os quebra-ossos devolvidos à natureza. Todos têm GPS e assim se soube que dos 31 animais nove morreram e que os transmissores deixaram de emitir sinal em outros sete. Apenas 15 continuam vivos e a serem seguidos.

A 10 de Abril deste ano, as autoridades espanholas confirmaram o nascimento da primeira cria de quebra-ossos em liberdade, aos cuidados de Tono, um macho de 2006, e Blimunda, fêmea de 2010, que formaram um casal em 2013.

Em Portugal, a espécie está dada como extinta. Não se conhecem registos da sua ocorrência desde o final do século XIX, segundo o livro “Aves de Portugal” (2010). O registo mais preciso é de 1888 quando duas aves foram abatidas no rio Guadiana. Os exemplares estão hoje no Museu de Zoologia da Universidade de Coimbra.

Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), a espécie tem um estatuto de Quase Ameaça. Em 2010, a população total da Europa seria de 175 casais.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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