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Cinco abutres encontrados mortos em Trás-os-Montes

14.05.2015

Quatro abutres-pretos (Aegypius monachus), a maior ave de rapina da Europa, e um abutre-do-Egipto (Neopron pernocopterus) foram encontrados mortos em Trás-os-Montes, a 9 de Maio. Suspeita-se que tenham sido envenenados.

 

As aves foram encontradas mortas junto ao rio Angueira, numa zona de caça em Miranda do Douro, informou nesta quarta-feira a Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza, em comunicado. Os animais foram recolhidos pelo SEPNA – Serviço de Protecção da Natureza da GNR e enviados para análise.

“O Abutre-preto extinguiu-se como nidificante em Portugal no início da década de 70, devido à perseguição de que foi alvo e ao uso de venenos”, bem como à destruição do habitat de nidificação, segundo a Quercus.

Atualmente, a população portuguesa de Abutre-preto é de apenas nove a onze casais: um casal no Parque NaturaI do Douro Internacional, oito casais no Parque Natural do Tejo Internacional e dois casais recentemente instalados na ZPE (Zona de Proteção Especial para Aves) de Mourão-Moura-Barrancos.

“Este episódio de envenenamento poderá contribuir para a extinção regional da espécie e condicionar o regresso de populações reprodutoras estáveis no norte nos próximos anos”, receia a organização.

De 1992 a 2014 morreram envenenados 233 indivíduos de espécies protegidas em Portugal, segundo dados do Programa Antídoto, plataforma que reúne 29 entidades para combater o uso ilegal de venenos. No topo desta lista surgem 77 grifos, 29 lobos e 21 milhafres-reais. Mas também morreram ginetas, abutres-pretos, britangos, águias-reais, águias-d’asa-redonda e cegonhas-brancas.

A 12 de Março deste ano foi encontrada morta uma fêmea de lince-ibérico, envenenada, na zona de Mértola, no Alentejo.

Agora, cerca de dois meses depois, soube-se da morte de cinco abutres em Trás-os-Montes. Por isso, “a Quercus apela a que sejam reforçadas as capacidades analíticas e de deteção de venenos, nomeadamente através de criação de equipas caninas e do reforço dos laboratórios públicos que colaboram com o Programa.” A organização pede ainda sanções, como a suspensão de licenças, para as zonas de caça onde ocorram os envenenamentos, à semelhança do que já se faz em Espanha.

Além deste programa está a decorrer o projecto LIFE “Inovação Contra Envenenamentos”, co-financiado pelo Programa Life da União Europeia, para ajudar criadores de gado, caçadores e público em geral em oito áreas piloto em Portugal (no Tejo Internacional e em Mourão-Moura-Barrancos), Espanha e Grécia.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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