A maioria dos países europeus votou esta manhã para reduzir o estatuto de proteção deste predador de topo. Portugal terá dado o seu voto de apoio à proposta da presidente da Comissão Europeia, apesar de se tratar de uma espécie ameaçada a nível nacional.
Só a Espanha e a Irlanda terão votado contra a proposta, segundo uma notícia do Euractiv. A proposta que foi a votos estipula que o lobo deixa de ser considerado uma espécie “estritamente protegida”, passando a constar apenas como espécie “protegida” no âmbito da Convenção de Berna, como é conhecida a Convenção relativa à Conservação da Vida Selvagem e dos Habitats Naturais da Europa, adotada em 1979 e em vigor desde o início da década de 1980.
A alteração agora aprovada poderá facilitar ainda mais a caça ao lobo com objetivos de reduzir as suas populações em diferentes países europeus, com a justificação de proteger as manadas de gado, afirma a Birdlife International. O sim venceu graças à mudança de rumo da Alemanha, que alterou a sua decisão de se abster para um voto favorável à alteração do estatuto do lobo.
“Com esta decisão, os Estados-membros escolheram ignorar os apelos de mais de 300 organizações da sociedade civil e de centenas de milhares de cidadãos europeus, que lhes pediram para seguirem as recomendações científicas e aumentar os esforços para a coexistência com os grandes carnívoros, através de medidas preventivas”, acrescenta a Birdlife Internacional.
Já a ANP/WWF acusa o Governo português de ter alterado em duas semanas o seu sentido de voto, “abrindo um precedente e dando um passo muito perigoso ao contribuir para a desproteção da biodiversidade”. “Embora o objetivo da proposta que está a ser discutida seja aparentemente reduzir os conflitos entre o lobo e as comunidades rurais, as evidências científicas demonstram a ineficácia do abate para o conseguir”, sublinha a organização, que acrescenta que isso até pode ser “contraproducente”, pois poderá perturbar a estrutura social das alcateias.
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, tem sido acusada de utilizar a sua influência política para se vingar da morte trágica do seu pónei Dolly atacado por um lobo, em 2022.
Atualmente a espécie ainda está sob proteção estrita a nível europeu, tanto no que respeita à Convenção de Berna como no que toca à Diretiva Habitats. Todavia, vários países têm aplicado derrogações à legislação europeia, permitindo a caça deste predador de topo a nível nacional – seja de forma dirigida ou de forma mais geral. É o que tem sucedido por exemplo na Suécia e o que acontecia em Espanha até 2021.
Depois da votação desta quarta-feira, o próximo passo é a adoção formal da proposta pelo Conselho Europeu já esta quinta-feira, 26 de setembro, para que de seguida Bruxelas submeta o documento ao comité da Convenção de Berna. A votação final, no âmbito deste tratado internacional, está prevista para dezembro.
Em Portugal, perseguição ilegal mantém-se
Portugal continua a ser hoje um dos poucos países europeus onde o lobo tem estado totalmente protegido, não sendo permitida a sua caça. De acordo com o Livro Vermelho dos Mamíferos, em território nacional este carnívoro permanece Em Perigo de Extinção, estando presente sobretudo a norte do Douro e com algumas alcateias a sul desse rio.
No entanto, apesar de ser legalmente protegido, o lobo-ibérico – como é designada a subespécie que ocorre na Península Ibérica – continua a ser vítima de armadilhas e de caça ilegal dentro das fronteiras portuguesas. De acordo com dados avançados recentemente à Wilder pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, que assegura a manutenção do Sistema de Monitorização de Lobos Mortos, foram recolhidos 133 cadáveres entre 1995 e abril de 2023. Muitos tinham sido atropelados, mortos a tiro ou apanhados em armadilhas.
Nos últimos anos, a espécie tem sido alvo de vários projetos financiados por fundos comunitários, tanto para o investimento em medidas de proteção de gado, de forma a assegurar uma convivência saudável com os grandes carnívoros, como para a criação de medidas que facilitem o seu regresso a territórios de onde desapareceu há muitas décadas, como é o caso da Beira Interior.