Foto: Nuno Sá/Underwater Photographer of the Year

Underwater Photographer of the Year: Nuno Sá escolhido como Fotógrafo de Conservação do Ano

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Nuno Sá, fotógrafo e videografo subaquático português dedicado contar a histórias subaquáticas de comportamento da vida selvagem, venceu na categoria “Conservação Marinha” do concurso Underwater Photographer of the Year 2024, com a imagem da tentativa de salvamento de um cachalote na Fonte da Telha.

A fotografia aérea “Saving Goliath” retrata o momento em que um grupo de pessoas tenta salvar um cachalote que deu à costa na Fonte da Telha, Almada.

Foto: Nuno Sá/Underwater Photographer of the Year

A imagem foi recolhida em Abril de 2022 quando um cachalote com cerca de 12 metros de comprimento deu à costa gravemente ferido e um grupo de cerca de 30 banhistas tentou salvá-lo, empurrando-o de volta ao mar. 

Nuno Sá, alertado por uma bióloga marinha sua amiga que assistiu aos primeiros avistamentos do cachalote ferido, quando este se aproximava da costa, foi para o local munido de um drone que lhe permitiu acompanhar a tentativa de salvamento.

“Foi um misto de emoções ver um animal que estou tão acostumado a filmar, em diversas partes do nosso planeta em alto mar, ferido e moribundo a lutar para se manter à superfície”, comentou Nuno Sá em comunicado enviado à Wilder. “Mas foi também inspirador ver tantas pessoas a arriscar as suas vidas para tentar salvá-lo, estamos a falar de um animal que neste caso pesava mais de 30 toneladas e que estava ferido. Curiosamente, só depois de aterrar o drone e chegar junto da baleia percebi que a minha filha de 10 anos era uma das pessoas que a tentava salvar”.

Depois de várias horas, esta baleia acabou por morrer na praia, esmagada pelo seu próprio peso. Quando o seu enorme corpo foi virado pelas máquinas que o tentavam retirar confirmou-se que o lado do seu tronco que estava assente na areia apresentava cortes profundos, confirmando que esta era mais uma vítima de abalroamento por uma embarção.

“A baleia tinha sido atingida por um navio e o seu destino estava selado”, explicou Nuno Sá, em comunicado. “Estima-se que 20.000 baleias sejam mortas todos os anos, e muitas mais sejam feridas, depois de serem atingidas por navios. Poucas pessoas se apercebem de que isso acontece.”

A imagem venceu na categoria ‘Save Our Seas Foundation’ Marine Conservation Photographer of the Year 2024.

“Esta não é suposta ser uma categoria fácil de ver mas esta (imagem) tem um elemento visual agradável que criou um sentimento de confiança até ter lido a legenda e ter percebido que toda essa esperança e esforço se traduziu em nada. É triste, tão triste mas funciona a vários níveis”, comentou Peter Rowlands, membro do júri do concurso.

A caça comercial à baleia foi proibida na maioria dos países em meados da década de 70 e 80 do século passado. Mas desde então, outra ameaça continuou a crescer: o tráfego marítimo. O número de navios em todo o mundo quadruplicou nas últimas décadas, levando a um aumento exponencial do número de baleias mortas ou feridas devido ao embate com embarcações. A colisão com navios é hoje considerada a principal causa de morte de várias espécies de baleias, incluindo a baleia-franca-do-atlântico-norte, espécie em perigo de extinção e uma das espécies de cetáceos mais raras do mundo.

O fotógrafo espera que esta fotografia que irá ser vista por milhões de pessoas sirva de grito de alerta para esta situação. “Estes animais evoluíram ao longo de milhões de anos em que viveram em oceanos onde não havia poluição sonora e onde podiam comunicar e encontrar outras baleias na imensidão do oceano, não existia água contaminada com metais pesados ou plástico que se acumula nos seu corpo, e não existiam navios a navegar em praticamente todos os pontos do nosso planeta azul. No espaço de vida de um cachalote adulto passámos de os oceanos serem um ambiente seguro e silencioso para que mais de 20 mil baleias sejam mortas devido ao embate com navios em todo o mundo e muitas mais sejam feridas, uma realidade que acontece em alto mar e longe do olhar do público”.

“Os navios de transporte estão cada vez maiores e mais velozes e são cada vez mais os navios de passageiros a atravessar as nossas zonas costeiras”, salientou Ana Henriques, Técnica de Oceanos e Pescas da Organização Não Governamental ANP|WWF. “Para as baleias e para os golfinhos, o resultado é um maior risco de ferimentos e morte, devido a colisão, dado que algumas das rotas marítimas mais movimentadas do mundo se sobrepõem diretamente aos seus habitats.”

“São necessárias ações concretas de mitigação de causas de morte direta destes animais, nomeadamente adotando medidas de mitigação com eficácia comprovada, como evitar a circulação em áreas hotspot (de grande concentração e riqueza) para as baleias e golfinhos. A proteção da biodiversidade marinha faz-se em várias frentes, pelo que, no caso português, o investimento em mais meios de prevenção e resposta, assim como em mais investigação científica, contribuirá não só para aprofundar conhecimento sobre os corredores migratórios de megafauna marinha, como também para diminuir potencialmente estas ameaças por interferência humana.”

O grande vencedor deste ano do Underwater Photographer of the Year 2024 foi o sueco Alex Dawson com a fotografia “Whale Bones”.

“‘Whale Bones’ foi fotografada nas condições mais duras”, explicou Alex Mustard, do júri, “quando um mergulhador em apneia desce abaixo de uma placa de gelo no Gronelândia para ver as carcassas destes animais”.

Segundo Alex, “a composição (da imagem) convida-nos a pensar no impacto que temos nas maiores criaturas deste planeta”. O responsável lembrou que desde que existem humanos, os animais selvagens registaram um declínio de 85%. “Hoje, apenas 4% dos mamíferos são de espécies selvagens, os restantes 96% ou são humanos ou são gado. Precisamos mudar a nossa forma de vida para encontrar um equilíbrio com a natureza.”

Este concurso britânico, que contou nesta edição com mais de 500 participantes de mais de 40 países e a submissão de mais de 6500 fotografias, é considerado por muitos, o mais prestigiante concurso de fotografia subaquática do mundo. 

Na sua primeira edição, em 2015, o título de Underwater Photographer of the Year foi atribuído a Nuno Sá. O fotógrafo venceu o prémio internacional com a imagem “50 Tons of Me” (50 Toneladas de Mim) de um cavalo-marinho de focinho comprido (Hippocampus guttulatus) feita na Ria Formosa.

Em 2019, João Rodrigues venceu o 2º lugar na categoria Conservação Marinha do Underwater Photographer of the Year 2019 com a fotografia “Killing angels”, de uma raia-diabo (Mobula birostris). 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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