O tubarão-anequim (Isurus oxyrinchus) chega a atingir velocidades de 70 quilómetros por hora e é considerado o tubarão mais rápido do mundo. Mas isso não lhe basta para escapar ao impacto negativo da sobrepesca – algo em que Portugal e Espanha têm grandes responsabilidades, alertam organizações ambientais.
Também é conhecido por tubarão-mako e é uma das dezenas de espécies de tubarões que ocorrem ao largo da costa portuguesa, tanto no Continente como nos Açores e Madeira. Mas tal como em muitos outros casos, a sua presença é desconhecida do público em geral.
“A maioria das pessoas nem sabe que os tubarões existem em águas portuguesas e por isso não se preocupa com a sua situação”, nota Luís Alves, presidente da Associação Portuguesa para o Estudo e Conservação de Elasmobrânquios (APECE). Fundada em 1997, visa promover a conservação e o estudo de tubarões e raias.
Agora, um novo aviso divulgado por várias organizações internacionais dedicadas à conservação dos tubarões alerta que precisam de ser tomadas medidas para ajudar o tubarão-anequim, uma vez que até agora pouco terá sido feito.
Em causa está a última reunião realizada pela International Commission for the Conservation of Atlantic Tunas (ICCAT), organização de Estados-membros responsável pela conservação de atuns e de espécies semelhantes no Oceano Atlântico, no dia 19 de Novembro, na Croácia.
“A ICCAT recusou-se a rever e a emendar uma medida para uma das espécies em maior perigo sob a sua jurisdição e isso é simplesmente revoltante”, declarou Ali Hood, directora de conservação na Shark Trust, num comunicado da Shark League for the Atlantic and Mediterranean, que junta várias organizações.
“O tubarão-anequim é um dos tubarões mais valiosos economicamente, procurado pela sua carne, barbatanas e por desporto. Esta espécie oceânica é pescada por muitas nações à volta do globo, mas todavia não está sujeita a quotas internacionais de captura”, indica.
Espanha e Portugal são “campeões”
A União Europeia (UE) é a que mais pesca este tubarão no Atlântico Norte, com 65% das capturas entre Janeiro e Junho deste ano, indicam dados da Shark Trust citados pelo The Guardian. E dentro da UE, Espanha e Portugal surgem como os grandes responsáveis.
“O objectivo de melhoria é muito claro: se conseguirmos que Espanha e Portugal reduzam as suas capturas, então isso teria um impacto significativo na redução da mortalidade de anequins e na paragem da sobrepesca”, indicou Ali Hood, ao jornal britânico.
Luís Alves confirma que os dois países ibéricos são “campeões” na pesca a esta espécie, dentro da UE, mas avisa que os dados oficiais de capturas são de análise difícil. “Por vezes os tubarões não são bem identificados e há também pescadores que trocam as espécies nos registos, para poderem ultrapassar os limites impostos pelas quotas.”
Além da definição de quotas para a pesca do anequim, este investigador português considera que também seria essencial definir um limite mínimo de tamanho para as capturas. “Muitas pessoas vêm tubarões com um metro e meio de comprimento e pensam que já são grandes, mas na verdade podem ainda não ter atingido a maturidade.”
As fêmeas de anequim, por exemplo, só começam a reproduzir-se aos 18 anos de idade e têm poucas crias, o que torna a espécie especialmente vulnerável à sobrepesca.
De acordo com um estudo internacional recente, a população de anequins do Atlântico Norte teria cerca de 50% de hipóteses de apresentar sinais de recuperação em 2040, caso as capturas fossem reduzidas para zero já a partir de 2018.
Vítimas da pesca ao espadarte
Muitas vezes os anequins, à semelhança das tintureiras – outra espécie de tubarão – são considerados uma captura acidental da pesca ao espadarte, relata o presidente da APECE. “As duas espécies ocupam a mesma área de distribuição do espadarte. Sabemos que estes tubarões chegam a representar 70% das capturas nesta pesca.”
A carne de espadarte é mais valiosa no mercado, mas como a captura desta espécie está limitada por quotas, “se não fossem os tubarões a pesca deste peixe tornava-se economicamente inviável.”
Além de ser procurado para consumo em Portugal, o anequim também é alvo de exportação – nomeadamente, as barbatanas, em direcção aos países do Extremo Oriente, como a China.
Uma medida que de alguma forma veio ajudar a espécie foi a obrigação, dentro da UE, de descarregar os tubarões pescados ainda com a barbatana agarrada ao corpo. “Evitou-se assim uma prática muito cruel, pois os anequins eram devolvidos à água sem barbatanas, onde se afogavam em sofrimento. E passou também a haver menos espaço nos porões para a pesca destes animais”, acredita Luís Alves, que trabalha como investigador ligado ao MARE-Centro de Ciências do Mar e do Ambiente e ao grupo Lemos Lab do Instituto Politécnico de Leiria.
[divider type=”thin”]Saiba mais.
Conheça cinco factos sobre os 73 tubarões do Oceanário de Lisboa.