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Três perguntas ao homem que descobriu uma nova espécie de papagaio

29.06.2017

Esta semana ficámos a conhecer a existência de uma nova espécie de ave, o papagaio-das-asas-azuis (Amazona gomezgarzai), no México. O nome científico homenageia Miguel Angel Gómez Garza, o veterinário de vida selvagem que a descobriu. A Wilder fez-lhe três perguntas.

 

Wilder: Há cerca de 30 anos que estuda os papagaios do México. Descobrir esta nova espécie foi uma surpresa?

Miguel Angel Gómez Garza: Sim, especialmente porque a encontrei num lugar que tem sido visitado por investigadores e observadores de aves. Foi no início de 2014, quando estava a fazer um último percurso pela Península do Iucatão para recolher informação para o meu livro Loros de México, publicado no final desse ano. Naquele lugar existem outras duas espécies do género Amazona, de tamanho muito semelhante e que à distância se podem confundir.

 

Fêmea de papagaio-das-asas-azuis. Foto: Tony Silva

 

W: Naquele momento, o que lhe despertou a atenção? 

Miguel Angel Gómez Garza: Foi, sem dúvida, o som que estas aves faziam. Reparei que, a dada altura, um pequeno grupo de papagaios chegou a uma árvore nativa, repleta de vagens tenras. Mas o som que faziam era muito diferente dos outros papagaios. E depois, nem podia acreditar porque, ao contrário das duas espécies conhecidas que têm a frente da cabeça branca, as aves deste grupo tinham uma frente de um vermelho intenso. Ao vê-los voar dei-me conta da linda cor azul brilhante das asas, que apenas se aprecia quando as estendem. Depois, como professor da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Nuevo León, em Monterrey, México, comecei a fazer visitas frequentes a esse lugar, com o apoio da Fundação Black Jaguar – White Tiger. Finalmente pude trazer dois indivíduos vivos, que são os que se utilizaram para descrever esta nova espécie, graças ao apoio das autoridades da Procuradoria Federal de Protecção do Ambiente (PROFEPA). Felizmente, e considerando a raridade da nova espécie, não foi necessário sacrificar nenhum indivíduo. Acredito que esta é a primeira vez na história recente que se faz uma descrição sem ter de chegar a isso.

W: Enquanto veterinário, o Miguel trabalha na recuperação de papagaios resgatados ao cativeiro e comércio ilegal para os devolver à natureza. Como é esse trabalho?

Miguel Angel Gómez Garza: O trabalho de reabilitação de papagaios é lento e custoso. Na verdade, se as pessoas soubessem o quão difícil é, seguramente diminuiria o tráfico de espécies. A lei que proíbe a comercialização no México desde 2008 apenas serviu para aumentar o tráfico ilegal. Na Fundação Black Jaguar White Tiger, na qual sou director científico, estamos a trabalhar na conservação de psitacídeos (ordem de aves onde se incluem os papagaios), nomeadamente na reprodução em cativeiro de espécies prioritárias e na reabilitação de animais e sua devolução à natureza. Este trabalho, em parceria com a Universidade Autónoma de Nuevo León, passa por desenvolver um novo método para devolver à natureza os animais livres de patogéneos, sem expor as populações silvestres às doenças.

 

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Miguel Angel Gómez Garza, 57 anos, tem-se dedicado nas últimas três décadas ao estudo dos papagaios do México. Em 2014 publicou o livro Loros de México (Papagaios do México). Conheça mais sobre o seu trabalho na Fundação Black Jaguar White Tiger.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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