Hugo Gaspar, 27 anos, começou a interessar-se por insetos no segundo ano da licenciatura, quando deu início à sua coleção particular dedicada a estes espécimes. Alia esse gosto ao interesse por plantas e à auto aprendizagem constante no trabalho que desenvolve dentro do FLOWer lab, grupo de investigação ligado à Universidade de Coimbra. Fique a conhecer melhor o autor principal da nova crónica da série Guardiões das Flores, publicada esta quarta-feira na Wilder.
O que estás a fazer atualmente, como investigador?
Desde Setembro de 2023 que sou bolseiro de doutoramento em Biociências na Universidade de Coimbra. O meu trabalho debruça-se sobre as abelhas selvagens de Portugal, com o objetivo de melhorar o conhecimento sobre a sua distribuição e fenologia e criar ferramentas para facilitar a sua identificação.
Como investigador, tenho uma série de tarefas constantes associadas ao computador, como escrita de artigos científicos, tratamento de dados, etc., que são comuns de uma forma ou de outra a todos os investigadores. Na componente mais prática, o meu trabalho tem uma divisão clara entre os meses de observação e amostragem de polinizadores durante a primavera e verão e a preparação e identificação de espécimes da coleção FLOWer lab, no Departamento de Ciências da Vida (e que se estende a outras coleções), durante o outono e inverno. Este é o ciclo de um investigador que estuda os polinizadores em Portugal.
E como é que começaste?
Desde Setembro de 2015 que sigo a minha carreira académica e científica na Universidade de Coimbra, tendo começado a colaborar com o FLOWer Lab em Setembro de 2018, grupo de investigação onde estou inserido desde então.
Como aprendeste a fazer o teu trabalho?
O conhecimento que aplico diariamente partiu do que adquiri na licenciatura em Biologia (2015-18) e no Mestrado de Biodiversidade e Biotecnologia Vegetal (2018-20). No entanto, aprende-se todos os dias, e o facto de trabalhar em grande parte numa área específica como a Taxonomia de Insetos obrigou-me a desenvolver uma boa capacidade de auto aprendizagem, uma vez que o ensino nesta área é praticamente inexistente na minha instituição de formação. Nesta área em específico, para mim, esta aprendizagem tem-se baseado na possibilidade de estudar muitos espécimes (novas colheitas ou coleções históricas), artigos científicos e algumas interações com especialistas europeus.
No fim do meu mestrado, trabalhei dois anos e meio como técnico de investigação, o que me permitiu desenvolver-me um pouco mais dentro da área pela qual viria a enveredar no doutoramento. A isto juntam-se os anos que vou acumulando de participação em projetos que me vão dando bagagem em diferentes sistemas de estudo e contextos, com algumas experiências de aprendizagem especializada pelo meio.
Quando começaste, o que pensavas que querias fazer?
Uma vez que a minha vida profissional se tem reservado quase em exclusivo à esfera académica, existe um percurso que começa desde o primeiro ano académico até à atualidade. No geral, a paixão pelo conhecimento da vida como um todo foi o que me guiou no início, sem saber muito bem onde me iria fixar. Continuo a gostar de muitas áreas diferentes, mas existem escolhas que têm que ser feitas mais tarde ou mais cedo. Em particular, comecei a interessar-me por insetos no meu segundo ano de licenciatura, quando comecei a minha coleção de insetos particular.
Esta coleção surgiu porque já tinha gosto por colecionar coisas e no mesmo dia encontrei uma borboleta zebra e um escaravelho rinoceronte, mortos, e por curiosidade procurei no Youtube como os poderia preservar em coleção! Queria aliar esse gosto ao gosto que também tenho por plantas, e assim apareceu a oportunidade no FLOWer lab – na interação entre polinizadores e plantas.
Nunca me segui por uma imagem daquilo que queria fazer ou do que vou fazer, porque estou constantemente a aprender o que é estar onde estou; neste caso, nos diferentes patamares académicos e profissionais. Sigo de forma muito natural, sem pensar muito no futuro, porque fruto dos tempos ou simplesmente do caminho que segui, não existem garantias de nada.
O que ainda te falta descobrir?
Felizmente, na ciência, nunca acabam as descobertas e, na minha área, estou seguro que a maioria está por fazer, e fazem-se enquanto houver interesse e financiamento. Vivo a ciência apaixonado pelo que faço e com um sentido de missão por trazer o maior número de descobertas, ou facilitar esse progresso no futuro.
As abelhas selvagens, que são neste momento o meu objeto de estudo principal, são um elo desconhecido para as pessoas (na ciência e fora dela), que sustenta, juntamente com a restante biodiversidade, o nosso modo de vida. A produção de conhecimento futuro tem como ponto de partida saber dizer a que espécie pertence cada abelha, depois as flores onde se alimentam e que polinizam, e ainda, por exemplo, a sua dinâmica de necessidades básicas e possibilidades de conservação. Não será por falta de coisas por descobrir que não continuarei a minha missão.
Descubra quem são e quantos animais polinizadores existem em Portugal, numa crónica que tem como autor principal Hugo Gaspar.