Rola-brava. Foto: Mourad Harzallah/WikiCommons

SPEA: suspensão da caça à rola-brava teve efeitos positivos

04.09.2024

A suspensão da caça à rola-brava (Streptopelia turtur), espécie que registou um declínio de 80% nos últimos 40 anos na Europa, teve “efeitos positivos”, constata a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).

Em comunicado, a SPEA avança que “há hoje mais 400 mil casais desta espécie na Europa ocidental do que em 2021”, graças à moratória em Portugal, Espanha e França. Este número faz parte de um relatório apresentado pelo Instituto de Recursos Cinegéticos de Espanha ao grupo de trabalho de recuperação de aves da União Europeia. A análise foi baseada no programa europeu de monitorização de aves comuns que inclui dados do Censo de Aves Comuns em Portugal, coordenado pela SPEA.  

“Estamos a falar de uma espécie que sofreu um declínio de 80% na Europa nos últimos 40 anos. Portanto um aumento de 400 mil casais na Europa Ocidental é um sinal de esperança e uma prova de que a moratória à caça tem resultado, sobretudo se pensarmos que nestes dois anos esta região, e em particular a Península Ibérica, tem sofrido situações de seca e calor extremo, que não são favoráveis à rola-brava nem a qualquer outra ave,” disse Hany Alonso, técnico da SPEA e coordenador do Censo de Aves Comuns.   

Em Portugal, a rola-brava apresentava evidências de forte declínio desde o início dos anos 90. O mais recente relatório do Censo de Aves Comuns avalia a tendência da espécie no nosso país como incerta.   

A rola-brava é uma espécie migratória. Na Europa subdivide-se em duas populações, consoante a rota que toma de e para África todos os anos: a população da Europa Ocidental – que passa o verão em Portugal, Espanha, França e nordeste de Itália e migra para sul pelo estreito de Gibraltar – e a população da Europa central e de leste, que toma a rota oriental.  

Face às tendências negativas da espécie a nível internacional, em 2021 o grupo de trabalho do Plano Europeu de recuperação da espécie concluiu que o número de rolas-bravas na Europa Ocidental era tão baixo que qualquer exploração cinegética seria insustentável. Na sequência dessa deliberação, a Comissão Europeia recomendou uma moratória à caça e os Governos de Portugal, Espanha e França suspenderam a caça à rola-brava.

“Os resultados começam agora a notar-se, com a população ocidental a registar um aumento, enquanto a população oriental, que continuou a ser caçada, está em declínio.”   

Muitos caçadores foram favoráveis à suspensão temporária da caça à rola-brava, entendendo a sua necessidade, segundo a SPEA. Em Portugal, já em 2019 as organizações ambientais da Coligação C6 haviam assinado um memorando de entendimento com as entidades representativas do setor da caça (ANPC, CNCP, FENCAÇA) e os institutos públicos relevantes (ICNF e INIAV), que levou a uma redução progressiva dos períodos de caça a esta espécie. Em 2021 foi decretada a proibição temporária de caça à espécie, que tem sido mantida desde então.  

“Este aumento de rola-brava é encorajador, mas para garantir que a recuperação se mantém será fundamental implementar medidas eficazes de restauro e gestão do seu habitat, tanto em Portugal como a nível internacional”, sublinhou Hany Alonso.  

A rola-brava é uma espécie protegida no âmbito da Diretiva Aves e considerada ameaçada de extinção pela União Internacional de Conservação da Natureza. Na época venatória de 2021-2022, Portugal, num esforço conjunto com França e Espanha, proibiu temporariamente a caça da rola-brava, uma medida que o Governo decidiu prolongar para as épocas venatórias de 2022-2023 e 2023-2024.

Mas a Coligação C6 alerta que a exploração cinegética “não é a única causa” do declínio da espécie, que é também afectada pela “diminuição e perda de qualidade do habitat, quer de alimentação quer de nidificação”. Por isso, os seus membros defendem a definição de uma “estratégia articulada para a promoção de uma gestão sustentável do habitat”, que inclua medidas concretas e instrumentos financeiros para ser aplicada.


Saiba mais sobre a rola-brava aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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