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Foto: Wiki Commons

Spea preocupada com ninhos de águia-de-bonelli na Serra de Monchique

10.08.2018

O incêndio na Serra de Monchique poderá ter afectado directamente quatro ninhos de águia-de-bonelli (Aquila fasciata), espécie que tem ali um dos mais importantes núcleos em Portugal, alerta a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea).

 

“Pelos dados que temos disponíveis, há pelo menos quatro casais que nidificam na zona que já ardeu, com vários ninhos que poderão ter desaparecido com o fogo”, disse Joaquim Teodósio, coordenador do Departamento de Conservação Terrestre daquela associação, em comunicado divulgado hoje.

Segundo o especialista, “há outros casais com territórios próximo, que também podem ter sido afetados ou ainda estar em risco”.

A Serra de Monchique, classificada internacionalmente como Área Importante para as Aves e a Biodiversidade (IBA, sigla em inglês), alberga um dos núcleos populacionais mais importantes para esta espécie em Portugal. Agora, segundo a Spea, pelo menos quatro casais poderão ser diretamente afetados pelo fogo que lavrou na zona de 3 a 9 de Agosto.

Para esta águia, aquela serra tem sido, a par da serra do Caldeirão, “um importante refúgio nos últimos anos”. O número de águias-de-bonelli em Portugal diminuiu drasticamente nos anos 80.

“Apesar de esse declínio ter continuado no Norte do país, onde na última década a população desta espécie se viu reduzida em 40%, no Sul do país as populações têm-se expandido com tanto sucesso que inverteram a tendência nacional.”

Parte do segredo desse sucesso, acrescenta a Spea, poderá ter sido um comportamento que contribui para que estejam agora mais ameaçadas pelo fogo. “No Sul de Portugal, em vez de fazerem os ninhos maioritariamente em escarpas, nas rochas, as águias preferem nidificar em árvores de grande porte,” explicou Joaquim Teodósio. “Por isso, há o risco de o fogo destruir não só os ninhos mas também as outras árvores em que estes casais poderiam fazer ninhos novos.”

“Se forem afetadas áreas importantes dentro dos territórios e houver casais que fiquem sem sítio onde nidificar ou se alimentar, é possível que haja uma reorganização, que os casais tenham que se redistribuir pela floresta e usar o espaço de forma diferente, como vimos acontecer na serra do Caldeirão, depois do incêndio em 2012” diz Rita Ferreira do Grupo de Trabalho em Águia-de-bonelli da Spea.

Além do impacto directo sobre os ninhos, este incêndio terá certamente causado a morte de perdizes, pombos, coelhos e outras presas de que as águias dependem, pelo que nos próximos tempos é provável que enfrentem escassez de alimento.

“As consequências para a fauna e flora poderão ser significativas num incêndio desta dimensão e a sua recuperação irá depender das espécies e da extensão das populações que são afetadas”.

“Neste momento, ainda não é possível saber qual vai ser o impacto concreto. Apesar de os fogos serem frequentes neste tipo de habitas, neste caso são áreas incrivelmente extensas”, disse o especialista. “Só mais tarde, no rescaldo do fogo e com um acompanhamento a longo prazo das aves, é que vamos poder aferir as consequências.”

 

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Descubra sete curiosidades sobre a águia-de-bonelli, também chamada de águia-perdigueira.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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