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O sisão é uma das espécies que poderão ser mais afectadas pela construção da barragem, afirma a C6. Foto: Pierre Dalous/Wiki Commons

Sisões preferem abrigar-se do calor a cortejar uma parceira

17.09.2019

Novo estudo científico alerta para o efeito que o aumento das temperaturas ligado às alterações climáticas poderá ter sobre o sisão e outras espécies de aves e mamíferos.

Uma equipa internacional de cientistas, coordenada pelo investigador João Paulo Silva, do CIBIO-InBIO, decidiu investigar qual o impacto que as alterações climáticas vão ter na reprodução do sisão (Tetrax tetrax).

“Uma das espécies de aves mais ameaçadas na Europa, o sisão tem sofrido decréscimos populacionais significativos nas últimas décadas, devido à perda de habitat”, explica um comunicado divulgado pelo CIBIO-InBIO, laboratório de investigação ligado à Universidade do Porto. 

Os resultados desta investigação, publicados esta semana na revista Plos One, indicam que a situação pode piorar: “Com temperaturas elevadas,  estes animais reduzem o tempo que estão em parada para atrair fêmeas para se abrigarem do calor.”

Sisão. Foto: Pierre Dalous/Wiki Commons

É entre os meses de Abril e Maio que os machos de sisão estão na época reprodutora, durante a qual passam boa tarde do seu tempo em parada, na tentativa de atraírem fêmeas para acasalar.

Nesta altura, formam territórios designados por ‘leks’, nos quais fazem as suas paradas, ou seja, “levantam o pescoço e emitem um som que soa como um bufar”. “Também usam essa exibição para delimitar o seu território dos machos concorrentes”, descreve a equipa, na qual participaram outras seis instituições, incluindo a Universidade de East Anglia, no Reino Unido.

Este comportamento dos machos está fortemente ligado à temperatura, hora do dia e período de acasalamento, concluíram os cientistas.  “Verificamos que ao longo do dia, conforme a temperatura aumenta, a probabilidade de os machos vocalizarem diminui. Entre os 20 e 30 °C não há alterações, mas acima desta temperatura as vocalizações voltam a decrescer”, explica João Paulo Silva. 

Mais calor, aves com menos paradas

A confirmar-se o aumento de temperaturas previsto até 2100, deverá haver uma redução de até 10% na actividade média de parada dos sisões, indica o mesmo estudo. Essa mudança poderá afectar também a forma como as fêmeas escolhem os parceiros, tendo consequências no sucesso reprodutor desta espécie.

“Os sisões que vivem na Península Ibérica já estão expostos a algumas das temperaturas mais altas dentro da área de ocorrência da espécie. Infelizmente, as consequências potenciais da exibição reduzida, combinadas com outras ameaças existentes como a perda de habitat, podem levar essas espécies ameaçadas à extinção local e regional”, explica João Paulo Silva. 

Machos seguidos por GPS

No âmbito da investigação, a equipa recorreu a aparelhos de seguimento remoto (acelerómetros GPS/GSM), com os quais monitorizou o comportamento de 17 machos da espécie no Alentejo e na Extremadura Espanhola durante o período reprodutor.

Estes aparelhos conseguiram registar também a aceleração 3D do corpo dos animais, resultados que foram comparados com filmagens do comportamento reprodutor realizadas em simultâneo com os registos feitos por estes acelerómetros. Isso permitiu aos investigadores “determinar a ‘assinatura’ ou padrão de aceleração do animal em parada reprodutora.”

Estes acelerómetros foram desenvolvidos pela Movetech Telemetry, parceria científica que envolve a Universidade de East Anglia, o British Trust for Ornithology, o CIBIO-InBIO e a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que trabalham juntos para desenvolver soluções de seguimento remoto de animais. 

Os resultados do novo estudo dizem respeito aos possíveis efeitos das alterações climáticas não só no sisão, mas também noutras aves e mamíferos que exibem o mesmo tipo de comportamento durante a época de reprodução, indica também a equipa.

Por outro lado, demonstram “como os dados de acelerómetros e tecnologia de seguimento remoto podem ser usados para responder a perguntas com importantes implicações de conservação.” 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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