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O investigador Filipe Ribeiro, coordenador do estudo, segurando num siluro. Foto: EFE/J.J. Guillen

Siluros no Tejo: Capacidade de reprodução deste invasor surpreende os cientistas

19.03.2025

Novo estudo sobre este predador de topo que pode chegar quase aos três metros analisou quase 700 peixes capturados no maior rio português.

Um novo estudo dedicado ao siluro (Siluris glanis), o primeiro sobre a sua biologia reprodutora na Península Ibérica, descobriu que a época de reprodução se prolonga por quase cinco meses nas águas portuguesas do Baixo Tejo, de fevereiro até junho. Este é o período reprodutivo mais prolongado desta espécie já publicado em artigos científicos, o que os investigadores atribuem à temperatura do rio e aos recursos alimentares disponíveis.

Os resultados desta investigação feita por investigadores do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), foram publicados pelo Journal of Vertebrate Biology, da Academia de Ciências da República Checa.

Sabe-se hoje que o siluro é um predador de topo muito flexível, que se consegue alimentar de espécies muito diferentes, desde peixes a crustáceos. Tem também uma grande capacidade reprodutiva, com “até meio milhão de oócitos”, indica uma nota de imprensa da FCUL.

Detetado pela primeira vez em águas portuguesas em 2014, também conhecido por peixe-gato-europeu, este é o maior peixe de água doce da Europa, onde é nativo de grandes rios da Europa Central. Pode chegar aos 2,8 metros de comprimento e a um peso de 130 quilos. Tem dado muito que falar pelas grandes dimensões que atinge e pela sua presença em grandes números no Tejo, que ameaçam a biodiversidade e a pesca neste rio.

“Esta espécie invasora atinge grandes proporções e há uma relação direta entre o volume da cavidade abdominal e o número total de oócitos produzidos”, explicou o primeiro autor do trabalho, Christos Gkenas, citado na nota de imprensa. Além da duração da época reprodutiva, a equipa foi também surpreendida pelo tamanho dos oócitos destes peixes encontrados no Tejo, uma vez que “são bastante grandes, podendo atingir quase três milímetros de diâmetro”, acrescentou o investigador.

Os quase cinco meses durante os quais estes peixes invasores se reproduzem facilita também a sobrevivência das novas gerações caso ocorram por exemplo cheias de primavera, concluiu a equipa. Além do mais, os juvenis não têm tanta necessidade de competir por alimento. Os investigadores descobriram também que estes siluros, tanto machos como fêmeas, chegam à maturidade sexual logo aos 70 centímetros de comprimento, com três anos de idade, “sendo bastante precoce dado que esta espécie pode viver até aos 70 anos”.

“Densidades elevadas” de siluros em áreas protegidas, avisa investigador

Entre janeiro de 2022 e novembro de 2023, para este estudo foram capturados quase 700 siluros nas águas portuguesas do Baixo Tejo, através da pesca elétrica e também com redes de emalhar. A investigação realizou-se no âmbito do LIFE Predator e foi a primeira sobre a biologia reprodutiva de siluros na Península Ibérica, sendo uma das poucas realizadas em áreas onde a espécie é invasora.

“O nosso trabalho é importantíssimo para o controlo populacional desta espécie, isto porque os nossos esforços deverão focar-se na remoção de indivíduos de maiores dimensões, que apresentam maiores fecundidades”, indicou Filipe Ribeiro, coordenador deste estudo e também investigador no MARE.

“As densidades destes animais são elevadas, particularmente nas áreas protegidas como o Parque Natural do Tejo Internacional”, avisou também. “Ainda em outubro, no âmbito do LIFE Predator, retirámos cerca de 1200 quilos de siluros, cerca de 100 indivíduos em apenas três dias, mum pequeno troço de 10 quilómetros do rio Ponsul.”

Filipe Ribeiro sublinhou ainda que neste momento é “essencial” que sejam constituídas equipas de captura e remoção de siluros, “para mitigar o impacto deste enorme invasor em Portugal”.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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