PUB

Cegonha-branca. Foto: Matthias Barby/Wiki Commons

Saiba como o clima está a mudar as migrações de aves no Estreito de Gibraltar

29.01.2016

O biólogo espanhol Alejandro Onrubia estuda há 20 anos a migração das aves pelo Estreito de Gibraltar. Saiba o que ele descobriu sobre o impacto que as alterações climáticas já estão a ter na viagem de cerca de 500.000 aves.

 

Todos os anos, entre 425.000 e 500.000 aves de rapina e cegonhas de 30 espécies atravessam o Estreito de Gibraltar. Duas vezes. Uma na Primavera (de Sul para Norte, chegam à Europa para a reprodução) e outra no Verão (regressam a África para Invernar). Estes números foram estimados por Alejandro Onrubia na sua tese de Doutoramento, recentemente defendida na Universidade de Leão, noticia a agência espanhola EFE, que falou com o investigador.

Onrubia, coordenador do programa de seguimento de aves naquele estreito para a Fundación Migres, continuou o trabalho do ornitólogo Francisco Bernis, nos anos 70 do século XX. Hoje, a sua tese terá a base de dados mais completa sobre esta migração, o que lhe permite dizer que os censos das últimas décadas “reflectem alterações significativas” no calendário desta migração e no número de aves. As maiores mudanças aconteceram de 1976 a 1999.

Uma das suas conclusões é que aves como as cegonhas-brancas (Ciconia ciconia) e o milhafre-preto (Milvus migrans) estão a atrasar a viagem entre 1,1 e 4,2 dias por década. Já as cegonhas-pretas (Ciconia nigra), águias-cobreiras (Circaetus gallicus) e bútios-vespeiros (Pernis apivorus) estão a antecipar a migração entre 1 e 2,5 dias por década.

O biólogo também registou as espécies de origem africana que são cada vez mais frequentes nesta migração, como o grifo-de-ruppell (Gyps rueppellii) e o bútio-mouro (Buteo rufinus).

Nos últimos anos, Invernos mais amenos têm feito com que várias aves deixem de migrar para África, ficando na Europa. Tais são os casos da cegonha-branca, do milhafre-preto e do bútio-comum (Buteo buteo), por exemplo. Esta última espécie aumentou a sua população residente na Europa e reduziu os indivíduos que passam pelo Estreito.

“As aves respondem às alterações climáticas tentando adaptar-se às novas condições climatéricas, porque o importante na migração é chegar ao lugar adequado, para invernar ou para se reproduzir, e no momento certo”, explicou o biólogo à EFE.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Acompanhe a migração das aves que passam pela Costa Vicentina, com a ajuda do correspondente da WILDER, Nuno Barros.

Conheça o trabalho da investigadora Joana Costa com os abelharucos que vão passar o Inverno a África.

Fique ainda a saber tudo sobre a migração das aves, com João E. Rabaça, da Universidade de Évora.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

Don't Miss