Este ano foram reintroduzidas na natureza 18 crias de quebra-ossos (Gypaetus barbatus), o abutre mais ameaçado da Europa, em quatro projectos de conservação da espécie: seis na Andaluzia, duas na Córsega, quatro em Grands Causses/Massif Central e seis nos Alpes/Pré-Alpes.
Todas as aves estão bem menos duas que morreram, segundo um comunicado divulgado nesta terça-feira pela Fundação para a Conservação dos Abutres (Vulture Conservation Foundation, VCF).
Senza, uma fêmea libertada na Suíça, morreu um dia depois, a 23 de Junho, após uma noite de grande tempestade. “Quase de certeza caiu de um penhasco por causa dos ventos fortes e, devido à sua inexperiência, não terá conseguido controlar as fortes correntes, tendo morrido de traumatismo grave”, acrescenta a VCF.
Além de Senza, também Freddie não sobreviveu. Esta fêmea foi libertada em Vercors e foi encontrada morta a 24 de Julho. A causa da morte ainda está por apurar, estando a necropsia prevista para este mês.
Os conservacionistas conseguiram encontrar estas duas aves graças aos equipamentos de localização que levavam, “essenciais para monitorizar onde se encontram e como sobrevivem”.
“Libertar quebra-ossos na natureza é uma operação complexa”, lembrou aquela fundação. “Normalmente, as aves são colocadas em pares numa plataforma durante várias semanas antes de conseguirem voar e são alimentadas à noite ou através de uns tubos de cima dos penhascos para evitar o contacto com humanos.”
Depois de começarem a voar, a quantidade de alimento que lhes é disponibilizada vai sendo reduzida a pouco e pouco, para as encorajar a encontrar comida sozinhas.
Durante os cerca de três meses que durou toda esta operação, nas montanhas da Europa, várias equipas de técnicos e voluntários vigiaram estes quebra-ossos 24 horas por dia, normalmente a partir de uma cabina ou abrigo a mais de um quilómetro de distância.
O quebra-ossos é o abutre mais ameaçado da Europa. Há 200 anos, estes abutres viviam em todas as zonas montanhosas do Sul da Europa, desde a Península Ibérica até aos Balcãs. Hoje estima-se que a população total europeia (incluindo a Turquia e a Rússia) seja entre 600 e 1.000 casais, segundo números da VCF. Haverá cerca de 100 nos Pirinéus, oito na Córsega, 10 em Creta e 20 nos Alpes. As causas do seu progressivo desaparecimento passam por menor disponibilidade de alimento e perseguição humana.
Em Portugal, a espécie está dada como extinta. Não se conhecem registos da sua ocorrência desde o final do século XIX, segundo o livro “Aves de Portugal” (2010). O registo mais preciso é de 1888 quando duas aves foram abatidas no rio Guadiana. Os exemplares estão hoje no Museu de Zoologia da Universidade de Coimbra.
[divider type=”thick”]Saiba mais sobre o quebra-ossos:
Tamanho: 100-115 centímetros
Peso: 4,5-7,1 kg
Envergadura da asa: 250-285 cm
Esperança média de vida: até 40 anos em cativeiro