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Projecto para ajudar aves marinhas e pescadores vence 3ª edição do Fundo InAqua

21.01.2016

Uma equipa de 16 pessoas trabalha há vários anos em portos e a bordo de embarcações para ajudar a travar a morte das aves marinhas que seguem os barcos de pesca. Este trabalho foi o grande vencedor do InAqua – Fundo de Conservação, revelado esta manhã no Oceanário de Lisboa.

 

É entre os meses de Junho e Setembro que nas águas da ZPE Aveiro/Nazaré (Zona de Protecção Especial) se juntam mais aves marinhas, como as gaivotas, pardelas-baleares ou alcatrazes. Para todas o desafio é o mesmo: procurar alimento mais fácil junto aos barcos e sobreviver.

As aves são atraídas pelas embarcações, uma vez que estas trazem mais à superfície peixes muito apetecidos pelas aves, como por exemplo as sardinhas. Dezenas ou mesmo centenas de aves seguem as embarcações e mergulham por baixo das redes, também elas à pesca.

“Se por alguma razão algo corre mal e a rede se afunda, podem morrer até 200 aves de uma só vez”, conta José Vingada, presidente da Sociedade Portuguesa de Vida Selvagem. Para espécies como a pardela-balear (Puffinus mauretanicus), a ave marinha mais ameaçada da Europa, este é um problema de conservação.

 

Pardela-balear

 

José Vingada é categórico. Hoje, não restam dúvidas de que a captura acidental de aves marinhas nas artes de pesca é um problema. “Temos dados que o confirmam, de forma consistente, pelo menos desde 2010.”.

Este responsável falava à Wilder no Grande Auditório do Oceanário de Lisboa, momentos depois de ter recebido o primeiro prémio InAqua, no valor de 15.000 euros, da 3ª edição deste Fundo criado para apoiar projectos de conservação de espécies ameaçadas e da biodiversidade aquática. Este ano o tema foi “Aves marinhas – entre a terra e o mar”.

O projecto “Capredux – Redução das Capturas Acidentais de Aves Marinhas na Zona de Protecção Especial Aveiro-Nazaré” foi o escolhido entre 10 projectos apresentados por seis instituições. A equipa vencedora reúne peritos da Sociedade Portuguesa de Vida Selvagem e das universidades do Minho e de Aveiro.

“Este projecto foi o vencedor por ser aquele que melhor preenchia os requisitos do Fundo, nomeadamente a qualidade científica, a possibilidade de aplicação e continuidade, a componente in situ e o envolvimento das comunidades para a conservação”, explicou Núria Baylina, curadora do Oceanário de Lisboa.

Actualmente, a equipa do projecto conta com a colaboração de 40 embarcações de pesca –  arrasto, de cerco, com redes – na maior Zona de Protecção Especial marinha de Portugal Continental, a ZPE de Aveiro/Nazaré, criada em Agosto.

Segundo explicou José Vingada, o Capredux está a testar vários sistemas de afastamento das aves marinhas em relação aos barcos de pesca, como os sistemas acústicos (uma espécie de megafones) e ópticos (lasers). Outra linha de actuação é a interdição temporal da pesca. A equipa está a avaliar a eficácia destas abordagens, todas elas de aplicação voluntária pelos pescadores.

“Não existe uma solução fácil, miraculosa e generalista”, diz José Vingada. “Acredito que, para Portugal, a solução terá de ser mista e vista caso a caso.” E sublinha o papel dos pescadores. “Os pescadores com quem trabalhamos estão dispostos a ajudar, até porque sofrem danos com estas concentrações de aves”.

Antigamente havia uma forma de pensar diferente neste sector. “Dantes, o mais habitual seria esconderem as situações de captura acidental de animais. Mas nos últimos cinco anos tem havido uma abertura maior. É preciso haver cooperação. Os pescadores precisam de saber que não os queremos punir”, mas sim trabalhar com eles, acrescenta.

Actualmente são cerca de 30 as espécies de aves marinhas que ocorrem regularmente na costa continental portuguesa, segundo a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea). São o grupo de aves mais ameaçado do mundo.

 

Ganso-patola
Ganso-patola

 

Este ano o Fundo InAqua – promovido pelo Oceanário de Lisboa e pelo National Geographic Channel – foi financiado pelo Il Caffè di Roma, Hard Rock Cafe Lisboa, Event Network, GlobalSea Travel e 21º Super Bock Super Rock.

“Cavalos-marinhos em risco na Ria Formosa” e “Deep reefs” foram os dois projectos vencedores da primeira edição do InAqua, em 2010. O projecto Paeloris, dedicado às espécies nativas de bivalves de água doce, foi o grande vencedor da 2ª edição, em 2013.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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