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Por que tem hoje o doodle da Google cinco aves e uma ornitóloga?

09.06.2016

Não é todos os dias que abrimos o motor de pesquisa Google e nos aparece uma ornitóloga, de chapéu na cabeça e binóculos pendurados do pescoço, no meio de uma floresta com cinco espécies de aves coloridas. E um telescópio. Hoje, a Google está a homenagear uma ornitóloga muito especial.

 

Se fosse viva, Phoebe Snetsinger (1931-1999) faria hoje 85 anos. Esta norte-americana foi a primeira pessoa no mundo a registar mais de 8.300 espécies de aves, um feito conseguido à custa de muitas dificuldades.

Só em 1981, quando lhe foi diagnosticado cancro, que Phoebe, dona de casa do Minnesota com 49 anos, seguiu o seu sonho e começou a observar aves. Nos anos seguintes, percorreu os sete continentes à procura das espécies mais desconhecidas, batendo o recorde de então com 8.393 espécies observadas.

Entre as espécies notáveis que observou estão as aves da animação que Juliana Chen fez para a Google: a mariquita-papo-de-fogo (Setophaga fusca), que ocorre nos Estados Unidos; o Calicalicus rufocarpalis (endémico de Madagáscar); o tecelão-malhado (Ploceus cucullatus), endémico do Leste e Centro de África; a Sialia sialis (que ocorre nos Estados Unidos) e o Ceratopipra mentalis, endémico das florestas tropicais de vários países da América Central, como a Colômbia, Costa Rica e Nicarágua.

“Hoje celebramos a coragem de Snetsigner e a beleza da vida, por mais escondida que ela esteja”, explica a Google.

“Observar aves significa muitas coisas para diferentes pessoas, mas para mim está intimamente ligado à sobrevivência”, escreveu certa vez a ornitóloga, citou o jornal britânico The Independent. Em 1981 deram-lhe um ano de vida; Phoebe considerava que o tempo que tinha era emprestado e queria aproveitá-lo ao máximo, a viajar, registar sons de aves, estudar fotografias, visitando museus e mantendo um catálogo de notas detalhadas sobre cada espécie. Tudo porque para Phoebe não interessava só encontrar as aves, mas também aprender tudo sobre elas e registar as suas experiências em detalhe.

Tony Bennett, o guia da primeira expedição ornitológica de Snetsigner no Norte do México, disse ao mesmo jornal, que ela andava sempre com binóculos ou telescópio. “Ela era a pessoa mais interessante que alguma vez conheci. Conseguia encontrar uma ave antes de qualquer um de nós”, comentou.

“Todos ficavam entusiasmados ao saber que ela também estava no grupo da expedição. Ficavam honrados se ela os ajudasse no campo”, escreveu Olivia Gentile, autora do livro Life List: A Woman’s Quest for the World’s Most Amazing Birds (Bloomsbury, 2010). “Ela era como uma estrela de rock.”

Ainda assim, as suas viagens ficaram marcadas por ferimentos, quedas e uma violação por um gangue de cinco homens na Papua-Nova Guiné. E na sua última viagem a Madagáscar, em Novembro de 1999, a carrinha onde Phoebe seguia capotou num acidente que lhe tirou a vida.

Na sua autobiografia Birding on Borrowed Time (publicada postumamente em 2003, pela American Birding Association), escreveu: “Se esta for a minha última viagem, então que seja. Mas vou fazer com que seja uma boa viagem e vou partir com os binóculos na mão.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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