O leitor da Wilder Daniel Veríssimo, um economista maravilhado com a vida selvagem, escreve sobre uma espécie que começa agora a ser reintroduzida em Espanha e que já terá sido avistada em Portugal: a águia-rabalva.
A majestosa águia-rabalva – conhecida em inglês como águia de rabo branco, pelas suas características penas brancas na ponta da cauda – tem o nome científico Haliaeetus albicilla. Pode pesar entre 3 e 7 quilos, ter uma envergadura de asa até 2.45 metros e garras de 4 centímetros. É a águia de zonas húmidas e costeiras.
No passado existia desde as solarengas costas do Norte de África até aos fiordes da Noruega e do Báltico, das Costas da Irlanda até às terras do Japão. No início do século XX ainda podia ser encontrada no Egipto no delta do Nilo, o que demonstra a grande adaptabilidade da espécie.
A destruição de habitat, como a drenagem de zonas húmidas, e a perseguição humana na forma da caça são as principais razões para a extinção da espécie na Península Ibérica e em grandes partes da sua distribuição histórica.
É uma espécie nativa em Portugal e Espanha e, apesar da escassez de indícios fósseis, algo normal em espécies de aves, dada a sua ampla distribuição e presença em habitats idênticos aos existentes na península é considerada nativa na Península Ibérica.
Hoje é relativamente comum no Norte da Europa mas escassa a Sul, no Mediterrâneo, onde é presença frequente apenas na parte Croata, na Costa Norte do Mar Adriático. Em Espanha, a sua presença é esporádica e na sua maioria são juvenis dispersantes.
A águia rabalva tem um ritmo de expansão lento e caso não tenha a ajuda do Homem pode demorar décadas e mesmo séculos a regressar às costas solarengas da Península Ibérica. Para acelerar a recuperação da espécie este ano foi realizada uma reintrodução piloto na Cantábria, na costa Norte de Espanha, que já viu um exemplar visitar o Norte do nosso país. Em Portugal existe habitat potencial desde a zona litoral norte até às falésias da Costa Vicentina, passando pelas arribas da serra da Arrábida até aos ilhéus das Berlengas.
É um símbolo de um bom estado de conservação de zonas húmidas e uma espécie chapéu que, caso seja protegida, beneficia inúmeras espécies; necessita de zonas vastas bem conservadas e de bons corredores entre áreas protegidas para migrar e se expandir. Ao contrário da águia pesqueira (Pandion haliaetus) que só se alimenta exclusivamente de peixe a dieta da águia rabalva inclui peixes, pequenas aves e até cadáveres de animais.
Na Escócia vale uma indústria de 3 milhões libras ao ano em turismo de natureza, ligado à observação desta bela ave. Na ilha de Skye foi criada uma nova atividade económica numa zona com poucas oportunidades de desenvolvimento, que promove e incentiva a conservação e restauro da natureza.
Numa época de perda de biodiversidade e de pouca abundância de vida selvagem é urgente tomar medidas ambiciosas. A águia rabalva pode regressar aos céus de Portugal. Resta perguntar: quando?