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ONU declara 1 de Março como Dia Mundial das ervas marinhas

31.05.2022
Zoostera marina. Foto: Sofia Sadogurska/WikiCommons

A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou 1 de março como Dia Mundial das Ervas Marinhas, com o objetivo de alertar os governos para a valorização e conservação das pradarias de ervas marinhas no mundo inteiro.

Foi a 23 de Maio passado que a Assembleia Geral da ONU adoptou, por consenso, uma resolução apoiada pelo Governo do Sri Lanka e co-apoiada por outros 24 países para declarar o dia 1 de Março como o Dia Mundial das Ervas Marinhas.

O embaixador do Sri Lanka na ONU, Mohan Pieris, salientou a importância das ervas marinhas como sumidouros de carbono, na protecção das zonas costeiras contra a erosão, na estabilização dos fundos marinhos, no reforço da resiliência de ecossistemas vulneráveis e no aumento da estabilidade alimentar para inúmeras espécies marinhas.

A Associação Mundial das Ervas Marinhas (World Seagrass Association, em Inglês) apoiou de perto o Governo do Sri Lanka nesta proposta.

As ervas marinhas são um dos ecossistemas marinhos mais valiosos da Terra e cobrem cerca de 300.000 quilómetros quadrados em 159 países em seis continentes. São casa para inúmeras espécies, como dugongos, tubarões, cavalos-marinhos e tartarugas marinhas.

A ONU sublinha que o maior benefício que trazem à Humanidade será o “enorme potencial de sequestro de carbono, armazenando até 18% do carbono oceânico do mundo, o que é muito mais do que o potencial das florestas tropicais”.

Por isso, defende, a protecção e o restauro das pradarias marinhas é “vital nos esforços de adaptação e mitigação dos efeitos adversos das alterações climáticas”.

Contudo, alerta, estes ecossistemas estão a ser destruídos como resultado da actividade humana. Segundo a ONU, 7% dos habitats de ervas marinhas estão a ser perdidos anualmente a nível mundial, o que é o equivalente a um campo de futebol de pradarias destruído a cada 30 minutos.

Uma medida “muito significativa”

No Centro de Ciências do Mar do Algarve (CCMAR), há décadas que o grupo ALGAE estuda as pradarias de ervas marinhas em Portugal, procurando aumentar o conhecimento da sua estrutura e dinâmica, como respondem as perturbações ambientais e quais os serviços ecossistémicos, ou seja, os benefícios que fornecem as pessoas e ao planeta.

Esta é uma medida “muito significativa” já que as ervas marinhas são consideradas “uma arma natural” contra as alterações climáticas porque têm “uma grande capacidade de sequestrar e armazenar carbono no sedimento, contribuindo a diminuir a concentração de dióxido de carbono na atmosfera, causador do sobreaquecimento global”, diz a investigadora do grupo Carmen Santos.

A cientista destaca que estas pradarias são o “suporte de comunidades de peixes e bivalves com grande valor comercial” representando também “um importante papel no suporte de espécies ameaçadas, fornecendo a estes e a muitos outros animais uma fonte alimentar, bem como um habitat de reprodução e proteção dos predadores”.

As pradarias contribuem ainda para a “melhoria da qualidade da água costeira” através da filtragem de poluentes e agentes patogénicos, assim como para “a segurança alimentar através do suporte à pesca comercial e artesanal, a proteção da costa e o turismo e atividades recreativas, tendo, portanto, um elevado valor de suporte para as atividades económicas”, realça.

Em Portugal, existem três espécies de ervas marinhas (Zostera nolteiZostera marina e Cymodocea nodosa) que se encontram sobretudo nos estuários e lagoas costeiras do continente, existindo também pequenas manchas em zonas de areia na ilha de Madeira.

“Infelizmente, muitas destas pradarias desapareceram por causas humanas, como a poluição na água, destruição física por artes de pesca e construção costeira”, lamenta Carmen.

Estes impactos “ainda causam danos nas pradarias existentes”, mas em Portugal “continuam a existir pradarias em bom estado e algumas que até melhoraram ao longo do tempo”, aponta.

A proteção das pradarias ainda existentes e o restauro das que foram perdidas “devem ser as prioridades para a conservação destes preciosos ecossistemas em Portugal”, de forma que se possa continuar a receber os seus benefícios, defende a investigadora.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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