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Parte de vassoura encontrada a mais de 500 metros de profundidade nas ilhas Baleares (Espanha). Fotos: Oceana

Oceana encontra plásticos nos fundos marinhos da Europa

08.06.2018

Uma série de expedições da Oceana expôs o estado dos fundos marinhos da Europa. Restos de vassouras, bicicletas, garrafas de plástico e pneus fazem hoje parte das profundezas do Atlântico, Mediterrâneo e Báltico.

 

No Dia Mundial dos Oceanos, a organização alerta para o quantidade cada vez maior de lixo plástico que está a “sufocar e a ameaçar as vulneráveis espécies marinhas de profundidade”, explica em comunicado divulgado hoje.

“Por cada bocado de plástico que vemos à superfície, há dezenas de bocados escondidos no fundo do mar”, diz a instituição. “O fundo do mar alberga habitats marinhos pristinos e os plásticos estão a pôr em risco esta enorme biodiversidade.”

 

Rede de arrasto abandonada num fundo de corais em Fort d’en Moreu, Cabrera, Ilhas Baleares.

 

A escala do problema foi exposta por uma série de expedições da Oceana pela Europa, com o registo de inúmeros casos que passam desapercebidos por causa das dificuldades técnicas em chegar às profundezas marinhas.

Durante os mergulhos com um ROV (veículo operado remotamente), a Oceana descobriu lixo em alguns dos locais mais profundos do mar, desde o Báltico ao Atlântico e ao Mediterrâneo, por vezes a um quilómetro de profundidade.

 

Garrafa de plástico e balão do Nemo, Líbano.

 

Segundo a organização, o lixo de plásticos “provoca danos críticos à vida marinha e aos ecossistemas do oceano”. Parte do problema tem a ver com o facto de o plástico não ser biodegradável. Em vez disso, desfaz-se em bocados cada vez mais pequenos, as “micropartículas” que acabam por entrar na nossa cadeia alimentar.

Por exemplo, estima-se que uma garrafa de plástico demore cerca de 450 anos a desfazer-se completamente e que um milhão de garrafas de plástico sejam compradas por minuto no mundo.

 

Redes de pesca abandonadas no fundo marinho, no Líbano.

 

Tudo isto é uma ameaça para os fundos marinhos, casa de algumas das mais vulneráveis espécies e habitats, tendo em conta que estas criaturas normalmente crescem muito lentamente (como os corais) e têm pouca descendência (como os tubarões).

“Não conseguimos ver o maior impacto do lixo marinho: os microplásticos e a poluição dos fundos marinhos”, alertou Lasse Gustavsson, director-executivo da Oceana, em comunicado.

 

Polvo (Octopus vulgares), Líbano.

 

“Muitas vezes as pessoas perguntam o que podem fazer para cuidar dos oceanos e a verdade é que todos temos um papel; os Governos precisam reduzir a produção de plásticos e os cidadãos precisam de fazer um esforço para reciclar e reutilizar os plásticos, para que estes não acabem nas nossas praias e, eventualmente, nos estômagos dos peixes ou nos habitats de profundidade.”

A Oceana felicitou a recente proposta da União Europeia de banir os produtos plásticos de uso único. Actualmente, estima-se que existam a flutuar nos oceanos 300 milhões de toneladas de plástico, com mais de cinco triliões de bocados de plástico, totalizando um peso superior às 250 mil toneladas. Cerca de oito milhões de toneladas de plástico entram nos nossos oceanos por ano.

 

Thierry Lannoy, mergulhador da Oceana, com objectos abandonados: uma bicicleta e uma imagem de Santa Bárbara, em La Gomera, Espanha.

 

“Os fundos marinhos são reservatórios vitais de biodiversidade e, por causa das futuras gerações, simplesmente não os podemos destruir”, concluiu Gustavsson.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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