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O vírus que dizima milhões de abelhas está a ser espalhado pelo homem

05.02.2016

O comércio e o transporte internacional de abelhas é o que está por detrás do alastrar da doença que está a dizimar as populações mundiais destes insectos polinizadores. O centro do problema está nas populações de abelhas da Europa, segundo um novo estudo científico publicado hoje na revista Science.

 

O estudo, coordenado pela Universidade britânica de Exeter e pela Universidade norte-americana de Berkeley, concluiu que a abelha-europeia (Apis mellifera) é a origem dos casos do Vírus das Asas Deformadas que está a infectar colmeias em todo o mundo.

Segundo os cientistas, esta pandemia não tem ocorrência natural mas é causada pelo Homem, através do comércio e transporte de abelhas para a polinização de culturas.

Nas últimas décadas, a Varroa – um género de ácaro que se alimenta das larvas de abelhas – tem transmitido o Vírus das Asas Deformadas a estes polinizadores. Esta doença já causou a morte a milhões de abelhas e fez desaparecer colónias inteiras.

Estes investigadores analisaram amostras do vírus e da Varroa recolhidas de abelhas em vários locais do mundo e reconstruíram a trajectória do vírus. Descobriram que a epidemia se espalhou da Europa para a América do Norte, Austrália e Nova Zelândia. Detectaram um reduzido movimento nos dois sentidos entre a Europa e a Ásia mas nenhum entre a Ásia e a Australásia, apesar da sua proximidade.

Além disso, a equipa analisou amostras de outras espécies suspeitas de também transmitirem a doença, como outras abelhas e abelhões. Mas concluíram que a abelha-europeia era o único transmissor.

“Este é o primeiro estudo a concluir que a Europa é o centro da distribuição global da combinação mortífera do Vírus das Asas Deformadas e da Varroa”, disse em comunicado Lena Wilfert, do Centro para a Ecologia e Conservação da Universidade de Exeter e a principal autora do estudo.

Wilfert sublinha que este alastrar das ameaças é, em grande parte, causado pelo Homem. “Se esta expansão ocorresse de forma natural, seria de esperar termos encontrado uma transmissão entre países que estão próximos entre si. Mas em vez disso descobrimos, por exemplo, que a população infectada na Nova Zelândia teve origem na Europa.” Para esta investigadora, “o transporte humano de abelhas é responsável pelo alastrar desta doença devastadora”.

Por isso, Wilfert defende limitações ao transporte de abelhas, quer transportem Varroa ou não, e que os apicultores tomem medidas para controlar a Varroa nas suas colmeias, porque esta doença viral pode afectar também outros polinizadores selvagens.

“As colónias domesticadas de abelhas são extremamente importantes para a nossa agricultura”, disse Roger Butlin, da Universidade de Sheffield e outro dos investigadores que participaram no estudo. “Mas este estudo mostra os riscos de transportarmos animais e plantas através do planeta. As consequências podem ser devastadoras”, como por exemplo a introdução de vírus.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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