As lebres de Portugal e Espanha estão a perder a batalha contra uma nova estirpe do vírus que já dizimou as populações de coelho-bravo, revelou hoje um novo artigo científico.
A resistência das lebres (Lepus granatensis) ao vírus Mixoma, responsável pela doença mixomatose, está a diminuir. Muito por causa de uma nova linhagem deste vírus.
Uma equipa internacional de investigadores identificou agora o vírus que está a infectar as lebres ibéricas, num artigo científico publicado a 7 de Junho na revista Viruses.
Os investigadores – coordenados por Ana Águeda-Pinto e Pedro Esteves, ambos do CIBIO-InBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos) – analisaram o genoma completo deste novo vírus e descobriram alterações genéticas que poderão ser as responsáveis por vencer a resistência das lebres à mixomatose.
Para isso analisaram amostras do vírus encontrado em lebres ibéricas com sintomas de mixomatose. E concluíram que esta nova linhagem “apresenta alterações genéticas únicas e que poderão conferir ao vírus a capacidade de “quebrar” a resistência das lebres à doença”, explica um comunicado divulgado hoje pelo CIBIO-InBIO.
Após as enormes perdas nas populações de coelho-bravo, a mixomatose atinge agora as lebres da Península Ibérica.
O avanço da mixomatose nas lebres
No seu hospedeiro natural, o coelho americano (Sylvilagussp.), este vírus apenas causa uma doença benigna. Mas no coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus) a mixomatose é mortal.
Até há pouco tempo, pensava-se que a mixomatose estava restrita ao coelho-bravo, havendo apenas descrições muito pontuais da doença em lebres.
No ano passado, contudo, a situação alterou-se com a descrição de vários surtos de mixomatose nas lebres ibéricas.
“Quisemos investigar se o vírus causador destes casos de mixomatose em lebres ibéricas era o mesmo causador da mixomatose em coelhos”, explicou Pedro Esteves.
Os resultados deste estudo indicam que o vírus causador da doença na lebre ibérica é uma nova estirpe do vírus Mixoma. Esta linhagem apresenta no seu ADN alterações genéticas únicas, entre elas a inserção de uma porção de genoma de outro poxvírus não identificado até ao momento.
“O novo vírus terá sofrido várias alterações genéticas as quais lhe terão permitido quebrar as barreiras que impediam que o vírus do mixoma afectasse as lebres”, explicou Ana Águeda-Pinto, primeira autora do artigo e investigadora do CIBIO-InBIO.
Os investigadores temem que esta nova estirpe do vírus mixoma seja capaz de causar “consequências dramáticas para as populações naturais de lebre ibérica”.