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Tartaruga-comum (Caretta caretta). Foto: Frank Vincentz/Wiki Commons

Ninhos de tartarugas triplicaram este Verão em Cabo Verde

14.12.2018

Os ninhos de tartaruga-boba (Caretta caretta), também conhecida por tartaruga-comum, triplicaram neste Verão de 2018 no arquipélago de Cabo Verde, face aos registos dos últimos 20 anos.

 

Esta é a conclusão de um trabalho coordenado por investigadores do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC), sediado na Estação Biológica de Doñana, em Espanha.

“A hipótese mais provável é que esta recuperação [do número de ninhos] se deva a um importante aumento do número de fêmeas jovens, associado à protecção da nidificação iniciada há 20 anos em Cabo Verde”, considera o CSIC, num comunicado divulgado esta quinta-feira. Estima-se que terão desovado nas praias do arquipélago entre 15.000 a 20.000 fêmeas de tartaruga.

A tartaruga-boba é uma espécie ameaçada, considerada Vulnerável a nível mundial. Mas em Cabo Verde, o único território do Atlântico Oriental onde se reproduz, foi recentemente classificada pela União Internacional para a Natureza (UICN) como estando Em Perigo.

“Esta é uma notícia excelente que poderá significar o início da recuperação tão esperada desta espécie ameaçada”, afirmou Adolfo Marco, investigador que liderou este estudo científico. “Recentemente, a UICN actualizou a sua avaliação desta espécie e considerou que a população de Cabo Verde se encontrava Em Perigo de extinção, enquanto que outras populações no Atlântico estão a melhorar muito o seu estado de conservação.”

 

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Tartaruga a camuflar o seu ninho. Foto: Adolfo Marco

 

As tartarugas-bobas de Cabo Verde têm sido consideradas como “uma das 11 [populações] mais ameaçadas do mundo”, disse ainda Adolfo Marco, citado no comunicado do CSIC, sublinhando que os dados de 2018 são um sinal de esperança para esta colónia de tartarugas.

Os cientistas colocaram várias hipóteses alternativas, que levariam a uma grande subida do número de ninhos sem ter havido um aumento na quantidade de fêmeas. Por exemplo, poderia ter ocorrido uma grande sincronização entre posturas, mais alta que em anos anteriores, ou uma maior frequência das posturas por cada tartaruga.

 

Ameaças no mar continuam

No entanto, a hipótese mais provável continua a ser o aumento de reprodutoras, mas não como resultado de haver menos tartarugas adultas a morrer ou menos ameaças nos mares. “O número de tartarugas fêmeas regressadas [a Cabo Verde] não foi especialmente alto em 2018 ou 2017. Pelo contrário, milhares de tartarugas marcadas em anos anteriores não voltaram a ser localizadas.”

“Também não temos razões para acreditar que se reduziu a taxa de mortalidade de juvenis no mar, pois as ameaças antrópicas [devidas a actividades humanas] mais importantes, como a pesca acidental ou a interacção com plásticos, não diminuíram.”

Conclusão? Os investigadores acreditam que houve “milhares de tartarugas jovens que entraram agora pela primeira vez na população reprodutora e que podem explicar este aumento tão importante no número de ninhos”.

Esta hipótese relaciona-se com as acções de protecção da nidificação de tartarugas em Cabo Verde, que começaram há 20 anos. Uma tartaruga-boba demora entre 15 a 20 anos até estar apta a reproduzir-se.

“A ser certa a hipótese mais provável, a previsão para os próximos anos é de um aumento continuado na quantidade de novas fêmeas reprodutoras”, constata Adolfo Marco. “Será muito importante manter o esforço de conservação para que outras ameaças não travem ou revertam esta tendência de recuperação que parece estar agora a começar.”

De acordo com o CSIC, os principais financiadores deste estudo e da protecção das tartarugas em Cabo Verde são, além da Estação Biológica de Doñana, também a Consejería de Medio Ambiente de Andalucía y Canarias, a Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento, a Fundação MAVA e o Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos, através do Fundo para a Conservação das Tartarugas Marinhas.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Fique a saber a razão das boas notícias para a pequena calhandra-do-raso, também no arquipélago de Cabo Verde.

 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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