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Foto: Joana Bourgard

Hoje esgotámos os recursos naturais da Terra para todo o ano de 2025

24.07.2025

Ainda faltam cinco meses para 2025 terminar e os ecossistemas do planeta já esgotaram os recursos naturais que podem fornecer à humanidade, conseguindo regenerar-se. O Dia da Sobrecarga da Terra (Earth Overshoot Day) deste ano chega a 24 de Julho.

“O Dia da Sobrecarga da Terra assinala o dia em que a necessidade de recursos e serviços ambientais por parte da Humanidade excede a capacidade do Planeta Terra para regenerar esses mesmos recursos”, explica a ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável em comunicado enviado à Wilder.

A partir de hoje temos de usar recursos naturais que só deveriam ser utilizados a partir de 1 de Janeiro de 2026.

A tendência para antecipar uso do cartão de crédito ambiental já dura há anos, o que representa uma “ameaça para o bem-estar das gerações presentes e futuras”, alerta a associação. Mais do que isso, este ano o uso do cartão de crédito ambiental começou cerca de uma semana mais cedo do que em 2024, ou seja, a 24 de julho.

“Nos últimos anos a tendência tem sido de uma certa estagnação. Contudo, mesmo que o dia da sobrecarga não varie muito, a pressão sobre o planeta continua a aumentar, à medida que os danos causados pela ultrapassagem do limite ecológico se acumulam ao longo do tempo”, comentou a ZERO.

Este conceito revela “como os modelos económicos atuais – baseados no uso insustentável de recursos naturais, crença num crescimento contínuo num planeta finito e o apelo constante ao consumo -, pressionam os sistemas naturais além da sua capacidade de recuperação”.

Perante esta situação, a ZERO defende algumas acções para reduzir o impacto da Humanidade no planeta, incluindo a aplicação de uma taxa por tonelada de carbono de cerca de 100 dólares. Se esta fosse aplicada, isso representaria um adiamento de 63 dias no Dia da Sobrecarga do Planeta.

Outra medida importante seria se metade do mundo implementasse um Green New Deal com o nível de ambição da União Europeia. Assim, o Dia da Sobrecarga do Planeta poderia ser adiado 42 dias nos próximos 10 anos.

A ZERO lembra ainda que se reduzirmos o consumo de carne em 50% e substituirmos essas calorias por uma alimentação vegetariana, o cartão de crédito seria acionado 17 dias depois, com 10 desses dias a resultarem das emissões de metano evitadas.

Como se calcula o indicador

Tal como um extrato bancário dá indicação das despesas e dos rendimentos, a Pegada Ecológica avalia as necessidades humanas de recursos renováveis e serviços essenciais e compara-as com a capacidade da Terra para fornecer tais recursos e serviços (biocapacidade). 

A Pegada Ecológica mede o uso de terra cultivada, florestas, pastagens e áreas de pesca para o fornecimento de recursos e absorção de resíduos (dióxido de carbono proveniente da queima de combustíveis fósseis). A biocapacidade mede a quantidade de área biologicamente produtiva disponível para regenerar esses recursos e serviços.

As agências da ONU e os organismos afiliados, que fornecem todos os dados para o cálculo do Dia da Sobrecarga fazem revisões regulares aos mesmos, o que pode levar a variações nas datas de ano para ano. Uma das principais revisões deste ano foi um ajustamento em baixa da capacidade de sequestro de carbono dos oceanos. Este facto, juntamente com uma Pegada Ecológica per capita ligeiramente superior e uma biocapacidade per capita ligeiramente inferior, fez com que o Dia da Ultrapassagem da Terra passasse a ser oito dias mais cedo do que em 2024. Sete desses oito dias devem-se às revisões de dados.

“É urgente a tomada de consciência para a necessidade de alterar o paradigma de desenvolvimento no sentido de promover uma economia do Bem-Estar, que garante qualidade de vida para todos dentro do respeito pelos limites do planeta.” 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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