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Ninhos de francelhos tendem a ter mais parasitas do que os de estorninhos

03.05.2021

Um novo estudo feito nas colónias com várias espécies de aves em Castro Verde, no Alentejo, revela que a carga parasitária depende da identidade das suas espécies. Por exemplo, os francelhos são mais susceptíveis a parasitas do que os estorninhos.

“É a identidade dos hospedeiros – se é um rolieiro ou um pombo, por exemplo – que mais influencia a composição de parasitas nos ninhos destas colónias, independentemente do quão grandes, densas, ou ricas são”, explicou, em comunicado enviado à Wilder, João Gameiro, primeiro autor do estudo, a desenvolver o seu doutoramento no cE3c, em Ciências ULisboa.

O estudo aconteceu na Zona de Proteção Especial (ZPE) de Castro Verde, local onde foram amostrados mais de 250 ninhos de 30 colónias mistas diferentes.

Rolieiro. Foto: João Gameiro

A equipa amostrou quatro grupos de parasitas diferentes, entre moscas, ácaros e piolhos, em quatro espécies de hospedeiros diferentes: francelho (Falco naumanni), rolieiro (Coracias garrulus), estorninho-preto (Stunus unicolor) e pombo doméstico (Columba livia).

Os ninhos estavam localizados em cavidades em edifícios abandonados ou em estruturas de nidificação artificiais, disponibilizadas pela Liga para a Proteção da Natureza (LPN) durante projetos LIFE e destinadas originalmente a recuperar as populações de francelho em Portugal.

O resultado desta investigação, recentemente publicado na revista Parasitology, concluiu que, em colónias mistas de aves, a identidade das aves – isto é, a sua espécie – é o principal fator que influencia quais os parasitas que lá são encontrados.

João Gameiro a monitorizar um ninho “natural” de rolieiro. Foto: Martina Panisi

Os parasitas de aves podem afectar o desenvolvimento de crias e adultos, diminuir o sucesso reprodutor das aves e alterar a dinâmica de populações, podendo mesmo estar envolvido na criação ou extinção de colónias.

O estudo agora publicado mostra que, ao contrário do que era conhecido para colónias com apenas uma espécie de ave, o tamanho ou a densidade da colónia não influenciam a presença ou abundância de parasitas em colónias compostas por várias espécies de aves.

Além disso, e por causa disso, o número de casais ou ninhos de cada espécie torna-se o fator determinante para a abundância da mosca Carnus hemapterus: uma pequena mosca chupadora de sangue muito frequente em várias espécies de aves e o parasita mais comum nestas colónias”, explicou João Gameiro.

João Gameiro a procurar parasitas num francelho. Foto: Ana Sampaio

Os investigadores estudaram como a abundância e diversidade de parasitas nas colónias de aves variava em função do tamanho da colónia, de quão próximos se encontravam os ninhos entre si, da riqueza de espécies de aves que neles habitavam e do número de ninhos de cada espécie.

“Independentemente do tamanho ou densidade da colónia, ela vai ter mais parasitas se for dominada por francelhos, e menos parasitas se a colónia for dominada por estorninhos”, referiu João Gameiro. “O que explica estes resultados é a suscetibilidade de cada espécie de ave a cada parasita. Espécies menos suscetíveis, como estorninhos, não atraem tantos parasitas”, acrescenta Jesús Veiga, co-autor do estudo, investigador de pós-doutoramento do Conselho Superior de Investigações Científicas de Espanha, na Estação Experimental de Zonas Áridas em Almería, Espanha.

“Este estudo mostra assim como um maior contacto entre várias espécies de aves nestas colónias mistas torna mais complexas as interações entre parasitas e os seus hospedeiros, desafiando o que se sabe atualmente sobre a relação entre parasitismo e a vivência em colónia das aves”, escrevem os investigadores.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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