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Nem sempre as aves com as penas mais “bonitas” têm maior sucesso reprodutor

17.03.2022
Papa-moscas-preto. Foto: Lars Falkdalen Lindahl/WikiCommons

Com a Primavera chega a época reprodutora para muitas aves. Mas nem sempre as aves com as penas mais vistosas e atractivas são as que têm maior sucesso reprodutor. O papa-moscas-preto é um exemplo disso mesmo, conclui agora um novo estudo.

Uma das principais armas dos animais para assegurar a transmissão dos seus genes é o desenvolvimento de características ornamentais que destaquem a sua qualidade. Em geral, os indivíduos mais atractivos são também aqueles com uma melhor condição física e genética, sendo assim de esperar que consigam um maior êxito reprodutivo.

Mas um estudo coordenado pela Estação Biológica de Doñana (EBD-CSIC) e pelo Instituto Pirenaico de Ecologia (IPE-CSIC) conclui que um melhor físico poderá acarretar mais disputas e, por isso, menos tempo para dedicar à criação de descendência.

Este trabalho, publicado a 16 de Março na revista Journal of Evolutionary Biologysugere que uma coloração menor das penas das aves poderá ser, na verdade, uma vantagem reproductiva, em função do contexto social.

Além disso, o desenvolvimento e manutenção de características ornamentais de alta qualidade não é tarefa fácil para ninguém.

Em muitos animais, como as aves, os sinais visuais coloridos que indicam o seu nível de atractividade acabam por ser muito custosos de produzir e de manter.

É isto o que acontece com os machos de papa-moscas-preto (Ficedula hypoleuca), um pequeno pássaro migrador. Os machos chegam aos locais de reprodução antes das fêmeas, estabelecem um território em redor do local do ninho e tentam atrair uma fêmea.

Papa-moscas-preto. Foto: Lars Falkdalen Lindahl/WikiCommons

Os papa-moscas-pretos ostentam o seu atractivo sexual, assim como o seu estatuto social, através da coloração do seu dorso. Esta coloração pode oscilar entre o castanho pálido e o irresistível negro dos machos dominantes.

Mas, mostrar um grande atractivo – com os custos que isso acarreta – nem sempre é benéfico a nível de descendência. Por exemplo, num bosque densamente povoado e cheio de competidores, ter uma plumagem irresistivelmente escura que destaque o carácter dominante da ave deveria ser sinónimo de êxito.

No entanto, este novo estudo científico não apoia esta ideia. Este trabalho analisou dados anuais desde 1984 de densidade de crias e de cor da plumagem para cerca de 2.000 machos. Contrariamente ao esperado, os indivíduos com cores mais intermédias foram aqueles com maior sucesso reprodutivo.

Esta aparente contradição poderá dever-se ao alto preço a pagar pelas aves que mostram um grande estatuto sexual e social. “Os machos mais atractivos têm melhores territórios de reprodução ou melhores fêmeas, mas são ao mesmo tempo o centro de todos os olhares, incluindo dos seus concorrentes. Defender as suas posições pode levar a um esgotamento físico tal que acaba por reduzir o cuidado prestado às crias, comprometendo assim a sua sobrevivência”, explicou, em comunicado Nacho Morales-Mata, principal autor do artigo.

Em última análise, esse maior gasto em defesa poderia favorecer os machos com uma coloração intermédia que, apesar de não terem o melhor físico, poderiam dedicar menos tempo às disputas e mais tempo e energia a ter mais crias.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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