Com a Primavera chega a época reprodutora para muitas aves. Mas nem sempre as aves com as penas mais vistosas e atractivas são as que têm maior sucesso reprodutor. O papa-moscas-preto é um exemplo disso mesmo, conclui agora um novo estudo.
Uma das principais armas dos animais para assegurar a transmissão dos seus genes é o desenvolvimento de características ornamentais que destaquem a sua qualidade. Em geral, os indivíduos mais atractivos são também aqueles com uma melhor condição física e genética, sendo assim de esperar que consigam um maior êxito reprodutivo.
Mas um estudo coordenado pela Estação Biológica de Doñana (EBD-CSIC) e pelo Instituto Pirenaico de Ecologia (IPE-CSIC) conclui que um melhor físico poderá acarretar mais disputas e, por isso, menos tempo para dedicar à criação de descendência.
Este trabalho, publicado a 16 de Março na revista Journal of Evolutionary Biology, sugere que uma coloração menor das penas das aves poderá ser, na verdade, uma vantagem reproductiva, em função do contexto social.
Além disso, o desenvolvimento e manutenção de características ornamentais de alta qualidade não é tarefa fácil para ninguém.
Em muitos animais, como as aves, os sinais visuais coloridos que indicam o seu nível de atractividade acabam por ser muito custosos de produzir e de manter.
É isto o que acontece com os machos de papa-moscas-preto (Ficedula hypoleuca), um pequeno pássaro migrador. Os machos chegam aos locais de reprodução antes das fêmeas, estabelecem um território em redor do local do ninho e tentam atrair uma fêmea.
Os papa-moscas-pretos ostentam o seu atractivo sexual, assim como o seu estatuto social, através da coloração do seu dorso. Esta coloração pode oscilar entre o castanho pálido e o irresistível negro dos machos dominantes.
Mas, mostrar um grande atractivo – com os custos que isso acarreta – nem sempre é benéfico a nível de descendência. Por exemplo, num bosque densamente povoado e cheio de competidores, ter uma plumagem irresistivelmente escura que destaque o carácter dominante da ave deveria ser sinónimo de êxito.
No entanto, este novo estudo científico não apoia esta ideia. Este trabalho analisou dados anuais desde 1984 de densidade de crias e de cor da plumagem para cerca de 2.000 machos. Contrariamente ao esperado, os indivíduos com cores mais intermédias foram aqueles com maior sucesso reprodutivo.
Esta aparente contradição poderá dever-se ao alto preço a pagar pelas aves que mostram um grande estatuto sexual e social. “Os machos mais atractivos têm melhores territórios de reprodução ou melhores fêmeas, mas são ao mesmo tempo o centro de todos os olhares, incluindo dos seus concorrentes. Defender as suas posições pode levar a um esgotamento físico tal que acaba por reduzir o cuidado prestado às crias, comprometendo assim a sua sobrevivência”, explicou, em comunicado Nacho Morales-Mata, principal autor do artigo.
Em última análise, esse maior gasto em defesa poderia favorecer os machos com uma coloração intermédia que, apesar de não terem o melhor físico, poderiam dedicar menos tempo às disputas e mais tempo e energia a ter mais crias.