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Milhares de pessoas pedem em Madrid protecção para o lobo-ibérico

14.03.2017

Cerca de 30.000 pessoas, segundo a WWF espanhola, juntaram-se no domingo passado no coração de Madrid para pedir uma maior protecção para o lobo-ibérico (Canis lupus signatus) em Espanha e um fim da “constante matança” destes animais.

 

A manifestação – convocada por cerca de cem organizações como a WWF, Lobo Marley, Ecologistas en Acción e que contou com a participação da portuguesa Quercus – decorreu sem incidentes desde o Ministério da Agricultura e Ambiente, em Atocha, até à Puerta del Sol, segundo a agência espanhola de notícias EFE.

 

 

Milhares de pessoas percorreram as ruas de Madrid com cartazes onde se lia “Lobo vivo, lobo protegido” e com imagens de lobos mortos em várias zonas de Espanha. Pediram que esta seja considerada uma espécie protegida em todo o território espanhol e que terminem a caça e os controlos populacionais.

Para a WWF espanhola, é “importante continuar a favorecer a coexistência entre a criação de gado extensiva e o lobo, já que está demonstrado que abater lobos não consegue fazer diminuir os ataques ao gado”.

Os organizadores da manifestação afirmam que “a sociedade moderna está farta de um modelo de gestão baseado na perseguição e na crueldade contra uma espécie”.

 

 

Actualmente Espanha terá entre 2.000 e 2.500 lobos. Os organizadores da manifestação lembram que esta espécie é um controlador natural dos herbívoros selvagens e representa a saúde dos ecossistemas, razão pela qual a União Europeia declarou o lobo como espécie de interesse comunitário.

A presença do lobo em Espanha é desigual. As populações no Sul (Serra Morena, Serra da Gata e San Pedro) estão quase extintas e estão protegidas, enquanto que as do Norte (Galiza, Astúrias e Castela e Leão) estão a expandir-se, chegando a Madrid e Guadalajara. Aqui são animais cinegéticos.

Mas tanto a Norte como a Sul do rio Douro, os lobos estão a ser abatidos, com a justificação de diminuir os ataques ao gado. No mesmo dia da manifestação, a organização Fondo para la Protección de los Animales Salvajes (FAPAS) denunciou que apareceu um cadáver de lobo no Parque Natural e Reserva da Biosfera de Somiedo, nas Astúrias. Em declarações à EFE, o presidente do FAPAS, Roberto Hartasánchez, salientou a coincidência de este animal ter sido encontrado morto numa zona onde recentemente se registaram danos a gado, causados por lobos, o que poderá ter levado alguém a “fazer justiça pelas próprias mãos”.

“Queremos devolver o lobo à sociedade para que deixe de ser uma figura desconhecida e injustamente tratada”, disse Luis Miguel Domínguez, director da organização Lobo Marley, disse à mesma agência.

A manifestação de domingo terminou com a leitura de um manifesto que exige a declaração do lobo como espécie totalmente protegida por lei em todo o território espanhol. Este documento salienta ainda que a matança de lobos em Espanha “impede a mudança no mundo rural para um modelo mais moderno, onde actividades tradicionais e outras novas, como o turismo de natureza, contribuam para a diversidade económica necessária para trazer prosperidade e emprego às novas gerações”.

Em Portugal, o mais recente censo nacional ao lobo-ibérico, de 2002/2003, identificou 63 alcateias (51 confirmadas e 12 prováveis) no Norte e Centro do país. A população foi, então, estimada entre 220 e 430 animais. Mais tarde, estudos compilados entre 2003 e 2014 deram conta da existência de 47 alcateias (41 confirmadas e seis prováveis).

Há 28 anos que esta é uma espécie protegida em Portugal, desde que a Lei nº90/88, de 13 de Agosto, estabeleceu pela primeira vez as bases para a protecção do lobo-ibérico. Em 2005 foi classificado com o estatuto de Em Perigo (Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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