Esta ave era seguida por GPS e foi encontrada no início deste mês numa herdade próxima de Coruche, explicou à Wilder um responsável ligado ao projecto LIFE Eurokite.
São já oito as aves desta espécie detectadas mortas em território português desde Dezembro, graças aos emissores colocados em milhafres-reais no âmbito do LIFE Eurokite. A maioria com suspeitas de terem sido envenenadas.
Este projecto internacional co-financiado por fundos comunitários pretende identificar as causas de mortalidade de várias espécies do centro e leste da Europa, desde logo o milhafre-real. As marcações com aparelhos GPS, que permitem seguir desde longe os movimentos destas aves, começaram no ano passado, em vários países europeus. E embora não tenham sido marcados milhafres em Portugal, como se trata de uma espécie migradora e muitos vêm aqui passar o Inverno, o país foi incluído nas acções de monitorização.
Quanto ao milhafre-real detectado morto no início de Março, foi encontrado 15 quilómetros a sudeste da vila ribatejana de Coruche, numa herdade com actividade cinegética e florestal, indicou Alfonso Godino, ligado à AMUS-Acción por el Mundo Salvaje. Esta organização não governamental de ambiente espanhola é um dos parceiros do projecto liderado pela associação austríaca MEGEG.
A ave em causa tinha sido marcada com um emissor GPS no norte de Espanha pela SEO Birdlife (Sociedad Española de Ornitologia) há mais de um ano, a 15 de Fevereiro de 2020, e desde essa data que era seguida à distância.
A equipa do LIFE Eurokite suspeita de envenenamento ilegal por duas razões: “Principalmente a postura do corpo e o facto de ter estado a comer numa área reduzida, tendo morrido poucos segundos depois a escassos 200 metros”, detalhou Alfonso Godino, notando que a informação dada pelos emissores GPS é “muito precisa e permanente”. “Podemos traçar com pouco erro as deslocações e paragens e a hora da morte”, sublinhou.
O corpo do milhafre foi então recolhido pela equipa do Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente da GNR de Coruche e depois enviado para o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária – seguindo os passos do protocolo do Programa Antídoto, para se confirmarem as causas da morte.
No âmbito da monitorização de milhafres-reais marcados pelo LIFE Eurokite, as primeiras cinco aves encontradas mortas em Portugal foram detectadas a 3 de Dezembro, no sul do concelho de Castro Verde, Baixo Alentejo, com fortes suspeitas de terem sido vítimas de envenenamento.
Outros dois milhafres foram entretanto descobertos no início de Janeiro, ambos com emissores GPS, em localidades diferentes no Alentejo: Sobral de Adiça e Alvito.
Em Portugal, o milhafre-real está em risco de extinção. A população invernante está classificada como Vulnerável, mas pior está a população reprodutora desta espécie: as aves que nidificam no país estão Criticamente em Perigo, a categoria mais elevada antes da extinção na natureza.
No entanto, esta avaliação já tem mais de 10 anos e a situação dos milhafres-reais nidificantes não tem sido seguida, explicou Julieta Costa, da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, em declarações à Wilder em Janeiro passado.