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Mais de 30 europeus explicam como convivem com grandes carnívoros

18.02.2020

A série de 32 curtos documentários foi lançada este mês e mostra como pessoas em 12 países europeus, incluindo em Portugal, convivem com os grandes carnívoros. Esta é uma campanha do projecto LIFE EuroLarge Carnivores.

 

Têm cerca de cinco minutos e mostram testemunhos de pessoas comuns – desde agricultores, criadores de ovelhas, operadores de ecoturismo a pessoas comuns de comunidades rurais -, cada um com as suas estratégias.

Os testemunhos foram recolhidos na Finlândia, Noruega, Alemanha, França, Eslováquia, Itália, Espanha, Portugal, Polónia, Áustria e Hungria.

Apesar de diferentes, estas pessoas têm em comum o aceitarem e apreciarem a presença de grandes carnívoros como símbolos de ecossistemas saudáveis.

 

Urso-pardo (Ursus arctos), Kremnické vrchy, Eslováquia. Foto: Tomas Hulik

 

Os documentários, disponíveis aqui, foram lançados em simultâneo em 12 países a 11 de Fevereiro. Em Portugal, a sessão de lançamento foi organizada pela ANP-WWF em Lisboa.

“Estes 32 vídeos comprovam que a coexistência entre pessoas e grandes carnívoros é possível, desde que exista disponibilidade para aprendermos uns com os outros e que sejam usadas ferramentas certas”, comentou, em comunicado, Ângela Morgado, directora executiva da ANP|WWF.

Segundo estimativas oficiais, existem actualmente cerca de 17.000 lobos, 17.000 ursos, 9.000 linces e 1.250 glutões na Europa.

 

Glutão (Gulo gulo), Finlândia. Foto: Staffan Widstrand/WWF

 

Em áreas geográficas onde pessoas e grandes carnívoros habitam a mesma zona podem surgir conflitos, “razão pela qual esta partilha de experiências é tão importante”, segundo a ANP-WWF.

Portugal faz parte dos países onde está a decorrer este projecto, por ter populações de lobo-ibérico e lince-ibérico.

No caso português, o documentário foi filmado em Castro Laboreiro, no Gerês, e os protagonistas são Pedro Alarcão e Anabela Moedas, proprietários de uma empresa de ecoturismo que promove passeios a cavalo em território de lobo-ibérico e também a importância de conservar esta espécie selvagem.

“É possível coexistirmos com o lobo e é possível tendo animais”, conta Anabela Moedas no documentário. “A prova disso é que estamos na zona do país com a segunda maior população de lobos, estamos aqui há quase 16 anos, temos 18 cavalos e nunca tivemos nenhum prejuízo.”

Esta convivência é conseguida seguindo algumas regras: recolher sempre os animais quando a noite se aproxima e recorrer à preciosa ajuda dos seus 12 cães.

“O lobo já tentou várias vezes, mas nunca conseguiu”, recorda Pedro Alarcão. “O lobo prefere caçar de forma fácil e os cães não lhe dão vida fácil.”

“Todas as espécies na natureza são importantes. Não podemos tirar nenhuma. Não podemos tirar o lobo da natureza”, salienta.

Anabela Moedas lembra as consequências se isso acontecer. “Se o lobo desaparecer, a população de cervídeos vai aumentar. Se isto acontece, o número de árvores e de plantas diminui. Tudo se desestabiliza.”

No documentário feito no Gerês – pela Hakawati Film, de Ofélia de Pablo e Javier Zurita -, Pedro Alarcão considera o lobo “um símbolo de liberdade, de força, do selvagem. E é um incompreendido”.

Esta campanha de vídeos na Europa faz parte do projeto LIFE EuroLargeCarnivores, financiado pela UE e com coordenação da WWF Alemanha. O projecto (2018 a 2022) tem como objectivo fornecer uma plataforma para o intercâmbio de boas práticas na coexistência de grandes carnívoros com humanos e entre as várias partes interessadas.

 

Lince-ibérico na Serra Morena, Espanha. Foto: Alfonso Moreno/WWF Espanha

 

“As situações e reações das comunidades locais que vivem com grandes carnívoros são muito divergentes em toda a Europa. É por isso que os vídeos não encontram uma resposta única para certos problemas. Esperamos que os vídeos possam inspirar pessoas em diferentes países e regiões a tentarem encontrar as soluções que melhor se adequam às suas situações específicas”, afirmou Filipe Dias, especialista em biodiversidade da ANP-WWF.

Mais de 16 países cooperam e partilham conhecimento e informações além-fronteiras. “Esse conhecimento vai desde diferentes abordagens até à gestão dos desafios sociais, económicos e ecológicos que acompanham os lobos, os ursos, os linces e os glutões, até soluções práticas como a proteção dos animais”, explica a ANP-WWF.

“Em Portugal, queremos dar diferentes ferramentas de comunicação aos que estão a trabalhar com o lobo-ibérico e abrir mais vias de comunicação entre essas entidades, como as câmaras municipais dos territórios ocupados pelo lobo e organizações de conservação”, explicou à Wilder Marta Barata, responsável pela Comunicação na ANP-WWF. “Isso passa, por exemplo, pela realização de workshops de partilha de experiências, incluindo boas práticas na coexistência com os grandes carnívoros que estão a resultar em outros países.”

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Pode ver todos os 32 documentários aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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