Os 119 países que fazem parte da federação Birdlife International publicaram o relatório “Os mensageiros”, nas vésperas da COP21 sobre clima em Paris, que arrancou nesta segunda-feira, sobre os impactos das alterações climáticas nas aves do planeta. Mais de 2300 espécies são altamente vulneráveis.
O relatório “Os mensageiros: o que nos dizem as aves sobre as ameaças das alterações climáticas e soluções para a natureza e para as pessoas” foi publicado a 27 de Novembro, nas vésperas da COP21 – Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, em Paris (de 30 de Novembro a 11 de Dezembro). Espera-se que cerca de 150 países cheguem a um acordo vinculativo para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa.
Com este documento, a Birdlife quer deixar três apelos aos decisores políticos: que reduzam as emissões de gases com efeito de estufa, ajudem as espécies a adaptarem-se e que invistam em soluções baseadas na natureza (como a conservação e restauro de ecossistemas naturais que podem ajudar a reduzir as emissões e ajudar à nossa resiliência e da natureza).
Para o fazer prepararam a primeira síntese de centenas de estudos científicos que ilustram as formas como as alterações climáticas ameaçam as aves e outra vida selvagem. Além disso, descrevem o que se está a fazer para ajudar a natureza a adaptar-se e de que forma pode o mundo natural contribuir para combater as alterações climáticas.
Uma das ideias centrais do relatório é que as alterações climáticas “não são apenas uma preocupação para o futuro”. Já estão a ter um impacto negativo na natureza. Por exemplo, por causa da rápida diminuição da superfície gelada, as populações de Pinguin-de-adélia (Pygoscelis adeliae) nas ilhas Shetland registaram um declínio superior a 50% desde o final da década de 1970.
Mas nem todas as espécies vão sentir as alterações do clima de forma igual. Segundo o relatório, 24% das 570 espécies de aves estudas ao detalhe em todo o mundo, estão a ser afectadas negativamente (com populações menos abundantes e com menor distribuição) e 13% estão a responder positivamente. Para metade das espécies, os impactos continuam incertos.
Entre os maiores problemas estão a redução dos territórios adequados, o declínio das populações (incapazes de acompanhar o ritmo das alterações climáticas), perturbação das comunidades ecológicas (nomeadamente quanto a predadores, espécies concorrentes e habitats) e o exacerbar de ameaças actuais, como a fragmentação do habitat, doenças e espécies exóticas invasoras.
Mais de 2300 espécies de aves no mundo são altamente vulneráveis às alterações climáticas porque dependem muito de outras espécies, têm pouca capacidade de adaptação e uma grande exposição aos fenómenos climáticos. Na verdade, são mais as espécies a perder do que aquelas que irão ganhar com um planeta 2ºC mais quente. Em média, haverá mais do dobro de espécies com populações a declinar do que as com populações a aumentar. As generalistas têm mais tendência a aumentar e as especialistas a diminuir.
A Birdlife refere o colibri-de-Allen (Selasphorus sasin) que deverá registar um declínio de 90% do seu território de reprodução até 2080 por causa das alterações climáticas; apenas 7% do seu território continuará a ser adequado.
Fenómenos climatéricos extremos causarão mortalidades em massa mais frequentes para o corvo-marinho-de-crista (Phalacrocorax aristotelis), com aumento da intensidade das chuvas e ventos. E secas extremas mais frequentes serão especialmente perigosas paras as aves mais pequenas, reduzindo a sua sobrevivência.
Ainda assim, há espaço para a esperança, dizem os autores do relatório, documento que lista dezenas de projectos em curso de restauro de florestas, mangais e zonas húmidas. “A mitigação das alterações climáticas é um imperativo mas não é suficiente. Também é crucial ajudar a vida a adaptar-se às mudanças”, escrevem os autores do documento. A rede de IBA (áreas importantes para as aves ou, em inglês, Important Bird Areas) “será cada vez mais importante porque protege habitats e oferece corredores que ajuda a biodiversidade a mover-se e a adaptar-se”.
Entre os exemplos dados está a recuperação de 51.000 hectares de turfeiras na Bielorrússia e 40.000 hectares de floresta na Sierra Madre, nas Filipinas. No Reino Unido, na ilha de Wallasea, 670 hectares de zonas húmidas foram criados para dar habitat a aves aquáticas e protegê-las de inundações costeiras. Na Holanda, está em curso a estratégia nacional Dutch Ecological Network para ligar zonas húmidas e outros habitats pelo país e assim facilitar o movimento das espécies e aumentar a sua resiliência ecológica.