De acordo com os resultados do projecto que avaliou o estatuto das 43 espécies deste grupo registadas para Portugal continental, 60% estão ameaçadas, foi anunciado esta quarta-feira.
A lampreia-do-nabão (Lampetra auremensis), que vive apenas neste afluente do rio Tejo, e o ruivaco-do-oeste (Achondrostoma occidentalis), presente apenas nalgumas pequenas ribeiras da Zona Oeste, são dois dos peixes Criticamente em Perigo que correm o risco mais sério de se extinguirem nos próximos anos se nada for feito. Juntamente com a lampreia-do-sado (Lampetra lusitanica), são também espécies que existem apenas em território português, pelo que o seu possível desaparecimento irá significar que deixam de existir no mundo todo.
Entre as seis espécies agora avaliadas para Portugal continental que se concluiu estarem Criticamente em Perigo, o último degrau possível antes da extinção, constam ainda três peixes migradores, que vivem entre os rios e o mar, e não são exclusivos do território nacional: lampreia-de-rio (Lampetra fluviatilis), salmão-do-atlântico (Salmo salar) e truta-marisca (Salmo trutta).
Estes são alguns dos resultados obtidos ao fim de cinco anos do projecto do Livro Vermelho dos Peixes de Água Doce e Migradores de Portugal, que se concluiu esta quarta-feira com uma cerimónia na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Ao todo, a equipa encontrou um total de 26 espécies ameaçadas de extinção, das 43 que foram avaliadas de acordo com os critérios e categorias da União Internacional para a Conservação da Natureza.
A verdade é que muitas espécies estão apenas um pouco melhor do que as seis no topo das mais ameaçadas. Assim, foram encontrados 15 peixes Em Perigo – incluindo seis espécies que em todo o mundo vivem apenas em rios portugueses, como a boga-do-sudoeste (Iberochondrostoma almacai) e a boga-portuguesa (Iberochondrostoma lusitanica). Já outras cinco espécies, incluindo a lampreia-marinha (Petromyzon marinus), estão com um estatuto Vulnerável.
Feitas as contas, nove das 10 espécies que existem apenas em rios portugueses enfrentam um risco de extinção extremamente ou muito elevado. E os investigadores confirmaram também o que já se sabia desde 2005, quando foi publicado o Livro Vermelho dos Vertebrados: o esturjão é uma espécie extinta em Portugal.
Uma boa parte dos problemas que afectam estas espécies devem-se à falta de mobilidade de muitas delas: como sobrevivem apenas nalguns rios, estes acabam por actuar como pequenas ilhas, e a sua área de distribuição é assim muito reduzida. Assim, esses peixes ficam à mercê de ameaças como a regularização dos rios e a captação de água – os dois principais problemas encontrados pelo projecto – mas também a construção de barragens, a poluição vinda das habitações e das explorações agrícolas e florestais e ainda as alterações climáticas.
O livro que vai reunir toda esta informação irá estar disponível até ao final do Verão. Para breve, espera-se também a entrada em funcionamento do novo SNIPAD, uma base de dados digital aberta ao público, que vai reunir toda a informação agora conseguida e ajudar também a identificar espécies de peixes.
Este Livro Vermelho foi coordenado por investigadores do cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais e do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, em parceria com o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas.