Foto: Jordi Chias/Fundação Oceano Azul

Monte Gorringe: Cientistas detetaram uma rara concentração de raias elétricas, mas ausência preocupante de tubarões

Início

Mais de 40 espécies foram registadas pela primeira vez nesta montanha subaquática, ao longo das três semanas que demorou a expedição científica concluída no último sábado, dia 28 de setembro, cujos resultados vão contribuir para a gestão desta área marinha protegida.

Num total de pelo menos 200 espécies marinhas encontradas nesta montanha subaquática com 5000 metros de altura, a expedição iniciada a 7 de setembro deparou-se com mais de 40 espécies observadas pela primeira vez nesta área marinha protegida situada a 200 quilómetros da Ponta de Sagres, dentro da Zona Económica Exclusiva de Portugal continental. Ali, uma equipa composta por 28 centistas nacionais e internacionais encontrou “jardins de corais e florestas marinhas ricas, oásis de biodiversidade”.

Alguns dos peixes observados na expedição científica ao Monte Gorringe, incluindo uma raia (foto inferior). Fotos: Jordi Chias/Fundação Oceano Azul

Num balanço divulgado em comunicado, a Fundação Oceano Azul, um dos promotores da expedição científica, destacou uma concentração “enorme e rara” de raias elétricas, chamadas também de tremelgas, todas fêmeas e muitas delas grávidas, o que significa que esta zona do Atlântico pode ter um “papel essencial” para estes animais marinhos.

Em contrapartida, os investigadores depararam-se com uma ausência “preocupante” de grandes predadores, nomeadamente tubarões, e de espécies comerciais. Admite-se que essa situação possa ser consequência de atividades de pesca, mas o assunto deverá ser abordado com mais detalhe num relatório científico que será produzido pela equipa até ao final do ano.

Peixe-lua captado por um sistema de câmara com isco, para observação da megafauna durante a expedição ao Monte Gorringe

Durante os trabalhos foram observados tanto o golfinho-roaz como a tartaruga-comum, ambos ameaçados de extinção, tal como três espécies diferentes de baleias-de-bico, “raras e muito difíceis de estudar” – estas últimas vistas na envolvente do monte marinho. A equipa apercebeu-se também de que o Monte Gorringe é uma área “importante” para o golfinho-pintado, entre outros mamíferos marinhos.

“Esta foi a maior expedição científica centrada na cartografia detalhada da ocorrência de espécies, muitas com estatuto de conservação.” Os números ainda preliminares apontam para um total de pelo menos sete espécies de cetáceos registadas, 12 espécies de aves marinhas, 55 espécies de algas e 12 de corais, 36 espécies de peixes e 523 tipos diferentes de invertebrados.

Mergulhadores (foto superior) e peixes registados no Monte Gorringe. Fotos: Jordi Chias/Fundação Oceano Azul

“As amostras recolhidas serão analisadas em laboratório e por especialistas nos diferentes grupos de animais e plantas, antecipando-se muitos registos novos para este monte submarino”, acrescentou também a Fundação Oceano Azul. Entre as entidades envolvidas estiveram o CCMAR da Universidade do Algarve, o CESAM da Universidade de Aveiro, o CIBIO e CIIMAR da Universidade do Porto, o MARE – Politécnico de Leiria e a OKEANOS da Universidade dos Açores. Ao longo dos próximos meses, está prevista também a realização de “muitos estudos de biologia, ecologia e genética pelos parceiros científicos envolvidos”.

Navio Santa Maria Manuela, expedição ao monte Gorringe. Foto: Helena Geraldes/Wilder

Medidas de proteção do Monte Gorringe

Os resultados dea expedição serão uma peça importante para a definição das medidas de proteção que irão gerir esta zona especial de conservação, que faz parte da Rede Natura 2000. Prevê-se que seja proposta a proteção total do Gorringe.

Além da Fundação Oceano Azul, a expedição foi promovida pelo Oceanário de Lisboa, pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas e pela Marinha. Os trabalhos foram liderados por Emanuel Gonçalves, responsável científico e administrador da Fundação Oceano Azul, e por Henrique Cabral, investigador no Institut Nacional de Recherche pour l’Agriculture, l’Alimentation et l’Environment em França.

Ao longo das três semanas, a equipa recorreu a diferentes métodos, incluindo o mergulho científico, drones, sistemas de câmaras de vídeo com isco para estudo da megafauna e um veículo operado de forma remota, o que “permitiu aceder a zonas que até hoje eram desconhecidas”. Realizaram-se ainda trabalhos nas área de bioacústica e de cartografia dos fundos marinhos, em colaboração com o Instituto Hidrográfico e o Instituto Português do Mar e da Atmosfera.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

Don't Miss