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Chapim-azul. Foto: Ann/Pixabay

Machos de chapim-azul com crias fora do casal têm penas mais bonitas

18.03.2020

Os machos de chapim-azul com crias fora do casal melhoram a coloração da sua plumagem para a próxima temporada reprodutora, apesar dos custos deste comportamento, ou seja, terem mais parasitas, descobriu uma equipa de investigadores.

 

Ainda que muitas aves acasalem de forma aparentemente estável e de serem monógamas, ter descendência fora do casal é um comportamento muito comum.

Investigadores do Museu Nacional espanhol de Ciências Naturais (MNCN-CSIC) quiseram saber mais sobre como as aves seleccionam o parceiro. Para isso, olharam para o chapim-azul (Cyanistes caeruleus).

O pequeno chapim-azul é, sem dúvida, um dos passarinhos mais engraçados e ativos que podemos encontrar. É fácil de detectar entre os verdes da vegetação, graças ao seu barrete azul no alto da cabeça e ao peito e barriga amarelos.

 

Chapim-azul. Foto: TheOtherKev/Pixabay

 

Esta ave, que pode chegar aos 12 centímetros de comprimento, é capaz de admiráveis acrobacias em cima das árvores e muitas vezes pendura-se de cabeça para baixo.

Agora, num artigo científico publicado recentemente na revista Evolution, os investigadores concluíram que os machos de chapim-azul que têm descendência fora do casal sofrem de mais infecções por parasitas sanguíneos mas mantêm uma plumagem de alta qualidade, mais vistosa. Esta plumagem facilitará que estes machos tenham uma maior descendência na temporada reprodutora seguinte.

Tal como o esperado, os machos com paternidade fora do casal têm mais crias.

Segundo as teorias evolutivas de adaptação, as fêmeas podem escolher machos fora do casal que ostentem sinais de alta qualidade (plumagem mais vistosa e brilhante ou melhor condição física).

Assim, apesar de escolherem um determinado parceiro, as fêmeas procuram ter descendência com machos de maior qualidade fora do casal, para garantir a qualidade das suas crias.

 

Chapim-azul. Foto: Ann/Pixabay

 

Neste estudo foi confirmado durante duas temporadas que os machos de melhor qualidade, machos adultos que desenvolveram uma plumagem mais brilhante, tinham maior êxito reprodutor. Os investigadores analisaram ainda durante três temporadas se os padrões de acasalamento afectavam as alterações de coloração das penas destas aves.

“Os nossos resultados confirmam que os machos com penas de um amarelo mais intenso e cores mais brilhantes na face e na cauda, assim como aqueles que estavam em melhores condições físicas, tiveram maior êxito reprodutivo”, disse, em comunicado enviado ontem à Wilder, Elisa Pérez Badás, investigadora da Universidade de Groningen (Holanda) que realizou esta investigação durante a sua estadia no MNCN.

“Numa das temporadas, contrariamente ao que esperávamos, os machos que tiveram mais cópulas fora do casal estavam mais parasitados, o que sugere que a sua exposição é maior ao entrar em contacto com mais fêmeas ao visitar ninhos potencialmente infectados”, salientou Pérez Badás.

Mas, apesar da maior parasitação, esses mesmos machos continuaram a produzir penas de cores mais vivas que facilitam ter crias fora do casal.

“De acordo com estes resultados, em aves aparentemente monógamas, a paternidade fora do casal vê-se favorecida pela selecção natural através de mecanismos de selecção sexual, isto apesar do risco de contraírem mais parasitas”, concluiu Santiago Merino, director do MNCN, que também participou no estudo.

 

[divider type=”thick”]Siga a investigadora Elisa Pérez Badás na sua página no Twitter

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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