Pequenos desajustes entre a disponibilidade de alimento no oceano e a época de reprodução do painho-de-cauda-quadrada, causados pelas alterações climáticas, podem ter graves consequências para a espécie, alerta um novo estudo científico.
As consequências das alterações climáticas podem ser imprevisíveis para muitos animais. Um estudo publicado hoje na revista Proceedings of the Royal Society B dá as primeiras provas quantitativas do possível efeito dessas alterações nas populações de aves marinhas.
Os investigadores da Estação Biológica de Doñana e do Instituto Mediterrâneo de Estudos Avançados estudaram as colónias de uma ave marinha, o painho-de-cauda-quadrada ou alma-de-mestre (Hydrobates pelagicus). Esta é uma pequena ave marinha que voa rente à superfície do mar. Raramente se vê a partir de terra.
“Este painho é uma espécie que passa despercebida por causa do seu pequeno tamanho e pelos seus hábitos nocturnos”, explica Francisco Ramírez, investigador do Conselho Superior de Investigação Científica (CSIC) na Estação Biológica de Doñana, coordenador do estudo. “Mas esta espécie pode ser a chave para identificar as possíveis alterações no ecossistema marinho e entender as suas consequências.”
Os investigadores comprovaram que as mudanças ambientais afectam o seu êxito reprodutor.
O painho, assim como muitas outras espécies, evoluiu para adaptar os seus ciclos vitais aos padrões da produtividade marinha. “Por isso, o período reprodutor desta e de outras espécies acontece na Primavera, porque é quando se produz o pico anual da disponibilidade de alimento (fitoplâncton, zooplâncton e ictioplâncton)”, explica outra co-autora do estudo, Ana Sanz-Aguilar, do Instituto Mediterrâneo de Estudos Avançados. Há mais de 20 anos que os investigadores deste instituto estudam uma colónia desta espécie de painhos na ilha de Benidorm.
No estudo agora publicado, os investigadores demonstram que pequenos desajustes entre o ciclo reprodutor e os padrões de produtividade marinha podem fazer a diferença entre o êxito e o fracasso na reprodução destas aves. “Estes desajustes podem ter grandes implicações para a conservação das espécies no actual contexto de alterações climáticas. Os ciclos de produtividade marinha estão a mudar e isto pode implicar graves consequências para a dinâmica e viabilidade não apenas de aves marinhas mas de muitas outras espécies que fazem parte destes ecossistemas”, conclui Francisco Ramírez.
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Conheça aqui o Atlas das Aves Marinhas, lançado na edição impressa a 16 de Novembro. A Wilder falou com a coordenadora do Departamento de Conservação Marinha da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea).