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gaio com uma semente no bico
Gaio. Foto: Jerzystrzelecki / Wiki Commons

Lançada campanha para promover sementeira de carvalhos por aves

28.11.2017

A Montis – Associação para a Gestão e Conservação da Natureza lançou uma campanha de crowdfunding no valor de  2.300 euros para promover um programa de sementeira de bolotas de carvalhos através dos gaios, aves que recolhem e armazenam bolotas.

 

A campanha “Sai o que semeia a semear”, a decorrer de 27 de Novembro a 15 de Dezembro, quer angariar financiamento para uma série de acções a realizar nas propriedades geridas para a Biodiversidade pela Montis. Até ao momento, 23 apoiantes já angariaram 535 euros.

Estas acções visam potenciar a sementeira de bolotas por gaios. Estas são aves que costumam recolher e armazenar bolotas no Inverno para as recuperar na Primavera e alimentar as crias. Segundo a Montis, “um único gaio pode esconder três a cinco mil bolotas num só Inverno”, escolhendo “as maiores e de melhor qualidade”.

 

gaio com uma semente no bico
Gaio. Foto: Jerzystrzelecki / Wiki Commons

 

Mas muitas dessas bolotas acabam esquecidas na floresta, podendo dar origem a novas árvores. Este projecto da Montis quer disponibilizar bolotas de acesso fácil e diminuir a concorrência de outros grandes comedores de bolotas (os ratos e os javalis, por exemplo).

A campanha quer “dar maior expansão e consistência a uma experiência feita este ano com base no trabalho de Luis Maurer, um estagiário alemão que esteve” na Montis. A associação considera interessante utilizar “processos naturais para reforçar a expansão dos carvalhais, tirando partido do comportamento de uma espécie de ave para fazer sementeiras de forma muito barata e fácil de replicar por qualquer pessoa”.

Concretamente, o projecto quer financiar a recolha e colocação das bolotas nos tabuleiros e a criação e a colocação de tabuleiros cheios de bolotas em locais onde se pretende aumentar o número de carvalhos. “Os tabuleiros são desenhados para serem inacessíveis a roedores e outros animais.”

Serão precisos quatro fins-de-semana voluntários, envolvendo 20 pessoas.

O uso dos tabuleiros pelos gaios varia, razão pela qual o projecto inclui a compra de algumas câmaras de armadilhagem fotográfica para se obter informação sobre as condições que pareçam mais favoráveis.

A colocação dos tabuleiros está prevista em todas as propriedades da Montis no Outono de 2018, na próxima estação favorável para a apanha de bolota.

Além dos efeitos concretos de conservação, a “Montis pretende usar esta técnica para envolver pessoas comuns na recolha de bolota e colocação nos tabuleiros, aumentando o contacto e conhecimento sobre as interacções no mundo natural através de uma tarefa pouco exigente, demonstrando a utilidade dos diferentes elementos presentes nos ecossistemas e a vantagem em ter sistemas naturalizados tão diversos e complexos quanto possível.”

Todo o dinheiro angariado que exceda o montante estabelecido para a campanha será aplicado na recuperação pós-fogo do Parque Natural Vouga-Caramulo.

A Montis é uma Organização Não Governamental, sedeada em Vouzela, (Viseu), que tem como objectivo gerir territórios com relevância para a conservação dos valores naturais. Tem concentrado a sua atividade especialmente nas serras envolventes do rio Vouga mas também noutros locais do território nacional. Os objetivos centrais são garantir o desenvolvimento dos processos naturais, promover a conservação de espécies autóctones, gerir de forma inteligente os fogos florestais e outros riscos naturais, aumentando o valor de mercado da biodiversidade.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Descubra aqui por que os gaios escondem bolotas no Outono.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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