Gato-bravo (Felis sylvestris). Foto: Lviatour/WikiCommons

Investigadores receiam que gato-bravo já esteja extinto na província de Cádiz

25.02.2025

Em cinco anos de estudo, uma equipa de investigadores espanhóis não conseguiu nenhum registo de gato-bravo na região de Cádiz. Concluem que a espécie se terá extinguido ou que esteja próxima de desaparecer.

 

A situação do gato-bravo (Felis silvestris) na Península Ibérica não é toda igual. Se as populações do Norte são, no geral, saudáveis, as populações do Centro e Sul estão muito fragmentadas ou em declínio.

Uma equipa de investigadores – Francisco Javier Gómez-Chicano, Eduardo Briones e Pablo Ferreras – quis saber mais sobre o gato-bravo na província espanhola de Cádiz e para isso foi à procura deste mamífero em propriedades públicas e privadas, em especial nos parques naturais de Los Alcornocales e da Sierra de Grazalema.

O estudo foi realizado pela Sociedad Gaditana de Historia Natural (SGHN), Instituto de Estudios Campogibraltareños (IECG) e pelo Instituto de Investigación en Recursos Cinegéticos (IREC).

Os investigadores usaram várias metodologistas. Falaram com as populações locais, procuraram vestígios do animal e estiveram atentos aos registos de animais atropelados nas estradas de Cádiz, desde Maio de 2018 a Janeiro de 2024. Também analisaram o arquivo das colecções da Estação Biológica de Doñana.

Mas de entre as metodologias deste estudo, publicado no final de 2024 na revista científica Galemys, publicação da Sociedade Espanhola para a Conservação e Estudo dos Mamíferos (Secem), a foto-armadilhagem foi a mais usada. Entre Abril de 2018 e Junho de 2023 instalaram 240 câmaras de foto-armadilhagem.

“Durante os cinco anos do estudo obtivemos 5.184 registos de meso-carnívoros mediante foto-armadilhagem de oito espécies selvagens e uma doméstica, mas não conseguimos nenhum registo de gato-bravo”, escreveram os autores do artigo.

Foram registadas oito espécies selvagens, sendo algumas das mais frequentes a raposa, a gineta e o texugo, e uma doméstica (gato doméstico).

“Também não encontrámos registos de atropelamentos da espécie nas estradas daquela província nos últimos três anos”, acrescentaram.

Na verdade, o último registo fiável de gato-bravo na região é do ano 2000.

“Perante os resultados obtidos com as diferentes metodologias, concluímos que a população de gato-bravo poderá ter-se extinguido ou estar próxima de desaparecer” na província de Cádiz, escreveram os investigadores.

As causas possíveis são várias, desde a perda e fragmentação do habitat, a alterações no uso do solo, ao atropelamento e captura em armadilhas ilegais (para controlo de predadores), diminuição de presas (nomeadamente o coelho-bravo) e à hibridação com o gato doméstico e à transmissão de doenças por parte deste.

Mas não há certezas. “Como em tantas outras espécies que viram desaparecer as suas populações sem se conhecerem as causas, não sabemos quais as razões da regressão do gato-bravo na província de Cádiz, entre outros motivos pela falta de seguimento por parte da administração e da comunidade científica”, lamentaram os autores do estudo.

E concluíram: “Perante os resultados obtidos, consideramos pouco provável que restem gatos-bravos em algum lugar da província de Cádiz ou que esta possa vir a ser colonizada num futuro próximo com exemplares procedentes de outras províncias limítrofes, já que as escassas populações conhecidas na Andaluzia estão demasiado distantes.”

Neste estudo, os investigadores defendem novos estudos para “avaliar a situação da espécie, incluindo estudos genéticos e sanitários,” e “medidas para a sua protecção e recuperação”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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